Se você estiver emocionalmente abalado, não dirija!
Foto: ReproduçãoTuesday, 18 April 2017
Leia o texto e conheça a programação da Semana de Valorização da Vida, promovida pelo CVV, em Blumenau durante o Maio Amarelo.
Se beber não dirija, se estiver com sono não dirija, se estiver com a documentação do veículo pendente ou licenciamento ou sem CNH, não dirija. Esses são os apelos mais comuns em forma de campanha, de slogans ou de recomendações dos profissionais da segurança no trânsito. Mas, um alerta muito importante que costuma passar batido é: se estiver emocionalmente abalado, não dirija.
Segundo o CVV (Centro de Valorização da Vida) e cuja sigla também traduz 'Como Vai Você', apoiados em estudos da Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em colocar um fim à própria vida. Destes, 4,8% chegaram a planejar o suicídio. No Brasil, 25 pessoas por dia tiram a própria vida por motivos diversos, mas o maior dele, é não conseguir lidar com as dificuldades. Muitos familiares e amigos, sentindo-se culpados por não ter conseguido perceber o sofrimento do suicida, acabam se suicidando também, e isso pode ser evitado.
E este é, justamente, o tema do CVV em sua atuação conjunta, parceria, com o Maio Amarelo 2017 (e para os anos vindouros) em Blumenau e em todo o estado de Santa Catarina, por um motivo muito simples: muitos acidentes de trânsito não são acidentes, mas sim, resultado de distúrbios emocionais temporários ou permanentes. Aquela briga em casa, a discussão no trabalho, um desentendimento ou até um mal entendido, separações, a notícia de que alguém se acidentou ou faleceu, depressão, Síndrome do Pânico, dentre outros casos na vida cotidiana podem ser a gota d’ água para uma pessoa emocionalmente fragilizada. Em alguns casos, acidentes de trânsito são suicídios velados.
Como parte do meu trabalho com a educação para o trânsito com a população e com pessoas com medo ou dificuldades para dirigir já cheguei a visitar vítimas de acidentes provocados por emoções descontroladas. Sentindo-se pressionadas diante de uma dificuldade, desamparadas, sem saber o que fazer, as pessoas agem meio que por instinto em busca de segurança emocional, tomam decisões precipitadas e acabam provocando o acidente.
Imperícia e sequelas emocionais
Um caso emblemático foi o de uma jovem motorista com poucos meses de habilitação que passou a dirigir, ainda com dificuldades e sem domínio do veículo. Na volta do trabalho para casa, já nervosa por não conseguir ter controle total do carro para dirigir, a situação ficou pior quando o carro “morreu” no cruzamento de acesso à sua casa. Ela tentou várias vezes ligar o carro e nada: a cada tentativa o motor apagava. A fila atrás dela se formava, comprometendo a fluidez do trânsito. Motoristas impacientes, buzinadas que traduziam xingamentos... “Fiquei cega do nervosismo, troquei os pedais, acelerei forte para o carro não morrer de novo e o carro bateu descontrolado. Deu perda total.”
Como se não bastasse a violência do acidente de um veículo que se choca em aceleração constante contra uma pilastra de concreto, um homem do comércio ao lado, em vez de ir até o carro para socorrer, para saber se estava tudo bem, ignorou o estado emocional da motorista e de dedo em riste lhe dirigia impropérios e ofensas de todo o tipo. E ela ali, sem poder se mover, de susto, de desespero e da suspeita de uma lesão cervical.
O emocional e os acidentes de trânsito
Outro caso emblemático que tive a oportunidade de atender por meio de conversas, foi o de uma empresária bem sucedida e de vida social estabilizada. As dificuldades no casamento em ruínas estavam desestabilizando o seu emocional. Insônia, noites a fio sem dormir mesmo abaixo de remédios para dormir, ansiolíticos, antidepressivos, discussões com o marido, pressão da família, tentativas desesperadas de reatar um relacionamento que não tinha mais jeito... tudo isso contribuiu para acidentes de trânsito em sequência, indo de menor à maior gravidade e que quase lhe custou a vida.
