Greve dos caminhoneiros perde fôlego no décimo dia

Greve dos caminhoneiros perde fôlego no décimo dia
Foto: Divulgação

Wednesday, 30 May 2018

Com um número decrescente de apoiadores, o surgimento das primeiras críticas, denúncias de infiltração e abusos que acabaram em confronto com a polícia, o movimento dá sinais de estar perto do fim.

Nesta quarta-feira a greve nacional dos caminhoneiros entra em seu décimo dia e já demonstra estar chegando ao fim. Os próprios representantes de parte da categoria afirmam que suas reivindicações foram atendidas e, portanto, eles desejam logo voltar a trabalhar.

O governador Eduardo Pinho Moreira vai ter que dar sérias explicações ao Governo Federal sobre a razão de sua inércia o que pode, inclusive, resultar em consequências para o estado.

Em São Paulo cerca de 5% dos postos de gasolina foram reabastecidos na manhã de ontem. Uma decisão judicial de segunda-feira – de autoria do juiz Fernando de Castro Faria em atendimento a um pedido da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) – exigiu que as desobstrução das estradas do estado e, dessa forma, postos foram abastecidos primeiramente em Biguaçu. Em Blumenau já há, ao menos, cinco postos, porém cujo abastecimento está liberado apenas para viaturas, veículos dos bombeiros, prefeitura e ambulâncias. Em Curitiba foram 176 postos reabastecidos ontem.

Contudo, apesar do lento retorno ao abastecimento, o prejuízo continua crescendo diariamente.

Com o comprometimento da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA)  de colocar um fim na greve, novo fôlego foi tomado por governo e pela população, cuja aderência ao apoio grevista começou a despencar desde segunda-feira.  Vale lembrar que a confederação representa 120 sindicatos de caminhoneiros autônomos em todo o país.

Uma vez que os autônomos anunciaram estar satisfeitos com o acordo, Polícia Rodoviária Federal (PRF) garantiu que vai endurecer as ações de segurança nas rodovias que contêm pontos de bloqueio, principalmente no que diz respeito a garantir a circulação de cargas prioritárias, atuando de forma coordenada com a Polícia Militar (PM) e com as Forças Armadas.

Apesar de o movimento perder força e apoio, 18 estados permanecem com bloqueios.

Como já havia afirmado antes, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, afirmou que a paralisação não é mais de seus colegas de estrada, mas sim de pessoas que querem "derrubar o governo".

Ainda hoje, alguns caminhoneiros (e, segunda a conta da Associação são cerca de 250 mil) que querem deixar os bloqueios têm sido hostilizados e até ameaçados (vide vídeo), bem como donos de postos de gasolina. Os serviços de Inteligência das polícias e do Exército apontam a participação de infiltrados que tem como único objetivo criar caos para prejudicar um governo já moribundo.

Para a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em pronunciamento ontem, a paralisação de caminhoneiros não tem somente como consequência uma crise de abastecimento, mas já atinge direitos fundamentais no país. “É certo que há o direito à greve que há o direito ao protesto e à reivindicação, mas também há uma responsabilidade de um abuso da situação, que possa resultar em prejuízo a indivíduos, ao público e à sociedade, notadamente na área de serviços públicos e de utilidade pública”, disse.

Ela cobrou que os membros do Ministério Público  trabalhem para fazer valer a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que na última sexta-feira determinou o desbloqueio de vias sob pena de multas de até R$ 100 mil por hora a quem desobedecer.

Para quem acha que essa história de ‘infiltrados’ é ‘teoria da conspiração’, uma operação policial para desobstruir rodovias no Maranhão prendeu sete manifestantes que não eram caminhoneiros. “É prova de que as palavras do presidente da Abcam são certas. Existe sim, infiltração indevida no movimento”, disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

Para o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen: “Se isso é fruto de uma grande articulação ou carona no ambiente de contestação, de protesto, é difícil de avaliar. Mas hoje, no dia de hoje, o problema é muito menos dos caminhoneiros e mais das ações de oportunistas que tentam atrapalhar a volta à normalidade”.

Alguns culpam intervencionistas saudosos do Regime Militar que têm, em alguns pontos, perdido a linha. Outros apontam para ex-lideranças sindicais de esquerda, que não aceitaram a queda do Imposto Sindical Obrigatório. Alguns caminhoneiros e donos de posto dizer ter sido ameaçados.

Entre os principais nomes daqueles que afirmam não ter aceitado o acordo com o Governo estão Wallace ‘Chorão’ Landim (filiado ao partido Podemos) e um advogado, além de ex-candidato a prefeito pelo PSC da cidade de Ituiutaba (MG), André Janones, que já foi, inclusive, filiado ao PT.

Em um vídeo visto 4,4 milhões de vezes, Janones afirma, ao lado de Chorão: “Nós vamos derrubar esse governo ilegítimo, nós vamos derrubar a Rede Globo. Nós vamos mostrar que não tem ninguém mais forte que um povo, não”.

O Movimento NasRuas lançou nota na qual critica duramente a paralisação dos caminhoneiros, afirmando: “O NasRuas gostaria de frisar que os caminhoneiros não pediram a redução da gasolina e do álcool, não foi pedida nenhuma medida que atenda aos anseios da população em geral. Em alguns pontos de parada se via o pedido de voto 100% impresso, melhorias nas condições das estradas e da segurança pública”, continuando: “NasRuas os apoiou, esteve presente em várias paradas, ajudando com alimentos, água, kit de higiene, filmando os caminhoneiros e lhes dando publicidade”, e concluindo, “Agora nos resta esperar, para ver como ficarão os poucos caminhoneiros que têm noção do fato de que as pautas da categoria não só são egoístas, como prejudicam o povo que acaba de sofrer um aumento na gasolina, para subsidiar a baixa do diesel. A mudança no Brasil não virá a galope, não podemos terceirizar o problema, mais uma vez, para as Forças Armadas, nem para um salvador da pátria, porque não há tal pessoa”.

A expectativa, por ora, é de que tudo possa estar o mais perto possível do normal até sexta.


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Ricardo Latorre

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