Entenda a diferença entre os vírus H1N1 ou H3N2

Entenda a diferença entre os vírus H1N1 ou H3N2
Foto: Divulgação

Tuesday, 24 April 2018

Campanha de vacinação visa imunizar população contra variações do vírus causador da gripe no Brasil após surto nos Estados Unidos e segue até 1° de junho.

O governo federal deu início nesta segunda-feira (23) à campanha de vacinação contra gripe deste ano. O objetivo é incentivar o maior número de pessoas, sobretudo as mais suscetíveis (como idosos, crianças e portadores de doêncas crônicas), a se imunizarem, evitando assim que o vírus responsável pela doença se espalhe.

Neste ano, além de combater o vírus, a campanha do Ministério da Saúde ataca outro problema: o da desinformação. Isso porque ganhou destaque o fato de que a vacina tem o importante papel de imunizar contra o H3N2, um subtipo do vírus Influenza A, responsável por muitos casos e mortes em países do hemisfério norte em 2017. Nos EUA, por exemplo, os casos de gripe totalizaram a pior crise da doença no país em uma década.

No Brasil, muitos entenderam que o H3N2 se trata de um vírus novo ou ainda que, só por isso, a vacina deste ano excepcionalmente seria trivalente (que ataca três tipos de vírus) – fala inclusive disseminada pelo próprio ministro da Saúde, o advogado recém-empossado Gilberto Occhi.

“[Desde] setembro, o Instituto Butantan providencia, já com a cepa que ocorreu nesse outro Hemisfério, uma vacina protegendo contra o vírus que lá circulou. Então, nós temos aqui uma proteção maior de todo esse vírus [sic] que aconteceu, por isso esta vacina é trivalente. Ela tem já o vírus, ou antivírus, da H3N2, junto com H1N1”, disse Occhi no lançamento da campanha em São Paulo.

Na realidade, o H3N2 não é novo no Brasil, assim como a vacina trivalente.

Nomes de vírus e o H3N2

A doença da gripe em humanos é transmitida pelos vírus Influenza, que se dividem em três tipos: A, B e C. O tipo C é mais brando e não oferece risco de epidemia. O tipo B oferece risco alto, com potencial de complicações e morte; ele afeta sobretudo humanos e, por ter menos ocorrência, as chances de causar uma epidemia é menor quando comparado ao tipo A.

Esse, por sua vez, infecta humanos, mas também aves e suínos; é o tipo mais severo, ataca humanos de qualquer idade e tem maior potencial epidêmico. Diferentemente do tipo B, os vírus A contam com muitas variações ou subtipos, dos quais fazem parte os vírus H1N1 e H3N2.

Os subtipos são classificados em razão de variações da estrutura do RNA do vírus, formadas por hemaglutininas (H) e neuraminidases (N). Até o momento, a nomenclatura para diferentes subtipos alcança até a numeração H18N11 – esse, um vírus descoberto num morcego no Peru em 2013.

O subtipo H3N2 teve sua primeira aparição em Hong Kong, em 1968, quando foi responsável por uma pandemia de gripe que chegou a matar de 1 a 4 milhões de pessoas no mundo todo, segundo a OMS.

Mutações e vacina trivalente

Vírus são estruturas muito propensas a sofrer mutações. Se a estrutura genética do vírus muda – gerando uma nova linhagem, estirpe ou cepa –, o modo de combatê-lo também deve se readequar. Por isso, todo ano governos do mundo inteiro mudam a composição das vacinas contra gripe seguindo orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre quais linhagens devem ser combatidas no novo período – trabalho feito pelo órgão ligado à ONU desde a década de 1970.

Assim as vacinas oferecidas ao público em geral costumam ser trivalentes: elas atacam duas estirpes da Influenza tipo A e uma da B – há laboratórios particulares que oferecem vacinas quadrivalentes, as quais incluem uma segunda variação da Influenza B. A definição de quais estirpes farão parte depende de um trabalho de vigilância e acompanhamento sobre a predominância de cada uma delas no país.

Para 2018, a composição da vacina trivalente brasileira é a seguinte:

A/Michigan/45/2015 (H1N1)pdm09;
A/Singapore/INFIMH-16-0019/2016 (H3N2);
B/Phuket/3073/2013.

Partindo da nomenclatura da primeira estirpe, podemos entender que ela se refere ao vírus Influenza de tipo A, de linhagem número 45, descrita por um laboratório de Michigan (EUA) em 2015. Por fim, seu subtipo é H1N1 e ela está em circulação desde a pandemia de 2009.

A diferenciação entre estirpes ajuda a entender por que a H3N2 fez tanto estrago nos Estados Unidos nessa última temporada de gripe por lá. Entre outras razões, há o fato de que a vacina usada por lá no último ano contava com a estirpe da H3N2 descrita em Hong Kong. No entanto, a variação que mais afetou a população americana foi a de Cingapura, a qual passou a ser incorporada posteriormente, inclusive no Brasil.

Casos e óbitos no Brasil

De acordo com dados do início de abril do Ministério da Saúde, em 2018 foram registrados 286 casos de gripe, dos quais 41 resultaram em morte.

Desse total, o subtipo H3N2 foi responsável por 71 dos casos e 12 mortes; o H1N1, por 116 casos e 16 mortes; e o tipo B, por 52 casos e 6 mortes. As demais, diz o ministério, foram causados por um vírus “influenza A não subtipado”.

Os diferentes tipos de vírus causam sintomas semelhantes. São eles: tosse, coriza, dor muscular, dor de garganta e febre alta (esse um fator importante que ajuda a diferenciar gripes de resfriados). Se não forem tratadas, as de tipo A e B podem levar a óbito.

Vacinação

A campanha do Ministério da Saúde espera que a população se vacine até o dia 1º de junho em postos de saúde do SUS.

Até esse período, o governo deve oferecer gratuitamente vacinas para pessoas do chamado grupo prioritário. Fazem parte desse grupo pessoas com 60 anos ou mais, crianças de seis meses a cinco anos, trabalhadores de saúde, professores das redes pública e privada, povos indígenas, gestantes ou mulheres parturientes nos últimos 45 dias, pessoas privadas de liberdade (incluindo jovens cumprindo medidas socioeducativas) e funcionários do sistema prisional. Além deles, portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais devem apresentar prescrição médica e se vacinar. Pacientes com doenças crônicas devem se vacinar nos postos de saúde aos quais estão registrados.


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Redação

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