Adultização e sexualização infantil

Thursday, 14 August 2025
O problema vai muito além das redes sociais: é um câncer social que está devorando o país.
Na quarta-feira (6) da semana passada, o youtuber Felipe Bressanim Pereira – popularmente conhecido como Felca – publicou um vídeo fazendo graves denúncias sobre a adultização infantil e a exploração sexual de crianças.
Pouco mais de uma semana se passou e o vídeo já conta com quase 40 milhões de visualizações.
O assunto abordado pelo influenciador durante 50 indigestos minutos furou as bolhas e ampliou o debate sobre a segurança de crianças e adolescentes na internet. Além de expor alguns criminosos que exploram a sexualidade de crianças, ele também criou um perfil do zero para provar como os algoritmos das redes sociais são – no mínimo – lenientes em relação ao assunto.
Um dos maiores alvos de Felca foi um sujeito chamado Hytalo Santos que conta com 20 milhões de seguidores e faz uma espécie de reality show envolvendo adolescentes, bebida e sexo. Uma versão perturbadora e piorada de ‘De Férias com o Ex’... absolutamente asqueroso.
Mas é claro que em um país com um povo de cognição tão baixa, que norteia suas ações mais pelo que sente do que pelo que (não) pensa o foco logo foi esquecido, se tornando censurar ou não as redes. De “temos que censurar tudo para proteger as crianças” a “o Felca é um comunista que trabalha para o governo Lula” todo tipo de burrice tem sido dito por aí.
É claro que o presidente Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva (PT) aproveitou a oportunidade para voltar a defender a regulamentação das redes sociais em conversa com seu atual aliado no jornalismo – senão vassalo – Reinaldo de Azevedo (o mesmo que criou o termo ‘petralha’ quando ainda trabalhava como opositor dos petistas).
A verdade é que o presidente sonha com a regulamentação das redes sociais desde antes de assumir seu terceiro mandato. O vídeo de Felca foi só mais uma justificativa. Afinal, os conservadores são majoritários nas redes. E Lula nunca tolerou opiniões que não o exaltem.
Lula é um homem do seu tempo que alegadamente mal usa um celular. Ou seja, obsoleto. Ultrapassado. Incapaz de lidar com um mundo além dos piquetes de São Bernardo do Campo ou dos escritórios do DOPS, onde vendia seus próprios ‘companheiros’ (em trechos do livro "Assassinato de Reputações: Um Crime de Estado", de Romeu Tuma Júnior).
Em entrevista à Rádio Itatiaia Vale em 8 de junho de 2022 Lula disse: “O dono do Instagram não pode fazer o que ele quer. Ele não pode ter um retransmissor de mentiras porque ele quer ganhar dinheiro. Não, senhor. Ele tem que levar em conta a cultura de cada país, tem que respeitar as leis do país e não pode permitir que mentiras, inverdades, grosserias e ofensas façam parte da cultura brasileira”.
É curioso que Lula diga que alguém não pode ser um retransmissor de mentiras. Logo ele que já espalhou notícias falsas como a de que o imposto sobre herança nos EUA é de 40%, Zelenski é tão responsável pela guerra quanto Putin e a Esquerda nunca invadiu os Três Poderes. Isso para pararmos em apenas três mentiras que ele mesmo contou.
Mas, afinal, internet é ou não é ‘terra sem lei’?
Objetivamente, não.
Internet não é um lugar, mas sim um meio. Não é ‘na internet’, mas ‘pela internet’. E, dessa forma, tudo que acontece através dela está sujeito a um arcabouço legal. Tudo que lá está tem a lei do originário e do destinatário, suas soberanias e legislações. Sem vácuos.
Então, argumentar que ‘internet é terra sem lei’ é apenas um discurso pouco inteligente e bobo que só demonstra o quanto a maioria de nossos legisladores está despreparada.
Hipocrisia ou apenas mentira?
Apesar de pegar a trend que o vídeo de Felca criou para justificar seu próprio fetiche ditatorial de censurar redes sociais, o que Lula não disse – e obviamente não diria – é que o Ministério da Justiça não implementou leis sancionadas pelo próprio Lula e pelo seu antecessor Bolsonaro para criar o Cadastro Nacional de Pedófilos e Predadores Sexuais sete meses após a criação da lei. Nesse caso, ele já não parece mais tão preocupado com as crianças.
