Índia lança ataque contra o Paquistão

Índia lança ataque contra o Paquistão
Foto: Divulgação

Wednesday, 07 May 2025

Ação acirra tensão nuclear e pode escalar para uma guerra.

A Índia lançou ataques com mísseis contra nove locais no Paquistão e na Caxemira administrada pelo Paquistão. Moradores foram acordados por enormes explosões nesta quarta-feira (7/5).

O governo indiano afirmou que a ação militar focou na "infraestrutura terrorista" de maneira "focada, comedida e sem escalada", e acrescentou que não atingiu nenhuma instalação militar paquistanesa.

O Paquistão classificou o ataque de "covarde" e detalhou que seis locais foram atingidos. O governo do país ainda afirma ter abatido cinco caças indianos.

O país ainda acusou a Índia de atingir alvos civis e afirmou que se reserva o direito de responder "no momento, no local e da maneira que escolher".

A Índia, no entanto, afirma não ter "relatos de vítimas civis no Paquistão".

O exército indiano confirmou a morte de 15 civis após bombardeios paquistaneses em seu lado da fronteira.

Já o Paquistão contabilizou 26 mortos e 46 feridos em ataques indianos ao longo da zona que divide a região.

Quase 550 voos programados foram cancelados na Índia e no Paquistão desde os ataques aéreos.

As tensões entre os países, que possuem armas nucleares, aumentaram após um ataque mortal realizado por militantes contra turistas indianos na cidade de Pahalgam, que fica na região da Caxemira administrada pela Índia, no mês passado.

A Índia afirma ter "evidências que apontam para o claro envolvimento de terroristas externos baseados no Paquistão" no ataque. O Paquistão negou qualquer ligação com o ocorrido.

A Caxemira administrada pela Índia vive há décadas numa situação frágil e instável, que já ceifou milhares de vidas.

Tanto a Índia quanto o Paquistão reivindicam toda a Caxemira como território seu.

Semanas de tensão

A Índia alegou estar agindo em retaliação ao ataque de 22 de abril que matou pelo menos 26 pessoas, a maioria turistas, próximo à pitoresca cidade de Pahalgam, na parte Caxemira administrada pela Índia.

Militantes abriram fogo contra visitantes no Vale do Baisaran, uma região de pradaria muito procurada pela natureza.

Alguns dos sobreviventes disseram que homens hindus foram alvos específicos dos atiradores.

O Paquistão negou envolvimento nos ataques, mas a polícia indiana alega que dois dos quatro militantes suspeitos eram cidadãos paquistaneses.

As forças de segurança indianas ainda estão no encalço dos suspeitos. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a dizer que o país os perseguiria "até os confins da Terra".

Desde a tragédia, tanto a Índia quanto o Paquistão vinham anunciando medidas de retaliação mútuas, incluindo o fechamento de fronteiras e a suspensão de um tratado de compartilhamento de águas fluviais. Tropas de ambos os lados também já haviam trocado tiros com armas de pequeno porte.

Operação Sindoor

Segundo o governo indiano, os ataques acontecem no âmbito da "Operação Sindoor" e miram a infraestrutura ligada ao terrorismo no Paquistão e na Caxemira administrada pelo Paquistão, onde ataques terroristas contra a Índia teriam sido planejados.

"Nossas ações foram focadas, ponderadas e não tiveram a intenção de escalar. Nenhuma instalação militar paquistanesa foi atacada. A Índia demonstrou considerável contenção na seleção de alvos e no método de execução", afirmou o governo indiano um comunicado.

Um porta-voz militar paquistanês disse que Islamabad "responderá no momento e local de sua escolha".

"Todos os nossos caças estão no ar. Este é um ataque vergonhoso e covarde realizado a partir do espaço aéreo indiano", acrescentou o porta-voz.

A Índia acusa o Paquistão de apoiar o terrorismo transfronteiriço, algo que o governo paquistanês nega.

A Caxemira, uma região montanhosa ao sul do Himalaia, tem sido alvo de um longo conflito — e duas guerras — entre as duas potências nucleares.

Os problemas começaram em 1947, com a partição da região do sul da Ásia até então colonizada pelo Reino Unido em dois países, o Paquistão e a Índia.

O antigo principado da Caxemira ficou de fora da divisão e desde então tem sido disputado por ambas as nações (saiba mais a seguir).

