Em greve dos ônibus o único a perder é o usuário

Em greve dos ônibus o único a perder é o usuário
Foto: Divulgação

Tuesday, 03 August 2021

Uma empresa que usurpou o lugar que ocupa briga com funcionários que almejam mais do que podem ter: e o único prejudicado é o trabalhador que ficou parado em um ponto de ônibus numa madrugada fria.

O trabalhador que saiu de casa para sua rotina diária hoje foi prejudicado, mais uma vez, por uma greve dos profissionais dos ônibus. Até as 7h da manhã motoristas e cobradores paralisaram suas atividades em protesto pelo atraso da Blumob em começar as negociações da data-base, prevista para 1º de julho.

A greve aconteceu sem aviso prévio e deixou muitas pessoas, dependentes do transporte público, à mercê da boa vontade dos motoristas e do esboço de inadimplência da Blumob. Contudo, pelo menos desde a semana passada, o sindicato já estava em estado de greve.

Para eles houve uma perda salarial de 11,55% entre novembro de 2019 e junho de 2021.

É tragicômico a Blumob – hoje uma das empresas mais odiadas da cidade – permitir que haja perda salarial de seus funcionários enquanto, simultaneamente, tem a cara de pau de pedir aporte financeiro à prefeitura alegando perdas geradas por conta da pandemia.

Para eles, a ex-Piracicabana, a reposição salarial pedida pelos funcionários refletiria em um aumento muito grande na tarifa cobrada dos usuários.

A verdade é que desde que foi armada a grotesca situação que tirou o transporte público da mão do (péssimo) Consórcio Siga e colocou a exploração do serviço carinhosamente no colo da (pior ainda) Piracicabana, hoje Blumob, as coisas só pioraram.

Linhas de ônibus desapareceram, pontos deixaram de existir, escalas foram reduzidas e isso, claro, sem contar os veículos velhos que a empresa que mudou de nome trouxe para cá e quebravam o tempo todo na rua. Das suas obrigações, a Blumob não chegou nem perto de cumprir todas. Para piorar, conseguiram extorquir da prefeitura R$ 24 milhões alegando prejuízos com a pandemia. O que são R$ 6 milhões a mais do que o prejuízo que a própria empresa alega ter tido.

O sindicato, por sua vez, garante que até quinta não haverá novas greves. Mas nunca se sabe.

É necessário lembrar, antes de se compadecer da categoria, que em 2014, quando o PGC incendiava ônibus, o próprio sindicato deu ordens para que os ônibus não fossem até o ponto final em locais mais perigosos. Em entrevista, na época, uma representante da categoria não soube responder quando perguntada se, para ela, a vida de um motorista valia mais do que a de um passageiro.

Antes de encontrar santos e pecadores nessa história lembremos do contexto inteiro. E vejamos que ambos estão errados. O único inocente é o usuário que ficou, em uma manhã fria, esperando a boa vontade de grevistas para poder ir ao trabalho.


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Ricardo Latorre

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