Há muitas coisas que o Governo Federal pode fazer para combater a adultização infantil:
- Melhorar os níveis de Educação;
- Criar campanhas massivas de conscientização;
- Desenvolver um policiamento especializado em crimes digitais;
- Prender efetivamente os criminosos;
- Endurecer as penas e parar de vitimizar quem desumaniza a sociedade;
- Criar um cadastro de pedófilos condenados;
- Permitir que as identidades de pedófilos e estupradores sejam publicamente conhecidas;
- Punir severamente os crimes, bem como as falsas acusações.
Mas o que o governo faz? Volta a militar pela regulação das redes sociais.
E mais hipocrisia
Se Lula deixou claro em sua conversa de comadre com Reinaldo de Azevedo que era necessário regulamentar as redes sociais para proteger as crianças, seu próprio governo discorda.
Quando o deputado Guilherme Boulos (PSOL) tentou protocolar um pedido para tirar o Discord do ar alegando que isso seria necessário para proteger os usuários, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do próprio governo Lula respondeu o seguinte: “a rede social tem colaborado efetivamente com as autoridades brasileiras, mas ainda enfrenta desafios em termos de moderação de conteúdo e identificação de comportamentos extremistas e crimes digitais”.
Ou seja: Lula diz uma coisa, mas próprio governo age de forma diametralmente contrária.
Chega a ser repugnante lidar com a cara de pau de pessoas que estão dizendo defender a infância agora, mas semanas atrás militavam por crianças trans e a banalização do funk.
O governo tem defendido sobre algo que ele deseja desde antes se de tornar o governo. E seu discurso poupa os pais criminosos, os abusadores, os pedófilos ou os influencers que transformaram um crime e veio de lucro, bem como se abstém de pensar sobre o apoio psicoemocional necessário para ajudar as vítimas. Não. Ele só quer justificar a censura, como mais um adulto usando crianças para realizar seus próprios desejos vis.
Mas e quando a condenação vem do passado?
Maquiador paraibano que ficou notório por dar iPhones 15 Pro Max junto com o convite de seu casamento e ainda assim receber pouquíssimos convidados, Hytalo Santos é considerado por seus pares – eles mesmos a escória das redes sociais – persona non grata.
No ano passado, a também influenciadora Antônia Fontenelle já o havia denunciado por sexualização infantil. E – para o espanto de todos – a Justiça da Paraíba determinou que Fontenelle removesse o vídeo. Se isso não parece uma espécie de P. Diddy brasileiro, nada mais parece.
Agora que a denúncia finalmente foi levada a sério o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai para cima da juíza que deu a decisão? Tanto faz. Porque, no pior dos casos, a nobre magistrada será ‘punida’ com aposentadoria compulsória. Porque profissionalizamos a impunidade.
O vídeo do Felca chocou as pessoas, sim. Mas não foi a primeira denúncia. E o Ministério Público não fez nada. Quantas crianças tiveram suas infâncias irremediavelmente feridas porque a lei simplesmente foi ignorada?
Lei 2.848/1940 do Código Penal. Artigo 227 da Constituição Federal. Lei 8.069/1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.078/1990 de Publicidade Infantil. Lei 12.737/2012 de Crimes Cibernéticos. Lei 12.965/2014 do Marco Civil da Internet. Lei 13.709/2018 de Proteção de Dados. Resolução 163/2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Todas essas leis tiveram que ser ignoradas para chegarmos até aqui.
E agora o Lula diz querer proteger as crianças?
Onde estava toda essa moralidade quando a Margareth Menezes citou o MC Poze do Rodo – um criminoso com diversas músicas fazendo referências a ‘novinhas’ – em sua posse no Ministério da Cultura?
O problema é bem mais antigo
Desde o fim da ditadura, o Brasil tem exagerado na abertura da sexualização cultural.
Desde o finado Gugu Liberato – que transformava o domingo em lixo, foi pivô de uma das maiores farsas da televisão brasileira e foi ‘santificado’ depois que morreu. Concurso da garota da camiseta molhada, a bizarra Banheira do Gugu e, para competir, o inacreditável Sushi do Faustão eram apenas alguns exemplos de uma programação burra, medíocre e vulgar.
Mas antes deles houve a Xuxa. A linda jovem loira com vestes provocantes apresentando um programa infantil, fazendo piadas ambíguas e levando cantoras internacionais cujo hit era basicamente repetir cantarolando não gostar de homens com pênis pequenos.
Seria impossível essa imundice não descambar em Anitta, Luiza Sonza, Virgínia e MC Pipoquinha.
Era evidente que uma sociedade que passou a normalizar crianças pequenas dançando na boquinha na garrafa no concurso ‘A Pequena Loira do Tchan’ se tornaria o antro onde vivemos hoje... repleto de MCs Melodies e outras excrescências como Andressa Urach ou religiosos pervertidos que lucram com miséria e vícios.
Pessoas – como a deputada Érika Hilton (PSOL), que tentou trazer o criminoso Oruam para a política – agora fingem querer proteger a inocência das crianças da exposição sexual precoce, mas que em 2017 achavam normal um homem nu ser tocado por uma criança no MAM.
Gente com depravações doentes que chafurda em prazeres criminosos ao mesmo tempo em que arrota as virtudes que não tem (e jamais teve).
Fato
Enquanto Lula usa o problema para justificar a censura, seu próprio governo diz formalmente que atacar as redes sociais não protegeria as crianças. Que a única medida efetiva seria atacar os criminosos. O que é um absurdo para um governo que acolhe – ou até se identifica com – eles.
Lula flerta com ditaduras desde sempre. E não apenas seus amigos tiranetes. Lembra do Larry Rohter do New York Times, que Lula tentou expulsar do país por dizer em uma matéria que ele bebia demais? Ou seu projeto de regulamentação da mídia. Do Conselho dos Jornalistas. E agora o inimigo são as redes sociais?
Vivemos numa democracia? Não sei. Não posso dizer que escrevo esse artigo sem sentir algum receio de sofrer algum tipo de sanção por um ‘crime de opinião’. Afinal como já disse Idi Amin Dada Oumee, ditador de Uganda nos anos 70: “Existe a liberdade de expressão, mas eu não posso garantir a liberdade depois da expressão”.
Deve-se combater o mal pela raiz
Normalizamos gente nua na televisão. Assistimos soft porn em tardes familiares de domingo. Aceitamos mulheres sensuais com roupas provocantes em programas infantis e banalizamos crianças fazendo danças de acasalamento em confraternizações. E esse foi o erro.
Hytalo Santos está errado, sim. Ele é um criminoso, sim. As famílias das crianças que ele usa também estão incorrendo em crimes. Mas o maior anormal é o público que lhe dá audiência.
Ele faz por dinheiro. As famílias, idem. Seu público, não. Seu público é doentiamente pervertido.
Em um país tão carente de princípios morais e nortes fundacionais, o virtuoso se tornou o estranho. O vulgar e oportunista se tornou a regra. Uma sociedade de pessoas preguiçosas a ponto de sequer se interessar em falar corretamente a única língua que usam para se comunicar está fadada ao mais absoluto fracasso. Porque essas pessoas votam. E votam mal.
“Mas só a Esquerda objetifica crianças”, você vai dizer. Não. Definitivamente não. A deputada Júlia Zanatta (PL) acabou de levar sua filhinha de quatro meses para a paralisação dos trabalhos no Congresso e, em sua conta no X, afirmou que os ataques a ela visavam: “inviabilizar o exercício profissional de uma mulher usando, sim, uma criança como escudo”. Sim. Ela assumiu usar a própria filha recém-nascida como escudo. Se você não percebe que isso é tão vil quanto o ‘peladão do MAM’ então você é parte do problema.
Em uma sociedade onde tudo tem preço, nada tem valor.
Milhares de Hytalos se aproveitam de milhares de Kamylinhas o tempo inteiro. A juventude se tornou toxicamente sexualizada. E o problema é a prematuridade. Sexo é bom e, justamente por isso, só deve ser apresentado a quem já tem maturidade suficiente para evitar os excessos. Adiar recompensas. A tragédia é que o povo brasileiro – independente da idade – tem se mostrado incapaz de adiar recompensas. Uma sociedade de adolescentes de todas as faixas etárias.
Tornamos-nos uma sociedade onde o sexo a qualquer custo se alçou como prioridade. Onde as periferias estão divididas em dois grupos: religiosos que usam seus dogmas para se proteger de um mundo sórdido e pessoas que se entregaram à total perdição de seus instintos mais primais.
O número de mães solteiras cresce em locais mais pobres. E a cultura altamente limitante onde vivem essas pessoas normaliza – quando não glamoriza – isso. E esses filhos, em média, tendem a desenvolver mais problemas, incluindo a incidência no mundo do crime.
Na prática, uma adolescente altamente sexualizada tende a se tornar uma mãe solteira de um garoto problemático que acabará engravidando futuramente uma jovem altamente sexualizada abandonando-a da mesma forma que seu pai fez com ele. E os padrões se repetem.