Reação internacional

Questionado sobre os ataques entre Índia e Paquistão, o presidente dos EUA, Donald Trump, lamentou o ocorrido

Ele disse que só soube dos últimos acontecimentos quando estava entrando no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington.

"Só espero que isso acabe logo", acrescentou Trump.

O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou no X (o antigo Twitter) que monitora a situação de perto.

Hoje, a embaixada indiana nos EUA informou que o Conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, conversou com Rubio "e o informou sobre as medidas tomadas".

Rubio disse que concordava com os comentários do presidente dos EUA e espera que "isso termine rapidamente".

Ele também afirmou que continuaria a dialogar com as lideranças indianas e paquistanesas "para uma resolução pacífica".

Um porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou estar "muito preocupado com as operações militares indianas".

"Ele [Guterres] pede a máxima contenção militar de ambos os países. O mundo não pode se dar ao luxo de um confronto militar entre a Índia e o Paquistão."

O Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, afirmou que as tensões atuais entre a Índia e o Paquistão são uma "séria preocupação".

"O governo do Reino Unido insta a Índia e o Paquistão a demonstrarem contenção e a se engajarem em um diálogo direto para encontrar um caminho diplomático rápido", afirmou ele em um comunicado.

Lammy afirmou que o Reino Unido mantém um relacionamento próximo e único com ambos os países.

"Deixei claro aos meus colegas na Índia e no Paquistão que, se isso se agravar ainda mais, ninguém sairá ganhando", disse ele.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou em comunicado que está "profundamente preocupado com o aprofundamento do confronto militar".

"A Rússia condena veementemente os atos de terrorismo, opõe-se a qualquer uma de suas manifestações e enfatiza a necessidade de unir os esforços de toda a comunidade internacional para combater eficazmente esse mal", afirma o comunicado.

'Escalada dramática'

Anbarasan Ethirajan, editor de Sudeste Asiático do Serviço Mundial da BBC, classifica a situação como uma "escalada dramática" e lembra que os dois rivais têm armas nucleares.

"Embora houvesse expectativas de que a Índia pudesse lançar algum tipo de ação militar, a intensidade dos ataques com mísseis dentro do Paquistão surpreendeu muitos", escreve ele.

"A Índia afirma que alguns dos locais bombardeados estavam ligados a militantes, e que eles não tinham como alvo instalações militares paquistanesas. O Paquistão prometeu retaliação, e a natureza e os alvos dessa retaliação determinarão a contra-reação de Delhi."

"Ambos os países acreditam que podem administrar a escalada, mas as tensões estão altas e é difícil prever o curso de qualquer conflito militar."

Ethirajan destaca que, no passado, os EUA e outros países intervieram para conter as tensões na região.

"Com o foco do governo Trump desviado a outras questões globais, resta saber com que rapidez Washington intervirá para apaziguar a situação. Líderes políticos em ambos os países vão querer mostrar ao público que agiram de forma decisiva e reivindicar a vitória", analisa o editor.

Já Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC, pontuou que Índia e Paquistão sabem o que está em jogo numa retomada do conflito.

"Será necessário um grande esforço diplomático para impedir que as tensões se intensifiquem", antevê ele.

Histórico de conflitos

Desde a criação dos Estados em 1947, a Índia e o Paquistão travaram múltiplas guerras — a maioria centrada na Caxemira.

A primeira eclodiu poucos meses após a fundação dos dois países, e terminou num cessar-fogo mediado pela ONU em 1949.

A região foi dividida, mas as duas nações continuaram a reivindicar controle total do território.

Em 1965, o conflito foi retomado quando as forças paquistanesas cruzaram para a Caxemira administrada pela Índia, o que gerou a ferozes batalhas terrestres e aéreas.

Em 1971, a guerra eclodiu no Paquistão Oriental, onde a Índia apoiava as forças de independência, o que levou à criação de Bangladesh.

O conflito de Kargil, em 1999, viu tropas paquistanesas infiltrarem-se na Caxemira administrada pela Índia. Foi o primeiro confronto entre os rivais com armas nucleares, o que gerou um alarme global.

Nos últimos anos, as tensões aumentaram após ações de grupos militantes: a Índia lançou "operações cirúrgicas" em 2016 após um ataque em Uri e realizou ações militares perto de Balakot em 2019, após um bombardeio em Pulwama.

O Paquistão respondeu com incursões aéreas, o que marcou uma das escaladas mais perigosas em duas décadas.


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Redação

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