Aumento da passagem de ônibus: os bastidores da palhaçada

Monday, 09 December 2019
É bonitinho justificarem com uma equação matemática, mas você já viu quantos benefícios a Blumob tem ou já parou para pensar como ela chegou aqui? Está na hora de dar um basta nisso.
A partir de hoje a tarifa dos péssimos ônibus da Blumob aumenta para R$ 4,30. Você ficou indignado? Porque, se não ficou, deveria ficar.
A Agência Intermunicipal de Regulação do Médio Vale do Itajaí (Agir) foi quem determinou o aumento de R$ 0,10 baseado na clausula contratual que permite que a empresa de transporte público aumente anualmente (sempre em dezembro) suas tarifas. Quem pediu o aumento foi a empresa, mas quem autorizou foi a Agir.
O cálculo leva em conta uma equação que analisa variações no preço dos combustíveis, no salário dos servidores e nos índices de veículos automotores e de passageiro por quilômetro equivalente. Soa justo na matemática, mas não na vida real.
Breve história da Blumob
Todo mundo deve se lembrar do Consórcio Siga. Se não por usar seus serviços, pelas greves e protestos frequentes. Era a antiga prestadora de serviços de transporte urbano (ônibus) de Blumenau, composta pelas empresas Nossa Senhora da Glória, Verde Vale e Rodovel.
Eles prestavam um mau serviço e tinham contrato até 2027, beneficiando-se do cartel que criaram com a anuência da administração pública da época. De forma muito suspeita, em 2015, o Seterb fez uma intervenção administrativa no Siga com o pretexto de pagar as contas que a empresa não pagava. Ao devolverem o controle aos proprietários, segundo muitos relatos, não havia mais dinheiro em caixa para o pagamento dos funcionários.
Era uma época conturbada. Motoristas e cobradores ficavam, às vezes, meses com os salários atrasados e fornecedores simplesmente não recebiam. Quando o controle voltou ao Siga, eles não tinham como pagar e uma greve começou: na semana de Natal.
Fizemos uma crônica criando uma versão do Grinch com o ex-prefeito Napoleão Bernardes (PSD) como o vilão que roubou o natal das pessoas da cidade, afinal muitas delas dependiam dos ônibus que simplesmente não circularam durante aqueles feriados em parte por culpa da intervenção incompetente de Napoleão, cuja competência foi lastimável até o fim.
Estranhamente, meses antes do rompimento com o Siga, uma empresa desconhecida havia trazido dezenas de ônibus para a cidade, estacionados em locais muito discretos. Na época considerava-se que poderiam ser novos ônibus do Siga, mas a própria empresa desmentiu.
Em janeiro de 2016, quando Napoleão rompeu o contrato com o Siga, quase imediatamente surgiu a autoviação Piracicabana – como se dezenas de ônibus tivessem surgido do nada.
A Piracicabana é uma empresa pertencente a Henrique Constantino – dono da Gol e réu na Operação Lava Jato. Ele foi condenado, preso e fez acordo de delação premiada. Esses são os amigos do Napoleão. Lembrando, aliás, que Paulo Roberto Welzel e Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis, em delação na Lava Jato, acusaram o ex-prefeito e o ex-senador Dalírio Beber de articular um repasse com a Odebrecht nas eleições de 2012. O inquérito foi arquivado, é verdade, mas o delator descreveu o local que Dalírio de fato usava para se reunir com detalhes (o que não prova nada, obviamente).
Por conta do envolvimento de Constantino na Lava Jato e por ter manchado sua marca com os piores serviços de transporte urbano que Blumenau já viu, a Piracicabana mudou de nome para Blumob. O absurdo piora: a prefeitura chegou a bancar, na época da administração tucana, outdoors com propaganda da empresa. Você, empresário pagador de impostos, também iria adorar que a prefeitura bancasse propaganda para você, com certeza. Mas isso é um luxo que só a Blumob teve.
A cidade foi coalhada de corredores desnecessários exclusivos para ônibus, como o da Rua Itajaí (Vorstadt) onde passa apenas uma linha (507) com frequência (baixa frequência, aliás). O que só serviu para tornar insustentável o trânsito em uma região que já sofria com longas filas nos horários de pico. Hoje, se você estiver nas redondezas às 18h, esqueça ir de carro, aplicativo ou táxi. Eles praticamente obrigam você a pegar ônibus.
Ônibus, aliás, desconfortáveis que descem em terminais sem segurança, como é o caso do Terminal Aterro, onde o tráfico de drogas e até de armas acontece a olhos vistos. Linhas foram tiradas, horários foram reduzidos e todo o tipo de corte foi aplicado nos itinerários da Blumob para que a empresa lucrasse mais. E agora eles aumentam a tarifa? Aumentam. Porque você é trouxa (ou, pelo menos, é algo do qual eles têm certeza).
Você vai pagar mais por ônibus piores do que aqueles do Siga (que já eram ruins), para ter menos pontos onde descer e menos horários em terminais sem segurança alguma.
Metade das exigências que foram feitas ao Siga, não foram feitas à Blumob. E eles têm 20 anos de contrato para explorar (literalmente) o transporte público municipal. Por que? Qual a razão da empresa ter tantos benefícios que a outra não teve? Quem está por trás da Blumob? Dizem que há políticos conhecidos associados à empresa, mas por ora é apenas especulação.
E os protestos? Lembra daquelas centenas de adolescentes pelo Centro em 2015 gritando “quem não pula, quer tarifa”? Cadê esses movimentos? Onde está o advogado Célio Hohn (PCdoB), que ia buscar jovens nas portas das escolas para os protestos? Será que ele não faz mais isso porque concorda com a tarifa ou porque não pretende se candidatar (de novo) no ano que vem?
Enquanto essas perguntas continuam no ar, você paga R$ 4,30 por pessoa ou R$ 4,28 se tiver o cartão Blumob (sim, vão te dar o maravilhoso desconto de R$ 0,02... guarde isso por 300 anos e compre um carro).
Uma dica importante
Os protestos de fato são uma grande inconveniência para os blumenauenses porque pioram um trânsito que já é péssimo. Então... que tal parar de usar ônibus e começar a andar de bicicleta ou pegar um carro de aplicativo.
Façamos uma conta.
Se você está na região do Trevo da Tomio (Velha) e precisa ir ao Centro de Uber ou 99 às 15h (horário em que esse artigo está sendo escrito), a média de valor é de R$ 10. Você e mais duas pessoas pagariam R$ 12,9 de ônibus. Vá de Uber.
Já no caso de você estar nas redondezas do 23° Batalhão de Infantaria (Garcia), precisando ir ao Centro também, o valor é de cerca de R$ 9. O valor que você e outra pessoa pagariam num ônibus. Vá de 99.
Contudo, se você estiver na região do City Figueira (Vorstadt) a média são os mesmos R$ 9.
Já se você estiver na Uniasselvi (Salto Norte) e, mais uma vez, precisar ir ao Centro, o valor fica entre R$ 20 (Uber) e R$ 14 (99) no horário supracitado. É mais caro do que os R$ 4,30, mas você vai ter ar-condicionado, conforto e não vai ser assaltado. Aliás... se estiver com três amigos, vai pegar menos no 99 do que pagaria no ônibus, que daria cerca de R$ 17,20.
Logo, na medida do possível, boicote os ônibus. Prefira carros de aplicativo, aplicativos de carona, carona com vizinhos ou colegas de trabalho, bicicleta, jet-ski ou até caminhando. Se a empresa perceber que as pessoas não são tão trouxas quanto ela acha que são, o mercado vai fazê-la decidir: reduzir seus preços ou quebrar. E nenhuma empresa quer quebrar.