Blumenau é a cidade mais atingida pela Covid-19

Blumenau é a cidade mais atingida pela Covid-19
Foto: Reprodução

Wednesday, 08 July 2020

Como chegamos a esse ponto? Quais os erros do Poder Público? Até onde vai a responsabilidade das pessoas?

A mórbida ‘disputa pelo primeiro lugar no ranking do coronavírus’ em Santa Catarina é repleta de reviravoltas. Quando o problema se acentuou, em março, Florianópolis e Joinville eram as mais afetadas, com quatro casos cada. O que é natural, considerando que são as duas maiores cidades do estado. Blumenau e Chapecó estavam, na época, com dois casos cada uma. Tomando como referência o dia 21 de março.

Em 21 de maio Chapecó já havia passado as outras três com 684 casos, sendo seguida por Florianópolis (668), Blumenau (550) e Joinville (330). Em 26 de junho Blumenau, então com 1.956 casos, havia passado Florianópolis (1.977), estando atrás de Chapecó (2.661) e muito a frente de Joinville (1.699).

Infelizmente, neste sábado (04/07), Blumenau ultrapassou Chapecó com 2.892 casos, se tornando a cidade mais contaminada pela Covid-19 em Santa Catarina. Ontem, terça, dia 7 de julho, nossa cidade estava com 3.274 casos confirmados contra 3.166 de Joinville (maior cidade do estado), 3.013 de Chapecó (anteriormente com os piores índices) e 2.403 de Florianópolis (a capital catarinense).

Citamos apenas as cidades acima pela relevância para o estado e para nossa região, mas lembrando que os números de Balneário Camboriú, Concórdia e Itajaí também estão altíssimos.

Já são 14 óbitos em Blumenau. Cerca 3,4% das 420 mortes estão em nosso município.

O poder público

A tentativa de repassar a responsabilidade praticamente virou um esporte olímpico. Durante a época na qual o comércio estava fechado, a Prefeitura responsabilizava o Governo do Estado que, por sua vez, dizia depender do Governo Federal. O presidente, quando não estava repassando a mesma responsabilidade para o Legislativo e o Judiciário, a devolvia a estados e municípios.

Em Blumenau a reabertura do comércio trouxe certo alívio para os comerciantes, mas elevou a preocupação com a propagação do vírus. Iniciava-se um impasse que poderia ter graves consequências eleitorais: se o prefeito cedesse demais na reabertura da economia, seria acusado de ser leviano com a saúde pública... porém, se não permitisse as pessoas retomarem seus trabalhos, iria ser visto como alguém que estava permitindo que famílias passassem necessidades.

A cidade voltou a funcionar. Mais testes passaram a ser feitos. Naturalmente, o número de contaminados aumentou. Isso criou uma nova onda de pânico nas pessoas: quem fechou seu negócio durante março e abril, talvez não conseguisse suportar financeiramente mais um fechamento.

Então novas regras foram criadas. Algumas boas. Outras, incoerentes.

As regras

Os supermercados passaram a permitir a entrada de apenas uma pessoa por grupo. Isso pode até evitar aglomerações na parte interna e filas menores, mas criou aglomerações insensatas do lado de fora. Idosos e pessoas com necessidades especiais foram as mais prejudicadas. E, compreenda: necessidades especiais não são apenas condições óbvias, como a cegueira. Casais onde um não sabe escolher os produtos e outro não sabe passar o cartão no caixa existem. E estão se tornando problemas para o andamento das filas. Pessoas que, por conta do fechamento das creches, precisam entrar com seus filhos para comprar comida e acabam sendo proibidas, também são outro problema. Foi uma ação muito mal planejada.

Idosos não podem pegar ônibus. Isso não é ilegal? Não é um tipo de discriminação? Você só pode pagar com aquele cartão horrível de fidelidade da Blumob. Isso não é venda casada? Essas pessoas também precisam se locomover e nem todas têm acesso a veículos. Obviamente, quem aprovou foi a Blumob, que em pleno momento de lotação reduzida fica desobrigada a transportar idosos gratuitamente. Conveniente, não?

Para piorar, alguns estabelecimentos estão funcionando com horário de atendimento reduzindo. E isso é absurdamente ridículo. Se a meta é evitar aglomerações, então um horário reduzido faz exatamente o contrário, obrigando as pessoas a se aglomerarem no curto espaço de tempo que têm para cumprir suas necessidades.

As pessoas

Por outro lado, muitas pessoas não ajudam. Se a idéia é não aglomerar dentro dos supermercados, qual é a lógica de ir em bando quando se pode entrar apenas uma pessoa por grupo? Nas primeiras semanas era inacreditável a aglomeração de gente sem a menor noção de bom-senso aglomerada do lado de fora desnecessariamente, esperando quem entrou.

Você está com saudade de ir ao barzinho? Certamente os donos das casas noturnas também estão com saudade de reabrir. Mas nem por isso você precisa ir para um posto de gasolina estacionar na pista e encher a cara enquanto escuta música alta no seu carro. Quanto maior o risco de contaminação, mais tempo vai levar para que a sua balada preferida possa reabrir. E, pior: se demorar demais, pode ser que a crise bata com muita força e nem sequer reabra.

O governo tem que fazer a parte dele. A prefeitura deve conter o avanço da crise sanitária assim como da recessão econômica. Mas você pode ajudar. Sabe como? Não atrapalhando. Não sendo irresponsável, evitando exposição desnecessária e proliferação de notícias falsas.

Assim, quem sabe, ainda tem tempo de acontecer o Réveillon.

Abaixo, gráficos de comparação entre a evolução dos números totais de contaminados, novos números diários e comparação com as maiores cidades:

 


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Ricardo Latorre

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