Quanto mais baixa a faixa etária para a vacinação, maior a busca. Isso é um cálculo simples. Primário. Afinal há mais pessoas acima de 75 anos do que acima de 80, obviamente. O que significa, claramente, que conforme a idade exigida abaixa, maior será a demanda.

Cerca de uma centena de pessoas nos procuraram para reclamar sobre a dificuldade em se cadastrar para a vacinação em nosso município. Era telefone que não funcionava, aplicativo que travava ou site saindo do ar direto. O problema é o servidor. São muitas pessoas buscando aquele serviço e o servidor – que não é dos melhores – não agüenta e cai.

E não nos referimos a ‘servidor público’, que fique claro. Servidor é uma espécie de espaço digital onde ficam alojados os dados de sites, aplicativos e por onde os usuários trafegam. Até onde pudemos analisar, o problema é no servidor do Sistema Pronto.

Porém, muito aquém disso está o problema de como está sendo feito o cadastro. Dona Ivone, moradora do Progresso, tem 83 anos. Filha mais velha que nunca se casou. Logo, ela não tem filhos, netos, irmãos ou sobrinhos. Uma senhorinha muito tímida que mal sai de casa por medo da contaminação, ela não sabe usar a internet e não tem a quem recorrer para isso. E o que ela pode fazer?

Praticamente todos os vereadores da cidade receberam reclamações sobre as falhas no cadastro ou pedidos de pessoas na situação de dona Ivone para não perder sua vez na vacinação. O vereador Bruno Cunha, que melhor se posicionou a respeito, apontou a debilidade dos servidores. "É uma coisa até meio básica... organizar melhor o sistema para atender à comunidade", disse em pronunciamento. E é. Há programadores de sobra para isso.

Outro problema é o de André. Contador, ele está em home Office e passou o dia de ontem inteiro tentando cadastrar sua avó de 80 anos. “Desde que abriu pra idade dela e tento sempre e nunca tem vaga. Hoje eu fiquei o dia inteiro atualizando a página e quando parecia que ia conseguir dava algum erro e o site saía do ar. Não posso fazer isso todo dia. Produzi muito pouco no trabalho e não posso perder o emprego”, desabafou.

Como já falamos antes, não seria tão complicado criar um sistema digital automático que numere as pessoas por ordem de chegada e depois, via e-mail, as avise quando será a sua vez. Basta um programador e boa vontade. Essa solução não resolveria para dona Ivone, mas ajudaria André.

A verdade é que o que está acontecendo não é má vontade da prefeitura. Nem ingerência. O sistema usado hoje foi adquirido faz tempo. Antes da gestão atual. Ninguém imaginava que iria acontecer uma pandemia assassina e que um tráfego de 500 pessoas aumentaria para 50 mil de um dia para o outro. É natural que o sistema caia. Que o servidor não dê conta.

Mas também é esperável que o Executivo arrume isso. Ontem arrumou. Após as 15h os servidores estavam funcionando quase na sua normalidade. Faltam alguns dias para uma nova remessa de vacinas chegar e temos certeza de que a prefeitura terá a preocupação, a delicadeza, a boa vontade e a capacidade de corrigir esse problema que está afligindo tanta gente.