Blumenau ainda espera ter um estádio de futebol?

Blumenau ainda espera ter um estádio de futebol?
Foto: Divulgação

Monday, 20 February 2017

Quem tanto reclama de não termos esquece o que fizemos com o Aderbal (o velho Deba) e ignora todas as outras modalidades nas quais nós, verdadeiramente, somos campeões.

Esta semana deve ocorrer em Brasília mais uma reunião a respeito da possibilidade de obtenção de verba para construir um estádio municipal para Blumenau.

Entusiastas do futebol se dividem: alguns acreditam que essa seja a luz no final de um túnel de burocracia e longas promessas vagas, porém outros já não acreditam mais em apenas uma das muitas vezes em que se falou sobre a cidade ter um estádio municipal.

Se bem que a cidade já teve. Lá na Rua das Palmeiras. Onde hoje jaz um terreno baldio.

A verdade é que Blumenau tem demandas muito mais urgentes do que um estádio de futebol e essas são aqueles que, de fato, podem trazer benefícios reais para a comunidade.

Na área da Educação, por exemplo, temos a extensão da UFSC que merece investimento para crescer, pois com ela crescem também as oportunidades dos nossos jovens, nossas expectativas para o futuro e até mesmo a economia. Temos o grave problema que são as áreas de gargalo no trânsito, que vão exigir pontes, ligações complexas entre bairros e muitas obras a serem barganhadas com o Governo Federal. Isso sem mencionar o pouquíssimo número de hospitais que nossa cidade tem e a insuficiência de efetivo e equipamento na Segurança Pública, que é dever do governo estadual.

Ter um estádio municipal seria interessante? Claro que seria. Mas não mudaria nada. Nós já tivemos. Já o lotamos para assistir jogos que um time que levava o nome da nossa cidade. E qual foi o destino dele? Foi demolido para dar lugar a... nada. Absolutamente nada.

Não temos um estádio municipal assim como não temos um Teatro Municipal, pois o Carlos Gomes é propriedade privada (e graças a Deus que temos o Carlos Gomes).

Claro que muitos vão dizer que essa verba que teoricamente (grife-se a palavra ‘teoricamente’) o Governo Federal poderia liberar para a cidade é através do Ministério dos Esportes e, portanto, só poderia ser usado para fins desportivos. Certo, compreendemos isso.

E é por essa compreensão, também, que vemos um estádio municipal como desnecessário no momento. Convenhamos... o futebol nunca foi uma paixão avassaladora para nossa cidade. Pouquíssimas foram as nossas façanhas nesse esporte até quando tínhamos um estádio lotado e um time que levava nosso nome na camiseta. Então, até dentro dos esportes, há maiores prioridades.

O vôlei blumenauense exporta campeões, nosso basquete tem um representante na NBA, nos destacamos de forma muito positiva em esportes aquáticos, em competições com bicicletas, no campo das artes marciais e temos até mesmo uma campeã mundial em halterofilismo.

Mas parece que nenhum desses méritos é considerado.

Treinadores de jogos de quadra precisam dar o dobro de si para conseguir apoio para que seus times vencedores continuem vencendo. O Clube Náutico América ainda vive na incerteza de sua sede, os lutadores de Jiu-Jítsu têm que apelar às famílias para disputar fora do Brasil e a fisiculturista Ana Rosa Castellain se tornou campeã sem apoio institucional algum.

É justo que enquanto um esporte que não traz nada além de promessas não cumpridas tenha mais vantagens do que aqueles que lotam estantes com troféus? Não. Não é.

Não é justo e nem inteligente. A vocação blumenauense – que sempre se portou com um ponto fora da curva brasileira – não é o futebol. No passado esse esporte teve sua chance, mas terminou. Nós perdemos a oportunidade de ter reconhecimento nos campos quando não reconhecemos nossos próprios talentos. Vamos fazer isso de novo com outros esportes?

Enquanto pessoas ainda debatem calorosamente uma falsa promessa do governo de um país pouco confiável, nossos Tiago Splitter, Duda Amorim, Alberto Uda, Ana Rosa Castellain, Carlos Henrique Brito de Oliveira e Luísa Schreiber vão continuar colecionando medalhas sem o reconhecimento que merecem.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE