Às portas da morte, velha mídia tenta boicotar mídia digital
Foto: ReproduçãoTuesday, 14 March 2017
Seja com demissões em massa como o recente caso da RBS, usando lobby como o Wall Street Journal contra o Pewdiepie ou se valendo da própria desunião entre produtores de conteúdo digital (assombrados por seus 'colegas' desonestos), a mídia anteriormente tradicional ainda parece achar que pode conter a internet,
A velha mídia está morrendo. Ela se debate desesperadamente, mas isso não vai impedi-la de morrer, afinal ninguém nunca ressuscitou porque estava esperneando.
As empresas mais sérias do setor – como a estadunidense Newsweek – perceberam isso faz muito tempo. Tanto que o próprio periódico supracitado, que já foi a revista mais popular do mundo, encerrou suas atividades com tiragens físicas e hoje é apenas online.
Na nossa região, sexta-feira (10/03) tivemos a triste notícia de que a RBS demitiu diversos profissionais. Curiosamente, a coirmã da colossal Rede Globo parece não ter entendido que só perdeu seu posto de ‘mais popular’ quando a então pequena RIC TV decidiu focar suas notícias nos acontecimentos locais e deixar os estaduais apenas para circunstâncias extraordinárias.
Assim o Jornal do Meio-Dia da RIC deixou o Jornal do Almoço da RBS por anos para trás, até que a gigante gaúcha da telecomunicação resolveu imitar e colocar os apresentadores Joelson dos Santos e Walther Ostermann para debater os assuntos locais.
Agora, sob o esquálido pretexto de ‘se renovar’, o Grupo RBS recua todos os passos que conseguiu avançar com Walther e Joelson anunciando que seus jornais voltaram a ser sediados em Florianópolis tendo apenas pequenos blocos regionais.
O péssimo RBS Notícias – sofrivelmente dirigido e apresentado – já dá um pequeno vislumbre do quão pode ser negativa a política de macrovisão que a empresa está adotando.
Mas no caso catarinense é só uma mídia agonizante querendo morrer mais rápido. O que preocupa é internacional.
Hoje o Youtube – plataforma de vídeos pertencente a hercúlea Google – tem mais audiência que qualquer emissora de televisão no planeta. O que os aponta como o futuro do entretenimento, assim como Netflix e Dailymotion.
"Hoje, estou feliz em anunciar que só a versão mobile do Youtube já alcança mais pessoas entre 18 e 49 anos do que qualquer outra rede de televisão — seja aberta ou por assinatura. Na verdade, nós alcançamos mais pessoas entre 18 e 49 anos durante o horário nobre do que todos os outros 10 maiores programas da televisão norte-americana combinados", disse a CEO com base em estudo da Nielsen encomendado pelo Google.
E eis que surge o ‘Problema Pewdiepie’. Para quem ainda não sabe, o comediante sueco Felix Kjellberg, mais conhecido como Pewdiepie, é o maior youtuber do planeta com 54,2 milhões de inscritos em seu canal, 12,1 milhões de seguidores no Instagram, 9,7 milhões no Twitter e 7,3 milhões de curtidas no Facebook. Sua audiência supera a dos maiores programas de TV.
E eis que essa popularidade começou a incomodar a antiga grande mídia, hoje moribunda. Tentando se valer de uma piada antissemitista de mau gosto feita pelo youtuber, o Wall Street Journal publicou nesta segunda (13/03) uma extensa matéria sugerindo que o comediante faz, entre outras coisas, apologia ao nazismo. O que é, para qualquer um que o conheça, uma acusação despropositada.
Como se não bastasse, o jornal – que já foi um dos maiores do mundo e hoje amarga com a tendência de redução de tiragem – foi ao Google e à Disney (apoiadores de Pewdiepie) exigir que se posicionassem contra ou a favor do comediante. Ambas cederam à pressão e retiraram investimentos em seu canal.
Não que isso faça grande diferença para ele, que fatura mais de US$ 1 milhão por mês, mas alerta para algo que pode vir a ser usado pela imprensa tida como ‘tradicional’ no Brasil.
