Vamos falar sobre o novo fechamento de Blumenau?

Vamos falar sobre o novo fechamento de Blumenau?
Foto: Giovanni Silva

Tuesday, 21 July 2020

De um lado pessoas mortas. Do outro, gente falida desesperada e sem renda. Vamos entender como chegamos nesse ponto e como evitar que isso se agrave.

Blumenau amanheceu com as ruas desertas nesta terça (21/07) por conta das novas medidas de contenção do Coronavírus anunciadas pela prefeitura ontem.

Foram fechados – novamente – os shopping centers, comércios de rua, galerias, restaurantes, lanchonetes, food parks, auto-escolas, cursos profissionalizantes, academias, pet shops, barbearias, salões de beleza, cabeleireiros, esteticistas, clubes, entre outros. O decreto é válido por sete dias e os estabelecimentos alimentícios só podem funcionar por delivery.

O Sistema Nacional de Emprego (Sine), correios, cartórios, cemitérios, lojas de materiais de construção, consultórios médicos, odontológicos, psicológicos, fisioterapêuticos, veterinários, agropecuárias, oficinas mecânicas, postos de gasolina, táxis, transportes por aplicativo, contabilidades, escritórios de advocacia, conveniências, farmácias, bancos, lotéricas, mercearias e padarias estão autorizadas a abrir.

Hotéis e motéis estão proibidos de aceitar novos hóspedes por uma semana.

O transporte público e a circulação de pessoas idosas fica proibido por 14 dias, sendo que aqueles acima de 65 anos só poderão sair de casa para exercer atividades fundamentais, como ir ao mercado ou à farmácia. Atividades artísticas, cinemas, teatros e casas noturnas mantém sua proibição de funcionamento. Cultos religiosos e missas também estão proibidos por 14 dias.

A Área Azul está suspensa e a industria só pode retomar as atividades se servir áreas consideradas fundamentais, como Saúde e Alimentação.

Assim como aconteceu em março, os setores econômicos foram negativamente surpreendidos com o retorno das restrições.

A ação é uma medida extrema que, até certo ponto, era previsível por conta do disparo de casos de Covid-19, muitas vezes motivado pela irresponsabilidade de muitas pessoas. Não era raro passar por algum local e ver dezenas de pessoas se aglomerando, ávidas por alguma ‘balada’. No entanto, o aviso brusco foi um golpe violentíssimo contra a economia local.

Uma crítica reconte em março foi que o Governo do Estado suspendeu as atividades econômicas da noite para o dia sem que empresários, funcionários e consumidores tivessem tempo hábil para se preparar. Mais uma vez foi o que houve, sendo que a atual restrição repentina partiu da prefeitura.

Pior do que manter empresas fechadas é possibilitar que abram para fechá-las abruptamente pouco tempo depois. No caso do ramo alimentício isso é ainda pior: donos de restaurantes, bares e lanchonetes compram insumos... perecíveis. Então, grosso modo, o governo do estado permitiu que toneladas que comida estragassem em março por ser irresponsável em sua pressa de agir mal se comunicando e agora toneladas também vão se estragar por conta da mesma irresponsabilidade da prefeitura.

Ao tomar tais decisões os gestores públicos – que muitas vezes nunca geraram riqueza para o país, sendo funcionários públicos de carreira e não compreendendo as nuances de administrar empresas – obrigam os empresários a arcar com os altos custos de manter seus negócios (mesmo fechados). Empresários que pagam os altos salários de tais gestores.

Que fique claro que o fechamento é absolutamente compreensível e até necessário, mas a forma como foi feito, com a velocidade e o total desrespeito pelos setores econômicos que sustentam aqueles que os fecham é algo absolutamente inadmissível.

Em um primeiro momento a prefeitura chegou a considerar limitar o horário dos supermercados, impedindo a abertura nos domingos, por exemplo. A Associação Catarinense de Supermercados (Acats) ameaçou entrar com uma liminar e o Executivo Municipal recuou, permitindo que os mercados continuassem abrindo suas portas todos os dias da semana.

Para muitos dos prefeitos de municípios do Vale do Itajaí, Mario Hildebrandt está sendo rígido demais, deixando Blumenau isolada em sua posição em relação às demais cidades.

A verdade é que esse é um ano eleitoral. Nenhum deles quer que mortes ou falências constem historicamente em suas gestões. Para eles o ideal seria que o governador, Carlos Moisés, reassumisse a frente nessa questão. Mas ele não vai. Moisés, que caiu de pára-quedas no governo mirando um cargo muito menor em troca de uma candidatura que nunca achou que daria certo, não tem coragem ou vontade para assumir a liderança nesse momento. Ele, inclusive, já tem problemas o bastante com os quais se preocupar se quiser manter-se no cargo.