O primeiro deles foi uma ralada em toda a lateral do carro importado, o que foi justificado e aceito por ela como distração: naquele momento o choro e a desatenção foram provocados pela memória do relacionamento e os pensamentos negativos em relação à vida.
O segundo acidente foi em via pública: colisão contra poste em horário de movimento e próximo a um ponto de ônibus que estava vazio no momento. Minutos antes ela tinha discutido ao telefone com o marido por conta de uma suspeita de traição. Desestabilizada emocionalmente, fragilizada, sem saber se as dores que sentia eram físicas ou emocionais, ela perdeu o controle do veículo e colidiu. A gravidade não foi tanto física, mas emocional.
O acidente mais grave foi quando estava se dirigindo ao aeroporto assim que a separação já estava em andamento; o marido estava saindo definitivamente de casa para ir morar em outro estado para recomeçar a vida. Em uma atitude desesperada, para chegar no aeroporto antes da decolagem do voo do então ex-marido, ela acelerou além da conta e bateu de frente com outro veículo na BR-470. Dessa vez, foram meses de internamento e a suspeita de que não voltaria a andar. Depois disso houve outros acidentes de trânsito de menor gravidade, dietas forçadas para recuperar a autoestima e outros problemas graves de saúde até que buscasse ajuda profissional para retomar a vida mais forte para lidar com os problemas cotidianos.
Como as notícias difíceis concorrem para os acidentes de trânsito
Eu já conheci pessoas que sofreram acidentes de trânsito depois de uma discussão acalorada em casa: o(a) motorista assume o volante desestabilizado emocionalmente, cego da raiva, sentindo um turbilhão de emoções descontroladas, com os pensamentos desordenados e logo começa a descontar no acelerador. Some-se à isso, a falta de atenção, o embotamento, a tristeza, o choro e mais adiante o acidente de trânsito foi provocado.
Já conheci pessoas que depois de receberem uma notícia que não esperava: o filho que caiu da escada, machucou a cabeça e estava sendo removido ao hospital para fazer Raio X; o falecimento da mãe em um acidente de trânsito grave em outra cidade; brigas de casais por telefone minutos antes de dirigir; brigas ao volante enquanto o outro dirige em estado alterado; provocações no trânsito que terminam em perseguições e acidentes. Há também o caso de uma pessoa que provocou um acidente de trânsito depois de receber a notícia de que estava sendo demitido depois de anos de serviços prestados à empresa para a chegada de um funcionário mais novo.
Em muitos casos, as emoções desencontradas, o estado emocional abalado, a dificuldade de lidar com as emoções, com as questões financeiras, com as dificuldades da vida, a falta de apoio e de ter com quem conversar resultam em casos de suicídio que, em um primeiro momento, são tratados como acidentes de trânsito. Nesses casos, também estão presentes a imprudência, a imperícia, a negligência, a falta de atenção e até os julgamentos de terceiros, mas o real motivo mesmo permaneceu desconhecido: a tristeza humana e a falta de apoio emocional. Os profissionais do trânsito precisam aprender a conhecer essas variáveis para além das variáveis habituais que incidem para o acidente.
Como ajudar a lidar com as feridas da vida
Para muitas pessoas, continuar vivendo, respirando, já é uma tarefa difícil. Muitas vezes, aquela pessoa bacana, sorridente, bem sucedida, sempre prá cima e que muitos admiram, na verdade, passa por sérios problemas emocionais que podem estar relacionados à baixa autoestima, solidão, tristeza, Síndrome do Pânico, problemas familiares graves que os outros não sabem e nem desconfiam.
Muitas vezes, essas pessoas vivem sozinhas, não têm amigos com quem contar e muitas dificuldades para se abrir e buscar ajuda. Outras, têm as mesmas dificuldades no ambiente familiar. Em cenários turbulentos e competitivos como o da vida moderna, não confiam o suficiente nas pessoas ao ponto de confidenciarem as suas vulnerabilidades humanas para que não sejam usadas contra si próprias em algum momento. E assim, as pessoas seguem com dificuldades de lidar com as feridas dessa vida, se fragilizam, sentem-se sós, desamparadas e é onde o trânsito vai atuar como uma válvula de escape perigosa.