De acordo com dados de uma pesquisa da FGV de 2007, 70% dos jovens detentos da FEBEM foram criados sem a presença paterna.
A visão de mundo das Esquerdas está fadada à falência, pois invalida modelos culturais que já se provaram historicamente superiores. Gravidez na adolescência não é cultura, é aberrante. Baile funk não é cultura, é atraso. Regresso. A cultura de gueto precisa acabar.
O problema da sexualização infantil brasileira vai muito além das redes sociais. Tem origens nos piores incentivos dados justamente por quem tem fingido querer acabar com o problema.
As redes sociais são inocentes?
Ninguém é inocente nessa história. O Meta – dono do Facebook, do WhatsApp e do Instagram – permite que perfis falsos deem golpes vendendo mentiras a idosos e quando tais golpes são denunciados, eles afirmam que a postagem não violou suas regras. Como assim?
Mas vai muito além das redes sociais. Samsung, C6 Bank e Claro são apenas três das empresas mais criticadas do Reclame Aqui sem que o PROCON faça nada para, de fato, proteger o consumidor.
Nosso país está no mais absoluto abandono, vivendo entre o crime organizado e megacorporações abusivas enquanto transforma qualquer imundice em ‘cultura’. E um governo que fomenta toda a espécie de degradação social finge espanto com as óbvias consequências de suas próprias ações reunindo suas últimas forças para censurar ao invés de ajudar. Afinal, em terra de cego...
Será necessário um substancial investimento em Educação e a garantia de que os professores voltem a ter a autoridade que nunca deveria ter sido tirada deles. Idem com os policiais. Se um sujeito em uma abordagem atacar um policial, deve ser considerado suicídio e ponto final.
Não há modelo mais perfeito do que a família nuclear. Devemos investir nisso e no suporte para que toda essa degradação enfim termine.
O hype do vídeo do Felca tem prazo para expirar. Quantas Kamylinhas ainda vamos permitir que paguem pela nossa inação? Quantas meninas e meninos sem rosto ou nome têm sido usados? Quantos ainda serão? Quantos adultos sairão impunes de tudo isso?
Cada qual tem sua responsabilidade e cada região é diferente
Santa Catarina não costuma incentivar esse tipo de degeneração travestida de cultura. O estado com o terceiro maior IDH do país é considerado o melhor local para viver e não tem bailes funk. Talvez esse seja um dos motivos para ser tão bom.
Na sessão desta terça (12) na Câmara de Blumenau, a vereadora Cristiane Loureiro (Podemos) se dirigiu ao conteúdo do vídeo do Felca dizendo: “Especialistas alertam que a adultização precoce causa prejuízos profundos ao desenvolvimento emocional e psicológico das crianças podendo gerar ansiedade, depressão, dificuldades de socialização e até perda da própria identidade infantil... é a infância sendo roubada, quando deveria ser protegida e preservada”.
A também vereadora Silmara Miguel (PSD), por sua vez, chamou a atenção para os perigos dos adultos que trocam a infância das crianças por dinheiro: “O que, para alguns, pode parecer fofo, engraçadinho, inocente é, na realidade, um prato cheio para criminosos. Um prato cheio para os pedófilos”, afirmou,
"Adultizar as crianças é roubar delas a fase mais importante para o desenvolvimento saudável, a própria infância", afirmou Gilson de Souza (União) que, além de vereador é um dos mais respeitados educadores da cidade e autor do prejeto que instituiu o Código de Posturas do Município de Blumenau.
Não é algo fácil de resolver. Uma parte deve vir de cima – do Governo Federal – como punições mais severas ao invés de censura oportunista. A outra parte deve vir da própria sociedade, que precisa voltar a cultivar valores ao invés se deixar subjugar por instintos.
A Câmara Municipal de Blumenau conta com nomes de peso. Educadores como Gilson de Souza e Egídio Beckhauser (Republicanos), humanistas como Cristiane Loureiro (Podemos), Bruno Cunha (Cidadania), Jean Volpato (PT) e Almir Vieira (PP), lideranças religiosas como Jovino Cardoso (PL) e Silmara Miguel (PSD), profissionais da saúde como Marcelo Lanzarin (PP) e, tem uma Mesa Diretora que também tem o famoso caçador de corruptos Ito de Souza (PL) e um dos mais honestos parlamentares que nossa cidade já viu, Diego Nasato (Novo).
Mudar esse cenário será difícil. Mas difícil não é impossível. Todos teremos que trabalhar juntos. Se um único de nós falhar, nos condenaremos, nossos jovens e a sociedade como um todo.