Publicar ou não as imagens do parto nas mídias sociais?
Foto: ReproduçãoFriday, 11 August 2017
Tema gerou bastante discussão no III Congresso Nacional Parto Humanizado, que acontece nesta semana.
A divulgação, muitas vezes ao vivo, de imagens de partos nas mídias sociais foi questionada durante o III Congresso Nacional Parto Humanizado, que acontece desde quarta-feira (09/08) no auditório Antonieta de Barros da Assembleia Legislativa.
“Divulgar imagens é importante, mas no futuro não será necessário, a razão de demorar dois meses para entregar o material é para o casal sentir o parto, para depois complementar com esta visão externa”, afirmou Vivian Scagglantte, fotógrafa especializada em registrar partos humanizados.
Vivian citou dois casos em que as imagens foram divulgadas. “Uma doula comentou comigo que a fotógrafa mostrou para gestante a foto e perguntou ‘posso divulgar?’ A gestante disse que sim, ela autorizou, mas está tudo bem?”, perguntou a fotógrafa, que ponderou se durante o parto a mãe tem condições de autorizar a publicação de imagens. “Está em um momento de autorizar nada”, opinou a fotógrafa.
No segundo caso, de acordo com Viviam, a fotógrafa que acompanhava o parto estava transmitindo as cenas ao vivo. “’Você não pode fazer isso, o parto está acontecendo’, disse a doula. Mas a gestante ouviu e falou: ‘eu deixei fazer isso’”, relatou a especialista em registro de partos, acrescentando que atualmente somente aceita fotografar/filmar o nascimentos de bebês após reunião com os pais. “Marido e mulher”, enfatizou.
Para Mariana Salvatti Mescolloto, advogada e militante da Associação de Doulas de Santa Catarina, o registro de partos tem aspectos positivos e negativos. “Trata a mulher como protagonista, ela está no centro da cena”, avaliou Mariana, que ressaltou o perigo da reprodução de estereótipos, como partos em banheiras com pétalas de rosas. “O celular na mão coloca nosso ritmo de vida em uma perspectiva mais acelerada e esse modo de convivência com as mídias afeta a nossa socialização e pode nos tornar pessoas que passam por processos políticos mediados pelas máquinas”, alertou a advogada.
Fim da ética universal
Inara Fonseca, jornalista e doula, além de doutoranda em Cultura Contemporânea pela Universidade Federal do Mato Grosso, defendeu o fim da ética universal. Segundo Inara, a ética normativa, presente na Filosofia desde Platão até Immanuel Kant, “trata as pessoas de maneira genérica, com respeito ao direito de todos”.
Porém, conforme Inara, e expressão “todos” exclui grande parte da população. “Esse 'todos' é uma parte muito pequena da população; as mulheres, os negros, os indígenas não são todos”, argumentou a jornalista, que acusou o princípio universalista da ética tradicional de “racista, machista, classista e heterocentrado”.
Para a pesquisadora, a solução é pensar em outra ética. “Não somos iguais perante a lei, a igualdade contratual é um mito, não há justiça sem equidade social, e equidade é diferente de igualdade, equidade é dar condições sociais para que sejamos iguais, é tratar os indivíduos nas suas especificidades, uma mulher negra não é igual a uma mulher indígena, por isso não faz sentido uma ética universal”, justificou.
Para Inara Fonseca, o profissional de saúde que posta foto no Facebook na hora do parto tem consciência de que está errado. “Por que continua fazendo se ele sabe que não é ético, se conhece que pode ter sanção penal? Por isso não há possibilidade de ter ética nas mídias sociais se a gente não pensar em reorganizar a sociedade, não princípios universais, mas princípios que levem em conta as múltiplas histórias”, sugeriu a pesquisadora.