IPCA: Brasil tem deflação de 0,36% em agosto

IPCA: Brasil tem deflação de 0,36% em agosto
Foto: Imagem meramente ilustrativa

Friday, 09 September 2022

É o menor índice para um mês de agosto desde 1998, ou seja, em 24 anos. Nos últimos 12 meses, a alta é de 8,73%, a menor desde junho de 2021.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em -0,36% em agosto, segundo divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (9). Foi o segundo mês seguido de deflação.

O índice é o menor para um mês de agosto desde 1998 – ou seja, em 24 anos. Mais uma vez, a queda foi influenciada principalmente pela retração nos preços dos combustíveis.

A queda foi menos intensa do que a registrada em julho (-0,68%), quando a taxa foi a menor desde o início da série histórica da pesquisa, em janeiro de 1980. Desde o plano Real, o Brasil registrou deflação 16 vezes.

Alguns fatores explicam a queda menor em relação a julho, segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. Um deles é a retração menos intensa da energia elétrica (-1,27%), que havia sido de 5,78% no mês anterior, em consequência da redução das alíquotas de ICMS.

Também houve aceleração de alguns grupos, como saúde e cuidados pessoais (1,31%) e vestuário (1,69%), e a queda menos forte do grupo de transportes em agosto.

Acumulado

Já nos últimos 12 meses, a alta é de 8,73%, a menor desde junho de 2021 (8,35%) – com isso, o indicador voltou a ficar abaixo dos dois dígitos pela primeira vez em um ano. Nos 12 meses imediatamente anteriores, a alta havia sido de 10,07%.

No ano, o IPCA acumula alta de 4,39%. Em agosto de 2021, a variação havia sido de 0,87%.

Combustíveis são mais uma vez o destaque

Assim como em julho, a deflação veio principalmente da queda no grupo dos Transportes (-3,37%), que contribuiu com -0,72 ponto percentual (p.p.) no índice do mês. O destaque vem mais uma vez da queda no preço dos combustíveis (-10,82%).

Segundo o IBGE, em agosto, os preços dos quatro combustíveis pesquisados caíram: gás veicular (-2,12%), óleo diesel (-3,76%), etanol (-8,67%) e gasolina (-11,64%) – neste último caso, o impacto negativo foi o mais intenso (-0,67 ponto percentual) entre os 377 subitens do IPCA.

O IBGE lembra que o preço da gasolina nas refinarias foi reduzido em R$ 0,18 por litro em 16 de agosto.

Já os preços das passagens aéreas (-12,07%) também recuaram, após quatro meses de altas. Para o gerente da pesquisa, a sazonalidade é uma das explicações para esse resultado.

Além disso, o grupo Comunicação também teve deflação, com impacto de -0,06 p.p. no índice geral. No lado das altas, o destaque foi Saúde e cuidados pessoais, que contribuiu com 0,17 p.p. em agosto. Já Alimentação e bebidas desacelerou em relação a julho, com impacto de 0,05 p.p. O grupo Vestuário teve a maior variação positiva no IPCA de agosto.

Veja abaixo:

  • Alimentação e bebidas: 0,24
  • Habitação: 0,10
  • Artigos de residência: 0,42
  • Vestuário: 1,69
  • Transportes: -3,37
  • Saúde e cuidados pessoais: 1,31
  • Despesas pessoais: 0,54
  • Educação: 0,61
  • Comunicação: -1,10

Tomate, leite e luz: outros destaques de queda

No grupo Alimentação e bebidas, o resultado da alimentação no domicílio (0,01%) ficou próximo da estabilidade. Houve altas em componentes importantes na cesta das famílias, como o frango em pedaços (2,87%), o queijo (2,58%) e as frutas (1,35%).

Por outro lado, ocorreram quedas expressivas nos preços do tomate (-11,25%), da batata-inglesa (-10,07%) e do óleo de soja (-5,56%).

Além disso, o preço do leite longa vida, que havia subido 25,46% em julho, caiu 1,78% em agosto, contribuindo com -0,02 p.p. no índice do mês.

A variação da alimentação fora do domicílio (0,89%) ficou próxima à do mês anterior (0,82%). Enquanto a refeição passou de 0,53% para 0,84%, o lanche desacelerou de 1,32% para 0,86%.

Já no acumulado de 12 meses o grupo alimentação e bebidas subiu 13,43%, bem acima da inflação de 8,73% no mesmo período. Outros grupos com variação maior foram Artigos de residência, Vestuário e Saúde e cuidados pessoais.

Já os combustíveis acumulam queda de 7,11%, contribuindo para a alta menos acentuada nos transportes.

