Entenda como Faustão conseguiu novo coração em 19 dias
Foto: DivulgaçãoTuesday, 29 August 2023
Apresentador passou 23 dias internado antes de receber um coração novo; entenda a doença e o porquê da agilidade no processo.
Internado desde 5 de agosto com um quadro de insuficiência cardíaca, o apresentador de TV Fausto Silva, o Faustão, de 73 anos, recebeu um coração novo no domingo (27.ago.2023) depois de passar 20 dias na fila do transplante.
A doença limita a quantidade de sangue que o coração é capaz de bombear para o corpo. Segundo o Hospital Israelita Albert Einstein, onde ele está internado, a operação durou cerca de 2h30 e foi realizada “com sucesso”.
A esposa de Faustão, Luciana Cardoso, afirmou na 2ª feira (28.ago) que ele entrou na fila de espera pelo órgão em 8 de agosto, poucos dias depois de ser internado. Cardoso diz que, desde a 1ª internação do apresentador, a família já sabia que um transplante seria necessário.
A agilidade do processo até o transplante levantou questionamentos sobre as etapas passadas por Faustão para conseguir o novo coração, já que há pacientes que esperam mais tempo para receber a doação. Parte dos críticos sugeriu que o apresentador teria furado a fila de espera pelo órgão.
No entanto, a coordenadora do SNT (Sistema Nacional de Transplantes), Daniela Salomão, não vê essa rapidez como algo a ser posto em dúvida, mas sim como uma prova de que o sistema funciona.
“Primeiro que, para nós, é um orgulho atender à demanda dos nossos pacientes no menor tempo possível. Segundo, que não é excepcional que 1 paciente de transplante cardíaco seja contemplado em menos de 30 dias”, diz.
De acordo com Salomão, a estrutura da doação de órgãos no Brasil é uma “lista muito dinâmica”, que pode ser alterada diariamente, sempre seguindo diversos critérios técnicos, entre eles a gravidade do quadro do paciente.
O PASSO A PASSO DE UM TRANSPLANTE
O SNT (Sistema Nacional de Transplantes) é a estrutura do Ministério da Saúde responsável por regulamentar, controlar e monitorar o processo de doação e transplantes no Brasil. O procedimento tem como base legal a chamada Lei dos Transplantes (9.434/1997) e o decreto 9.175/2017.
A lista é única tanto para pacientes da rede pública quanto da privada e a lista para o recebimento de órgãos é ordenada pelo próprio sistema do Ministério da Saúde, depois de o potencial receptor ser incluído por médico com autorização vigente concedida pelo SNT.
“Todo paciente, público ou privado, que precise de um transplante, ele tem que ser cadastrado nesse sistema […] Ninguém entra no sistema para mudar ou para, de alguma forma, privilegiar algum paciente. As regras são claras, são regras técnicas, publicadas em portaria. O sistema funciona de acordo com as regras”, afirma Daniela Salomão.
O QUE É INSUFICIÊNCIA CARDÍACA?
A insuficiência cardíaca ocorre quando o músculo do coração fica fraco e dilatado, perdendo sua função e limitando o bombeamento de sangue para o restante do corpo.
Segundo Carolina Casadei dos Santos, cardiologista da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) e especialista em insuficiência cardíaca, são várias as possíveis causas da doença, como infarto, hipertensão, doença de Chagas, miocardite, entre outras agressões ao coração.
Ainda conforme a especialista, essa é uma doença grave, mas comum no Brasil e no mundo. Contudo, apesar de frequente, a maioria dos pacientes pode tratar a insuficiência cardíaca com remédios que bloqueiam o mecanismo da doença –por exemplo, impedindo a dilatação do músculo cardíaco.
Ou seja, não são todos os pacientes com insuficiência cardíaca que passam pela internação ou necessitam de transplante, sendo esse o desfecho apenas para casos mais extremos.
“Alguns pacientes, apesar dos remédios, não respondem ao tratamento e a doença continua evoluindo“, explica Santos. “Nesses casos, é avaliado se o paciente tem indicação de transplante.”
Conforme a cardiologista, a indicação é feita nos casos de pacientes que, mesmo medicados corretamente, ainda têm sintomas da doença, como cansaço, falta de ar, inchaço nas pernas ou necessidade de diálise, como no caso de Faustão.
O TRANSPLANTE DE FAUSTÃO
A agilidade no processo do transplante de Fausto Silva, que passou 19 dias aguardando o procedimento, levantou questionamentos sobre a possibilidade de o apresentador ter “furado a fila”. A questão, porém, foi desmentida pela coordenadora do SNT.
“Isso não é algo incomum [receber o órgão rapidamente]. Nós temos diversos pacientes que tiveram a sorte de serem contemplados em 24 horas. É um sistema que funciona excepcionalmente”, afirma Salomão.
Segundo ela, o sistema de transplante brasileiro não permite que 1 paciente passe na frente de outros pelo fato de ser uma pessoa pública. Ter dinheiro ou estar internado em hospital particular também não influencia na rapidez do procedimento.
“Não é o plantonista que está no dia, não é a equipe de transplante que gerencia a lista. O sistema de transplante brasileiro tem regras muito claras e a informação sobre poder aquisitivo ou popularidade da pessoa na sociedade não são critérios técnicos utilizados pelo sistema”, disse a coordenadora do SNT.
Outra característica que assegura confiabilidade na isonomia da doação de órgãos é a separação dos sistemas –ou seja, não são as mesmas equipes que têm acesso às diferentes etapas do processo, que contemplam informações sobre o doador, o receptor e o transplante em si.
O debate, principalmente na internet, fez com que o Ministério da Saúde divulgasse uma nota sobre o caso. A pasta afirma que Faustão foi “priorizado na fila de espera em razão de seu estado muito grave de saúde”, o que é previsto na norma.
CRITÉRIOS PARA O TRANSPLANTE
Um dos fatores de análise da lista é a gravidade do quadro de saúde. Para Carolina Santos, “se um paciente está na fila, mas consegue aguardar em casa, com os remédios, é diferente de um paciente que precisa aguardar internado, com remédio 24h, para ajudar o coração a bater”.
Outros fatores que também influenciam na prioridade da lista de transplantes são: tipagem sanguínea, idade, compatibilidade de peso e altura, há quanto tempo o paciente foi inserido na lista, etc. Segundo Salomão, os critérios não são considerados isoladamente, mas em conjunto para formar um “score” do paciente conforme a gravidade de seu quadro.
“A 1ª coisa que precisamos é mudar nossa prática de comunicação. Parar de falar fila. O transplante não tem uma ordenação de fila –que é aquele um atrás do outro”, diz Salomão.
Segundo dados do Ministério da Saúde, até 2ª feira (28.ago), 379 pessoas aguardam por um transplante de coração no país.
Só no 1º semestre de 2023, foram transplantados 206 corações no país. O número representa um crescimento de 16% em relação ao mesmo período de 2022. Os números constam em painel do SUS (Sistema Único de Saúde).