Páscoa: uma jornada de Fé e tradições

Friday, 18 April 2025
Desde suas origens mundiais históricas até suas demandas contemporâneas em Blumenau, a data é a representação de que Cristo vive.
A Páscoa, celebrada em pleno outono blumenauense, é muito mais do que ovos de chocolate e coelhinhos. É um mosaico de tradições ancestrais, fé profunda e adaptações culturais que ecoam desde os tempos bíblicos até a contemporaneidade. Nossa jornada pela história dessa data revela uma tapeçaria rica e multifacetada, com fios judaicos, cristãos e até mesmo pagãos entrelaçados.
Para os judeus, a Pessach, ou Páscoa, comemora o Êxodo do Egito, a libertação da escravidão e o nascimento de sua nação. Há milênios, famílias se reúnem para o Sêder, uma refeição ritualística que relembra a "passagem" divina sobre as casas israelitas e a fuga apressada com pães ázimos e ervas amargas.
No mesmo período, séculos depois, os cristãos encontraram na Páscoa judaica o palco para os eventos centrais de sua fé: a Última Ceia, a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo. Para eles, Jesus se tornou o Cordeiro Pascal, cujo sacrifício libertou a humanidade do pecado. A ressurreição, celebrada com fervor no Domingo de Páscoa, simboliza a vitória sobre a morte e a promessa de vida eterna.
Curiosamente, a própria palavra "Easter" em inglês e "Ostern" em alemão pode ter raízes na figura pagã de Ostara (ou Eostre), uma deusa germânica associada à primavera, ao renascimento e à fertilidade. Embora as evidências diretas sejam escassas, a época da Páscoa coincide com celebrações da primavera em diversas culturas antigas, e alguns símbolos pascais podem ter se originado desses rituais.
Uma Viagem no Tempo
Na Antiguidade, a Páscoa cristã focava intensamente na Paixão e Ressurreição de Cristo, com jejum, penitência e a solene Vigília Pascal. A data da celebração foi um ponto de debate inicial, unificado posteriormente no Concílio de Niceia.
A Idade Média viu a Páscoa se enriquecer com elaboradas liturgias da Semana Santa, a formalização da Quaresma e a incorporação de costumes populares, como a decoração de ovos e os primeiros banquetes festivos. O Teatro Litúrgico também começou a surgir, encenando a Ressurreição.
Durante a Renascença, a arte e a cultura florescente da época se integraram às celebrações pascais. As igrejas eram ricamente decoradas, e a música sacra ganhava novas composições, enquanto a tradição dos ovos decorados continuava a se difundir.
O Coelho e os Ovos: Símbolos de Renovação
O coelho, símbolo de fertilidade em diversas culturas pagãs, associou-se à Páscoa como o misterioso portador dos ovos. Já o ovo, presente em rituais de primavera como prenúncio de vida nova, ganhou no cristianismo o significado do túmulo de Cristo, de onde Ele ressuscitou.
A tradição dos ovos coloridos surgiu nos primeiros séculos do Cristianismo na Mesopotâmia, com o vermelho representando o sangue. Esses ovos de galinha decorados eram presenteados e escondidos para as crianças procurarem.
A substituição pelos ovos de chocolate começou na França no século XVIII, com confeiteiros recheando cascas de ovos. A produção em escala industrial e a popularização ocorreram no século XIX, tornando o ovo de chocolate o símbolo pascal mais comercializado.
A tradição chegou às Américas com os colonizadores europeus a partir do século XV, e ao Brasil, principalmente com os imigrantes alemães e suíços no século XX. A Chocolates Garoto foi uma das pioneiras na produção em larga escala no Brasil, por volta da década de 50.
A Páscoa em Blumenau: Ontem e Hoje
Em Blumenau, a forte herança alemã moldou as celebrações pascais. Antes da popularização dos ovos de chocolate industrializados, a Páscoa era marcada pela decoração artesanal de ovos de galinha, pela animada caça aos ovos, pela figura folclórica do coelho, pelos cultos religiosos, pela culinária especial e pela beleza da Osterbaum, a árvore de Páscoa enfeitada com cascas coloridas. A Osterfeuer, a fogueira pascal, também marcava a chegada da primavera em algumas comunidades.
Hoje, embora os ovos de chocolate dominem as prateleiras, a tradição clássica ainda resiste em muitas famílias blumenauenses, que valorizam a pintura dos ovos, a reunião familiar e os significados religiosos da data. A modernização trouxe a conveniência e a variedade dos chocolates, mas a essência da celebração, com suas raízes profundas, permanece viva.
Contudo, muitos notam uma diferença na qualidade do chocolate atual em comparação com décadas passadas. Mudanças na legislação, foco no custo, adaptação ao paladar mais doce e a substituição de ingredientes nobres como a manteiga de cacau podem ter contribuído para essa percepção.
Uma Homenagem Eterna:
Em meio às cores dos ovos, à doçura do chocolate e à alegria dos encontros familiares, a Páscoa exige um tempo de profunda reflexão e renovação da fé para os cristãos. É um momento para lembrar o sacrifício supremo de Jesus, sua entrega incondicional por amor à Humanidade e a gloriosa ressurreição que trouxe esperança e salvação ao mundo. Que a luz da sua vitória continue a iluminar os corações em Blumenau e em toda a parte, renovando a fé e a esperança em cada amanhecer.