Como se proteger das fakenews?

Como se proteger das fakenews?
Foto: Imagem meramente ilustrativa

Monday, 25 June 2018

Papas visitando ex-presidentes, militares dando golpe de estado e cobranças indevidas por e-mail são um mal que apesar de ser tratado como novidade é algo que sempre houve: boato.

Desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou o termo ‘fakenews’ durante uma coletiva de imprensa para se defender/atacar jornalistas, a palavra ganhou uma conotação gigantesca e vem sendo encarada com um grande ‘vilão’ da comunicação moderna.

O Congresso tenta legislar para resguardar o mínino de segurança nas informações, o Supremo tenta censurar notícias que (muitas vezes) soam mais como advogar em causa própria, palestras são dadas sobre como lidar com o que vem sendo tratado como fenômeno, mas a verdade é que notícias falsas sempre existiram. O boato nasceu quando a humanidade aprendeu a se comunicar.

Antigamente, como a elitização da imprensa e os limites de opinião individual, era uma prática restrita às fofocas que muitas vezes destruíam irremediavelmente a reputação de alguém com mentiras. Depois, quando as opiniões dos antes respeitados jornais, passaram a ter preço, editoriais começaram a defender mais quem investia neles do que na verdade.

De forma não muito diferente emissoras de televisão, como a Rede Globo – que já foi um baluarte da credibilidade – começaram a se preocupar mais com a popularidade do que com a credibilidade, com isso, perdendo ambas gradativamente para novas mídias.

A internet, infelizmente, se tornou um espaço fértil para falsas notícias. Sites mantidos por fundos desconhecidos defendem fervorosamente bandeiras e fazem acusações graves, ou então propagam informações mentirosas que depois acabam sendo desmentidas por outros sites criando uma terrível confusão: qual deles está falando a verdade?

A mais recente dessas confusões foi a notícia de que o Papa Francisco havia mandado um terço ao ex-presidente Lula (PT) em manifestação de apoio. Diversos sites, blogs e redes sociais replicaram o texto. Depois o Vaticano veio a desmentir o rumor, dizendo que a entrega do terço partiu da iniciativa pessoal do advogado argentino Juan Grabois, sem nenhuma relação com o papa. Pouco depois o mesmo site, endossado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – cujo posicionamento político por vezes é questionável se comparado à sua função – emitiu nova nota fazendo pequenas correções na anterior, mas deixando no ar se a visita teria ou não cunho pessoal. Contudo esse assunto é desimportante.

Se o papa é amigo ou não do ex-presidente não muda – em tese – a situação. E, certamente, o Vaticano não cometeria um atentado contra a soberania das instituições brasileiras.

Mas há fakenews que são preocupantes, porque são rotineiras. Afetam o seu dia-a-dia.

Na maioria das vezes elas se alastram por redes sociais. O Facebook, por exemplo, se tornou território fértil para elas quando parou de priorizar postagens de páginas nas timelines de seus usuários (para forçar que administradores pagassem para impulsionar publicações) em favor a postagens de usuários, muitas vezes de cunho pessoal, distorcido e até preconceituoso.

Duas falsas notícias que preocuparam muitas pessoas semanas atrás foram a de que o Exército daria um golpe de Estado e a de que, logo após a greve dos caminhoneiros, uma nova começaria. Ambas foram alastradas como fogo em rastilho de pólvora pelo WhatsApp.

Mas não é difícil saber quando uma notícia é falsa ou não.

Comecemos pelo fato de quem um áudio gravado por um desconhecido e enviado pelo Whats não tem credibilidade nenhuma. No caso do áudio sobre o golpe militar algumas perguntas bem simples mostravam a mentira: quem era a pessoa gravando? Era militar? Qual patente? Lotado em que batalhão? Qual sua unidade? Quem é seu comandante? De quem partiu a autorização para que ele espalhasse a notícia? Quando nenhuma dessas respostas é tida – e sequer sabe-se a cidade onde mora o interlocutor – há grandes chances de não ser verdade. O próprio jeito de falar e palavras usadas pela pessoa não correspondiam ao vocabulário de um militar.

Mas assim como um áudio pode te enganar – ou um texto que diz que o cantor Bono Vox (U2) estaria no julgamento do Lula – um vídeo também pode ser editado para que o resultado final seja algo completamente diferente do que for originalmente captado pelas lentes das câmeras.

O fato é que os únicos que podem combater essa prática tão antiga quanto abjeta quanto as falsas notícias somos nós mesmos: nos informando e checando as informações. Mesmo aqui, no BLUMENEWS. Leu a notícia? Escandalizou? Procure confirmá-la em outras fontes. Garantimos que trabalhamos apenas coma verdade e, portanto, incentivamos você a investigar.

Mas lembre-se: o mais confiável meio de checagem ainda são os órgãos oficiais. Alguém disse que sua rua está desmoronando? Ligue para a prefeitura. Recebeu uma carta dizendo que vai entrar no SPC por conta de uma dívida? Procure seu banco ou sua operadora de crédito. Leu que vão instalar novos pedágios na estrada? Entre em contato com a concessionária da rodovia.

É isso que a imprensa faz desde que surgiu. Conversa com as pessoas certas. O problema é que nem sempre publica aquilo que ouviu. Então acredite menos. Questione mais. E busque respostas. Não as espere mastigadas. Só você pode dizer no que deve (ou quer) acreditar.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE