O Vale do Itajaí, polo econômico e populacional de Santa Catarina, enfrenta incertezas na saúde pública com o risco de atrasos na construção de uma policlínica regional em Blumenau, prevista no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Embora o Governo do Estado reafirme o compromisso com a obra, a falta de transparência sobre os entraves técnicos e a percepção de descoordenação entre os entes envolvidos geraram críticas contundentes, incluindo da deputada federal Ana Paula Lima (PT), alimentando temores de que a região possa perder um investimento crucial de R$ 34 milhões.

O Contexto do Impasse

Em julho de 2025, o secretário estadual de Saúde, Diogo Demarchi Silva, informou à Caixa Econômica Federal que os terrenos oferecidos pela Prefeitura de Blumenau não atendiam a requisitos técnicos, como questões ambientais, sanitárias, topográficas e de legislação em saúde. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) solicitou orientações sobre a possibilidade de realocar os recursos para outro município, levantando preocupações de que Blumenau pudesse perder a policlínica. A SES, no entanto, nega qualquer intenção de transferir a unidade para Florianópolis e afirma que o projeto segue em Blumenau, com um terreno definido na Rua Elsa Mette, bairro Salto do Norte.

A Prefeitura de Blumenau informou que ofereceu dois terrenos, mas ambos foram considerados inadequados pelo Governo Federal. Em nota, o município destacou que a desapropriação de um novo terreno demandaria recursos adicionais e poderia comprometer os prazos do PAC. Além disso, a prefeitura apontou que os R$ 34 milhões previstos cobrem apenas a construção, sem garantir verbas para manutenção, levantando preocupações sobre a sustentabilidade do projeto.

Críticas e Indignação

A condução do processo gerou fortes críticas, especialmente da deputada federal Ana Paula Lima (PT), que acusou a Prefeitura de Blumenau de "falta de vontade política" por não viabilizar um terreno adequado. Segundo a parlamentar, o investimento de R$ 34 milhões, assegurado pelo Ministério da Saúde, beneficiaria toda a região do Médio Vale do Itajaí, reduzindo filas para consultas e exames especializados. "É inacreditável que uma cidade do porte de Blumenau não consiga disponibilizar um terreno para uma obra tão importante", declarou Lima, reforçando a percepção de ineficiência na gestão local e estadual.

A opinião pública, refletida em posts nas redes sociais, também expressa indignação. Vereadores de Blumenau cobraram esclarecimentos do secretário de Saúde, enquanto a Câmara Municipal aprovou requerimentos e moções para evitar a perda dos recursos. A falta de clareza sobre os critérios que inviabilizaram os terrenos e a demora em resolver o impasse alimentam a desconfiança de que interesses regionais ou políticos possam estar influenciando o processo.

Uma Comunicação Falha

A controvérsia reflete uma percepção de falhas na comunicação entre o Governo do Estado, a Prefeitura de Blumenau e o Governo Federal, evidenciada pela confusão inicial sobre uma possível transferência da policlínica para outro município. A SES reforça que a unidade está planejada para Blumenau, como parte de um conjunto de três policlínicas (junto a Lages e São José), com foco em fortalecer a rede de saúde do Vale do Itajaí. A secretaria também destaca uma parceria com a Prefeitura de Blumenau e a FURB para viabilizar uma nova estrutura que atenda às demandas regionais de forma mais eficiente. Contudo, a ausência de detalhes técnicos sobre as inadequações dos terrenos e a falta de um cronograma claro para o início das obras mantêm a população no escuro.

Blumenau enfrenta desafios históricos na saúde, com hospitais superlotados e longas filas para atendimentos especializados. A policlínica seria uma solução estratégica para descentralizar o atendimento, beneficiando a macrorregião do Vale do Itajaí. A demora em viabilizar o projeto reforça a sensação de que a região está sendo negligenciada em favor de áreas já bem atendidas, como a Grande Florianópolis.

O Futuro da Policlínica

A definição do terreno na Rua Elsa Mette é um avanço, mas insuficiente para aplacar as críticas. A prefeitura deve atuar em conjunto com o Governo do Estado para garantir o andamento do projeto sem mais atrasos, enquanto a SES precisa oferecer maior transparência sobre os entraves técnicos e os próximos passos. A população do Vale do Itajaí, que contribui significativamente para o desenvolvimento de Santa Catarina, merece uma saúde pública à altura de suas necessidades.

A polêmica da policlínica é um lembrete de que a gestão pública exige planejamento rigoroso, diálogo aberto e compromisso com a equidade. Enquanto a obra não sair do papel, Blumenau e região seguem esperando por respostas – e por um atendimento de saúde mais digno.

*Com informações atualiadas em 9 de agosto de 2025 à 1h12.