As operadoras de telefonia já tentaram boicotar a internet para continuar parasitando seus clientes e não conseguiram (pelo menos não totalmente). A internet já se mostrou capaz de derrubar governos (lembra do Outono Árabe?) e não é um pedaço de papel sujo usado para forrar gaiolas que irá lhe deter. Talvez isso até a atice.
Foi o que aconteceu com o ator Shia Labeouf.
Ferrenho opositor do presidente Donald Trump, Labeouf começou uma campanha em lives (vídeos ao vivo na internet) que disse que manteria até o final do mandato do republicano. Ao perceber que estava tendo problemas com seus protestos, arranjou um lugar secreto onde hasteou uma bandeira escrito ‘ele não vai nos dividir’ e colocou uma câmera para gravá-la 24 horas.
Os brilhantes (e desocupados) usuários da ótima rede social 4chan analisaram as filmagens, compararam os aviões que passavam com rotas de vôo, estudaram a posição do sol, traçaram a direção cartográfica das constelações e depois de traçar o perímetro no qual a bandeira deveria estar saíram buzinando para que outros, que assistiam a live, dissessem pelos barulhos das buzinas se estavam perto ou longe do local secreto. Resultado: em menos de 24 horas acharam a bandeira de Labeouf, a roubaram e substituíram por um boné da campanha de Trump.
Eis uma lição de humildade que Labeouf aprendeu, o Wall Street Journal está prestes a aprender e esperamos que a imprensa nacional não precise conhecer.
O fato é que a regionalidade é tendência e a internet compreende isso como ninguém. Blumenau, por exemplo, tem grandes sites de notícia, como nós, o Informe Blumenau ou o Controversas, mas os outros componentes do mercado acabam atrofiando o setor.
O ‘amador queridão’, por exemplo, que faz propaganda de graça para qualquer um que pedir é ainda pior para o mercado do que o ‘estudante oportunista’ que vende espaços em troca de querela, porque isso prostitui o mercado de uma forma que dificulta as empresas que tentam fazer um trabalho sério, pois o preço justo sempre vai parecer caro frente à esmola.
Outro elemento que é nocivo ao mercado é a ‘raposa velha’ que está a décadas na comunicação, mas acaba de se aventurar na internet agora e usa seu nome para convencer clientes de que seu trabalho é o mais conhecido. Ao perceber que não tem retorno, o cliente não vai pensar que seu ‘amigo’ mentiu, mas sim que ‘a internet não vende’, quando na verdade ele só vendeu no lugar errado porque caiu num conto de vigário.
E, talvez, o pior tipo de todos, o ‘falso moralista’. Esse sujeito é aquele que surgiu ontem, cresceu da noite para o dia e, de repente, todo mundo ouviu falar, mas ninguém viu. Afinal ele impulsionou publicações pagas em redes sociais e contratou bots – que são programas criados para dar falsas visualizações em um site – para convencer as pessoas de seu talento. Ele é o típico dono de uma fanpage com 200 curtidas em uma região com apenas 150 pessoas,
O problema desse – ainda mais do que dos anteriores – é que ele age como um câncer no mercado, desacreditando empresas que fazem trabalhos sérios, profissionais que ficam horas debruçados sobre pautas ou passam o dia correndo atrás de imagens e notícias.
Recentemente foi descoberto que um canal do Youtube chamado ‘Café e Cinema’ usava bots inseridos em um site de animè (animação japonesa). Sempre que alguém dava play em um episódio, um dos vídeos desse canal começava a rodar automaticamente, invisível e sem som. Assim, sem perceber, milhões de pessoas lhes davam visualização sem saber que estavam dando.
Por isso sempre dizemos que as empresas devem apoiar um projeto para agregar aquele valor à sua marca e, acima de tudo, conhecer profundamente com quem vão trabalhar.
No momento em que o conteúdo for mais relevante que a forma, seus produtores acordarem valores justos e os sites forem realmente transparentes em relação aos seus acessos, então não haverá mais problemas como o clickbait (apelação para atrair público para conteúdos, geralmente, desinteressantes) e, aí sim, a mídia tradicional vai ter que entender que não pode manter o monopólio do mercado ou morrer tentando continuar com esse modelo ultrapassado.
Mas até lá, muita coisa ainda vai acontecer.