O fato é que falar alivia as dores da alma. O fato é que um abraço sincero dado mesmo por um estranho é aconchego, aceitação e conforto para uma pessoa triste e pode salvar uma vida. Vivemos em um mundo com cenários competitivos, individualista, em que o ter costuma prevalecer sobre os ser, em que os valores e virtudes estão se fraturando, invertidos.
As pessoas estão se importando cada vez menos umas com as outras; estabelecem outras prioridades que fazem perder a qualidade afetiva e de interações dentro da própria família. Não podemos lembrar daqueles que se sentem sós e muito fracos para lidar com as feridas emocionais só quando é Natal, como se fossem uma minoria em meio a tantos comerciais de famílias perfeitas e famílias felizes. Em meio à elas também há muitas pessoas com dificuldades para lidar com as dores da alma e, não raro, põem um fim precipitado à tudo por falta de acolhimento.
Dinheiro, posição social, fama, prestígio, nada disso substitui o acolhimento emocional, a fala que alivia as dores da alma, a escuta atenta do outro que acolhe e renova as esperanças, que dá bálsamo para as feridas dessa vida, tão grandes e tão invisíveis aos olhos alheios.
Por isso, se você está triste, emocionalmente abalado, ferido de morte em sua autoestima e vontade de viver, se o peso é tão grande que você parece não suportar, ligue 141 e fale com os voluntários do CVV. Em Blumenau, o atendimento também é feito pelo telefone 3329-4111, 24 horas. Conheça o site do CVV no link: cvv.org.br, e pelo Facebook acesse: facebook.com/cvv141. Porque falar alivia as dores da alma e salva vidas. Você é muito importante para nós e para o CVV.
CONHEÇA A PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DE VALORIZAÇÃO DA VIDA
O CVV de Blumenau convida você para participar da 16ª Semana de Valorização da Vida, que será realizada de 8 a 13 de maio. O evento pretende promover a reflexão e a conscientização a respeito da Valorização da Vida
Quinta-feira (04/05)
Café com a Imprensa
- Local: Posto CVV - próximo à Delegacia Regional
Rua Professor Luiz Schwartz, 169 (Velha) - Horário: das 7h às 10h
Segunda-feira (08/05)
Abertura: Ato cívico com a participação de autoridades, voluntários e comunidade em geral. Apresentações artísticas de Priscila Vieira com Abel e Isabella, cantores e compositores da família Deco Dalponte.
Mesa Redonda: Prevenção do Suicídio na Valorização da Vida, com Robert Gellert Paris Junior – presidente nacional do Centro de Valorização da Vida - e convidados.
- Local: Câmara de Vereadores de Blumenau
Rua XV de Novembro, 55 (Centro) - Horário: 19h30
Terça-feira (09/05)
Cine Ser CVV: Exibição de filme com oportunidade para reflexões sobre o conteúdo com todos os participantes.
- Local: SESC
Rua Dr Amadeu da Luz, 181 (Centro) - Horário: 14h
Quarta-feira (10/05)
Encontro com entidades voluntárias
- Local: Posto CVV - próximo à Delegacia Regional
Rua Professor Luiz Schwartz, 169 (Velha) - Horário: 19h30
Quinta-feira (11/05)
Palestra: A Arte de Voltar a Viver - com Antônio Gomes da Rosa - psicólogo mestre em Saúde Pública, psicodramatista, psicoterapeuta, professor e conferencista.
- Local: Câmara de Vereadores de Blumenau
Rua XV de Novembro, 55 (Centro) - Horário: 19h30
Sexta-feira (12/05)
- Divulgação do trabalho do CVV
Sábado (13/05)
Encerramento: Atividades voltadas à celebração da vida com a participação de entidades parceiras.
- Local: Parque Ramiro Ruediger
- Horário: das 14h às 17h
Os eventos são todos gratuitos
Contatos: (47) 33294111 24h ou blumenau@cvv.org.br