Saiba mais sobre o segundo dia de paralização dos caminhoneiros

Saiba mais sobre o segundo dia de paralização dos caminhoneiros
Foto: Divulgação

Thursday, 09 September 2021

O movimento é puramente partidário e foi, mesmo que indiretamente, incentivado pelas falas do presidente Bolsonaro, que agora tenta resolver a situação.

Depois da madrugada com bloqueios de caminhoneiros em rodovias federais de ao menos 15 estados, o movimentos começava a perder força no início da manhã desta quinta.

Segundo boletim do Ministério da Infraestrutura com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram confirmados bloqueios em rodovias de pelo menos 15 estados: SC, RS, PR, ES, MT, GO, BA, MG, TO, RJ, RO, MA, RR, PE e PA. Em São Paulo, havia registros de paralisações também. Na maioria dos locais, apenas carros pequenos, veículos de emergência e cargas de alimentos perecíveis estão tendo o trânsito liberado pelos manifestantes.

As manifestações não são comandadas por tradicionais entidades e lideranças de caminhoneiros, que recentemente refutaram participar dos atos a favor do presidente Jair Bolsonaro.

A paralisação tem sido organizada em grupos de WhatsApp, e não tem ligação com entidades de classe dos trabalhadores.

Em vídeos nas redes sociais, caminhoneiros autônomos dizem apoiar pautas de Bolsonaro e creditam o aumento dos combustíveis aos governadores, além de fazer ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao longo do dia, porém, o presidente pediu a apoiadores em Brasília que os caminhoneiros não parassem, temendo consequências sociais e econômicas graves da interrupção no transporte. Em áudio enviado a manifestantes, ele afirmou que a ação prejudica a economia e a população inteira, especialmente os mais pobres, ao provocar desabastecimento e inflação. "Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso."

Em mensagem a caminhoneiros, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, afirmou que "há uma preocupação de todos com a resolução de problemas graves, mas a gente não pode tentar resolver um problema criando outro".

Em uma das publicações nas redes, um caminhoneiro afirma que o Supremo "é uma milícia" e que o grupo não vai aceitar que o país "seja comandado por 11 ministros".

Em outro, um caminhoneiro diz que caminhões com cargas não vão passar por estrada na Bahia. "Não está passando caminhão vazio, só passa ônibus, carro pequeno e carga perecível", diz.

Segundo Wallace Landim, conhecido como Chorão e presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores, a paralisação desta quarta não é voltada para pautas da categoria e tem caráter político-partidário a favor do presidente Bolsonaro.

"Não estamos participando, porque entendemos que a paralisação é um movimento político. Não tem uma pauta voltada para a categoria. Nossa categoria é muito polarizada, tem gente de esquerda, direita, apartidária. Não tem como levantar um movimento desses com o nome dos caminhoneiros", diz ele, que participou de mobilizações anteriores.

"Está muito claro que esse movimento de hoje tem o pessoal do agronegócio bem forte junto. Em Brasília, 90% dos caminhões eram de empresa ou de pessoas que trabalham para o agro", diz.

Já a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) divulgou uma nota se dizendo "preocupada com os bloqueios" e manifestando "total repúdio às paralisações organizadas por caminhoneiros autônomos com bloqueio do tráfego em diversas rodovias do país, por influência de supostos líderes da categoria".

"Trata-se de movimento de natureza política e dissociado até mesmo das bandeiras e reivindicações da própria categoria, tanto que não tem o apoio da confederação Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos", diz a entidade.

Segundo a PRF, nenhuma pista foi bloqueada totalmente. Mas vídeos nas redes sociais mostram grandes congestionamentos em estradas afetadas, como a BR-101, em Pernambuco, que foi paralisada na altura da cidade de Igarassu, região metropolitana do Recife.

Na cidade Luís Eduardo Guimarães, na Bahia, manifestantes também impedem a passagem de cargas ou caminhões vazios pela BR-242.

Em nota, o Ministério da Infraestrutura afirma que a "PRF encontra-se em todos os locais identificados e trabalha pela garantia do livre fluxo com a tendência de fim das mobilizações até a 0h desta quinta."

Tentativa de invasão

Já em Brasília, a Esplanada dos Ministérios continuava ocupada na quarta-feira por caminhões e por um grupo de apoiadores de Bolsonaro.

Segundo o jornal O Globo, boa parte dos veículos tinha logotipo de empresas de transporte ou do agronegócio, como a produtora de soja e sementes Agrofava e a Formosa Logística, que também serve ao agronegócio.

Imagens divulgadas pelo portal Metrópoles mostram seguranças do ministério impedindo a invasão do prédio, utilizando uma grande grade, que precisou ser fechada às pressas.

Durante a manhã, um grupo de manifestantes tentou invadir o Ministério da Saúde. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os manifestantes tentaram agredir jornalistas que estavam em frente ao prédio da pasta.

O grupo hostilizou jornalistas que estavam no local. Uma jornalista da Record TV foi encurralada e sofreu ameaças, segundo a rede de TV.

A Polícia Militar do Distrito Federal informou que policiais foram chamados para acompanhar uma ocorrência no local, mas, quando os policias chegaram, a situação já tinha se resolvido.

Segundo a PM, a Esplanada dos Ministérios está fechada, mas alguns apoiadores de Bolsonaro permanecem na região, além de alguns caminhões.

Em meio a bloqueio de rodovias, Bolsonaro se reunirá com caminhoneiros em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro vai se reunir nesta quinta-feira (9), em Brasília, com representantes de um grupo de caminhoneiros que promove bloqueio de rodovias no país em apoio ao governo e contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)

O encontro será no Palácio do Planalto e contará ainda com a participação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que está à frente das conversas com os caminhoneiros desde quarta (8).

Essa ação de Bolsonaro é tentativa de desarmar uma bomba que ele mesmo armou, ao estimular protestos de caminhoneiros em meio aos atos antidemocráticos de 7 de Setembro.

A equipe econômica e o próprio Palácio do Planalto estão preocupados com o risco de o movimento aumentar e causar problemas para a economia. O próprio presidente fez esse alerta em áudio enviado a caminhoneiros na noite de quarta.

No áudio, Bolsonaro pede aos caminhoneiros que liberem as estradas do país e diz que a ação "atrapalha a economia" e "prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres".

No Ministério da Economia, a lembrança é da greve de caminhoneiros no governo Michel Temer, em maio de 2018, quando o país enfrentou dificuldades de desabastecimento. Na época, o então Ministério da Fazenda calculou que a greve fez o país perder um ponto percentual de crescimento.


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Redação

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