Hospital Santo Antônio volta a ser alvo de polêmica

Hospital Santo Antônio volta a ser alvo de polêmica
Foto: Reprodução

Friday, 04 May 2018

Um vídeo que viralizou na internet e gerou resposta por conta da direção do hospital traz à tona um problema ainda maior que a espera: a competência da consulta de seus médicos.

A Saúde Pública é um problema sério em todo o país e, infelizmente, em Blumenau não é diferente. Faculdades cada vez menos exigentes formam profissionais cada vez mais preocupados com o lucro a frente do bem-estar do paciente e uma população tão crescente quanto desavisada sofre por um serviço de péssima pela qualidade é que é obrigada a pagar com impostos.

Viralizou por várias redes sociais um vídeo de uma mulher que esteve no Hospital Santo Antônio às 3h da manhã e por volta das 6h – quase ao amanhecer – ainda não havia sido atendida. Ela chega a entrevistar uma senhora presente no local que afirma também estar lá há três horas esperando. No vídeo ela chama atenção para a sala de espera do Pronto-Atendimento que estava, até onde dava para ver, vazio.

Não é de hoje que há reclamações em relação ao Santo Antônio. Quem não lembra, alguns anos atrás, uma jovem mãe desesperada com o filho desmaiado no colo enquanto era ignorada por um funcionário local? Ou quem não lembra a frieza repugnante com a qual a secretária de Saúde Maria Regina Soar demonstrou em nota sobre a fatídica morte de uma criança? Lidar com a perda frequente de vidas diminui a sensibilidade dos profissionais, mas demonstrações de completa falta de empatia com o sentimento alheio são inadmissíveis em quaisquer níveis.

A direção do Hospital Santo Antônio mandou uma nota oficial assinada pelo Dr. Paulo Fernando de Macedo Santos que reproduzimos abaixo na íntegra:

Em resposta ao vídeo que está sendo compartilhado nas redes sociais o Hospital Santo Antônio de Blumenau esclarece:

Atualmente o Pronto Socorro do HSA atende cerca de 7.000 pacientes por mês, destes aproximadamente 70% são classificados como pouco urgente ou não urgente, portanto, atendimentos que não são apropriados para um Pronto Socorro. Os atendimentos que não caracterizam casos de urgência e/ou emergência são de responsabilidade da Atenção Básica de Saúde (Postos de Saúde), porém a população, desavisadamente, busca o Pronto Socorro, o resultado final é um iminente aumento da demanda e consequentemente superlotação e aumento do tempo de espera nos Prontos Socorros.

O Hospital Santo Antônio, em parceria com a Atenção Básica de Saúde, já estuda meios de levar estas informações para a população, para que com medidas educativas a população seja informada.

É incontestável que o sistema de saúde pública requer melhorias e que a população blumenauense merece uma assistência com a melhor a qualidade possível, sendo portanto legítima toda e qualquer reivindicação. Entretanto, o Hospital Santo Antônio trabalha incansavelmente com o objetivo de buscar cada vez mais a qualidade e satisfação em seus atendimentos realizados.

Aproveitamos para encorajar aqueles que foram acolhidos e tiveram suas enfermidades solucionadas obtendo contentamento e satisfação com nosso atendimento, para que também se utilizem das redes sociais e outros meios de comunicação para nos dar uma resposta positiva.

Pontos de concordância

De fato, um dos maiores problemas enfrentados por qualquer hospital público é o desconhecimento das pessoas que procuram um pronto-atendimento quando, na verdade, precisariam de uma Unidade de Saúde. Qualquer usuário do sistema privado de saúde sabe que antes de ir a um hospital é necessário procurar uma clínica especializada para diagnósticos corretos.

Então, quando você não estiver se sentindo bem (mas não for uma urgência), procure o Posto de Saúde da sua região e lá, se necessário, você será medicado ao até encaminhado a um hospital.

Outro ponto é que diariamente várias cidades mandam vans repletas de pacientes para Blumenau. Enquanto nossas cidades vizinhas economizam seus lucros estão lotando nossos hospitais, mantidos pelos impostos de contribuintes blumenauenses. Claro que há casos em que existem necessidades específicas, mas há outros, sabemos, onde a única razão da ‘visita’ é “sai mais barato mandar para Blumenau do que construir hospitais”. Esse problema deve ser resolvido nessas cidades e pelo respeito que o bom povo que vive nelas merece (até porque ninguém quer pegar estrada estando doente).