Em Habitação, houve queda na energia elétrica residencial no mês de agosto (-1,27%), embora menos intensa que a do mês anterior (-5,78%).

Altas em roupas, higiene pessoal e plano de saúde

A maior variação positiva no IPCA de agosto veio do grupo vestuário (1,69%), cujos preços haviam desacelerado no mês anterior (0,58%). As roupas femininas (1,92%), masculinas (1,84%) e os calçados e acessórios (1,77%) foram as maiores influências no avanço do grupo.

Já a alta de 1,31% no grupo de saúde e cuidados pessoais é relacionada aos aumentos dos itens de higiene pessoal (2,71%) e plano de saúde (1,13%).

No caso do plano de saúde, foi incorporada a fração mensal referente ao reajuste de 15,50% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para os planos novos.

No grupo Educação, nos cursos regulares (0,51%), apenas os cursos de pós-graduação (-1,46%) tiveram recuo nos preços. As maiores variações foram da educação de jovens e adultos (3,68%), das creches (1,41%) e dos cursos técnicos (1,02%).

6 em cada 10 itens pesquisados ficaram mais caros em agosto

Embora a deflação tenha ficado concentrada em poucos grupos, a alta de preços teve maior espalhamento em agosto. O índice de difusão (percentual de itens com aumento no mês) acelerou de 63% em julho para 65% em agosto. Isso significa que, dos 377 produtos e serviços investigados pelo IBGE, 245 tiveram alta de preços no mês - em julho, foram 237 em alta.

13 das 16 áreas pesquisadas registram deflação

Regionalmente, três das 16 áreas tiveram alta em agosto. A maior variação positiva foi em Vitória (0,46%), influenciada pela alta 11,16% na energia elétrica. O menor resultado, por sua vez, ocorreu em Recife (-1,40%), puxado pela queda de 16,23% nos preços da gasolina.

INPC tem queda de 0,31% em agosto

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação para famílias de baixa renda e é usado como referência para reajustes salariais e benefícios do INSS, teve queda de 0,31% em agosto. Com isso, o índice acumula alta de 4,65% no ano e de 8,83% nos últimos 12 meses. Em agosto de 2021, a taxa foi de 0,88%.

No mês anterior, também houve deflação nesse indicador (-0,60%).

Os produtos alimentícios passaram de 1,31%, em julho, para 0,26%, em agosto. Já os não alimentícios tiveram queda menor (passando de uma retração de 1,21% em julho para -0,50% em agosto).

Inflação acima da meta em 2022 e riscos para 2023

Em 2021, a inflação fechou o ano em 10,06%, bem acima do teto da meta (5,25%), representando o maior aumento desde 2015.

Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para 2022 é de 3,5% e só será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. O Banco Central já admitiu oficialmente, porém, que a meta de inflação será descumprida em 2022 pelo segundo ano seguido.

A projeção atual do mercado financeiro é de um IPCA de 6,61% em 2022. Para 2023, porém, a expectativa para o IPCA é de 5,27%.

Para o próximo ano, a meta de inflação foi fixada em 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Ou seja, crescem as apostas de um estouro do teto da meta também no ano que vem.

Mesmo com a indicação de que o pior já passou para a inflação, o BC elevou a taxa Selic a 13,75% – maior patamar em 6 anos.

Preços devem subir lentamente, dizem economistas

Economistas apontam que a inflação deve encerrar o ano em um dígito, com forte redução em relação aos dois dígitos vistos na primeira metade do ano, porém, ainda acima da meta do Banco Central de 3,5%.

"A projeção de queda da inflação não significa que os preços vão cair de maneira geral. E sim, que eles passarão a subir mais lentamente. Isso porque inflação caindo é diferente de deflação – quando os preços efetivamente caem, como vimos com a gasolina nos últimos meses", explica Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, destaca que, para o restante do ano, os efeitos da alta dos juros, arrefecimento dos preços das commodities, dos preços dos alimentos e de bens industriais, além dos combustíveis, podem contribuir para uma desaceleração da inflação. Porém, medidas fiscais que sustentem a demanda podem pressionar os preços.

"Para setembro, esperamos uma estabilidade dos preços ainda devido ao último reajuste nas refinarias e um menor efeito do corte de impostos sobre combustíveis", afirma.

O Itaú Unibanco prevê que o IPCA feche o ano em 7%, com previsão de novas reduções no índice para os meses de setembro e outubro. "A queda de preços de leite e derivados deve contribuir para deflação no grupo alimentação nos próximos meses", informa.


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Redação

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