Resumo

Lembra daquela cena grotesca do Neumarkt reabrindo com uma boiada desesperada na porta e um sujeito tocando uma canção? Pois é. É ilustrativo o quão as pessoas não têm noção do que fazem. O grupo Almeida Júnior realmente investiu na prevenção, mas por causa da falta de bom senso de alguns clientes e do acéfalo que organizou aquele espetáculo dantesco o caso virou piada nacional. E esse tipo de gente sem noção está sendo responsável pelo novo fechamento.

Em qualquer bairro você pode ver algum estabelecimento – como um food truck, uma tabacaria ou um assadão com música alta – aglomerando dezenas de pessoas. Ou carros lotando as pistas de postos de gasolina. Quem esqueceu as ocorrências de festas, como bailes funk, na cidade?

Muitas pessoas andando sem máscara na rua. Não a maioria, de fato, mas um número considerável. Não tem como olhar o crescimento obsceno dos casos de Covid-19 e se espantar que tenha sido necessário fechar tudo de novo. Mas tem, sim, como criticar a forma com a qual foi feito.

Geralmente ser prefeito pré-candidato à reeleição é bom. Mas nesse caso é uma pedra enorme no sapato. Hildebrandt sabia que precisaria pedir votos na eleição (que acontece daqui a pouco). Como pedir votos para quem adoeceu, perdeu o emprego, fechou uma empresa, está no hospital, faliu ou perdeu um ente querido? É uma encruzilhada.

Para os mais íntimos, os termos ‘Simulação de Kobayashi Maru’ e ‘Vitória de Pirro’ explicam muito do que Hildebrandt passa hoje. Na melhor das hipóteses sua imagem (já arranhada pela pandemia) vai se desgastando e o que um dia foi seu favoritismo absoluto vai se distanciando para nomes fortes como de João Paulo Kleinübing ou Odair Tramontin. E isso não é bom para ele.

Então... é... uma decisão desesperada e atrapalhada tomada mais com o estômago do que com a cabeça fechou o comércio sem consultar os empresários e voltou grande parte dos agentes econômicos da região contra ele. Fechar as igrejas – algo que se acreditava que não faria – virou contra si também os eleitores evangélicos. E ignorar diretivas do governo federal não depõe politicamente ao seu favor em uma cidade que ainda é predominantemente bolsonarista.

Reduzir os horários de atendimento das empresas é incoerente porque quando um local que atendia por oito horas passa a atender por três você vai, obrigatoriamente, gerar aglomeração porque as pessoas vão precisar comprar antes que feche. Nesse caso, se os mercados não pudessem abrir nos domingos, a conseqüência seria lastimável.

A suspensão do transporte público junto com a Área Azul, em contra partida, é coerente e inteligente. Em São Paulo, por exemplo, foi feito o contrário: o péssimo prefeito Bruno Covas resolveu limitar a utilização de carros (sem nenhum embasamento científico) resultando em terríveis aglomerações nos meios de transporte público que culminaram numa subida brusca dos casos confirmados de Covid-19. Nisso Hildebrandt acertou. E acertou muito.

Quando isso vai terminar?

Quando houver uma vacina. A notícia boa é que as vacinas em fase de teste estão tendo excelentes resultados. Contudo, não podemos esperar até lá.

A prefeitura diz que o comércio ficará fechado por sete dias. Diziam algo parecido em março. Datas podem ser prorrogadas. Só depende de quão bem nos portemos para evitar a proliferação do vírus. Use e porcaria da máscara. Sério. Ela tira o seu ar? O coronavírus tira mais. E pode matar. Use a droga do álcool em gel e leve as mãos. Tenha educação. Blumenau sempre se gabou de ser uma ‘Europa brasileira’. Então se porte com a educação de um europeu. Porque se não passarmos a ter o mínimo de civilidade, a cidade vai ficar fechada até 2099.

Além disso, por favor, tenha prioridades. É de uma imbecilidade sem tamanho pensar em Oktoberfest (ou carnaval) agora quando sequer sabemos se as lojas estarão abertas para o Dias dos Pais, que é mês que vem. Um passo de cada vez e chegaremos longe.

Quanto a você, progressista fútil que espalha placas cretinas com os dizeres ‘fica em casa’ pela cidade. Obedeça suas próprias placas. Fique em casa. Porque elas não se penduraram sozinhas nos postes.

E, por favor, não inventem notícias falsas. Tem gente morrendo de verdade. Quando você faz uma babaquice dessa, autoridades que deveriam estar concentradas no problema real precisam parar um pouco para desmentir sua baboseira. Tenhamos bom senso. Ou estamos todos ferrados.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

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