Contrapontos

Se por um lado concordamos com Macedo sobre a necessidade de as pessoas procurarem primeiro unidades de atendimento antes de pronto-socorros, temos uma pergunta: para a pessoa que sofre de gastrenterite e está com violentas cólicas às 2h da manhã quantos postinhos de saúde funcionam de madrugada? Certamente a resposta pode ser dada com os dedos de uma mão só.

Mas talvez o problema mais aberrante que envolve o Hospital Santo Antônio seja o atendimento deplorável de alguns dos médicos plantonistas.

Os profissionais da recepção e da triagem são simpáticos – e com certeza devem ouvir muito desaforo de pessoas que estão irritadiças por conta de desconfortos físicos – mas mesmo assim são atenciosos e tentam responder prontamente as dúvidas de todos os pacientes.

Contudo a Equipe do BLUMENEWS esteve no Santo Antônio acompanhando uma jovem que sentia fortes dores de cabeça e pudemos constatar a negligência grotesca do médico que a atendeu. Aos 22 anos a moça já havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) na adolescência e, por isso, sentir dores de cabeça fortes ao ponto de causar náuseas, escurecimento da visão e formigamento em partes do corpo são razões mais do que preocupantes.

Ela deu entrada um pouco antes das 20h e esperou cerca de uma hora até passar pela triagem. Precisou voltar à triagem para mudar a cor da pulseira porque desconsideraram seu histórico vascular cerebral. O local estava repleto de pessoas, incluindo crianças e idosos.

Um mendigo se apropriou de três bancos dentro da sala de espera para dormir. Ninguém o removeu.

Já passava da 1h da madrugada quando ela foi chamada para a consulta. Levou um pequeno gravador e uma câmera discreta consigo cujas imagens não divulgaremos para resguardar as identidades dos envolvidos. E o atendimento recebido por ela depois de cinco horas de espera foi revoltante.

Um médico nitidamente repleto de má vontade ignorava enquanto ela explicava seus sintomas e seu problema pretérito com AVC. Ele não a encaminhou para nenhum especialista ou centro de diagnóstico. Ao invés disso, com um ar de boçalidade repugnante, pediu para que ela tocasse a ponta da cabeça. E esse foi o único exame que ela fez. Não sugeriu que procurasse um neurologista numa Unidade de Saúde ou sequer fez outro exame, por mais superficial que fosse, ou indicou alguma profilaxia. Apenas disse: “você está com labirintite”.

A consulta durou menos de cinco minutos onde um profissional de competência questionável sequer cogitou a necessidade de exames mais profundos envolvendo tecnologia que, ao contrário dele, tem eficácia de resultado. A paciente saiu indignada, exausta e preocupada.

“Se soubesse que seria para essa palhaçada nem teria vindo porque fiquei mais mal esperando todo esse tempo do que estaria se tivesse ido para casa tomar remédio e repousar”, disse.

Um médico do sistema privado que prefere não se identificar por conta da ética profissional sugeriu que ela procure uma clínica de verdade e ficou alarmado com o descaso com alguém com histórico de AVC sofrendo profundo estado de cefaléia (dor de cabeça).

Conclusão

As pessoas realmente procurar o pronto-socorro para coisas que poderiam resolver em Unidade de Saúde, mas nem todos os bairros tem tais instituições com funcionamento 24 horas.

A espera é um problema que pode até ser potencializado pelos pacientes de cidades próximas ou por presidiários que absurdamente têm prioridade no atendimento, mas mesmo em grandes clínicas particulares as filas de espera são enormes. Então esse problema tem mais a ver com o excesso de demanda de paciente e a falta de oferta de hospitais e clínicas.

Mas o mesmo esforço que vimos dos atendentes e enfermeiros da triagem não vimos por parte de um médico incompetente, impaciente e boçal que pressupôs algo que pouco menos do que sua questionável capacidade travestida de empáfia. Isso, sim, nos causa muito mais preocupação. Esperar é ruim. Principalmente quando estamos nos sentindo mal. Mas esperar por um diagnóstico imperfeito – ou até incorreto – é inadmissível.

Em breve faremos mais uma visita ao hospital na tentativa de buscar atendimento com o mesmo médico. Se sua postura for melhor poderemos concluir que, talvez, ele tenha tido apenas um dia ruim (afinal é humano), mas se continuar com sua postura desleixada e pouco profissional iremos protocolar uma denúncia ao Conselho Regional de Medicina (CRM).

E então veremos se o CRM realmente se importa com a ética de seu nobre ofício ou é só mais um órgão paternalista de classe que passa a mão na cabeça do que há de pior entre seus profissionais.

Abaixo veja o vídeo.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

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