Conheça o milagre econômico italiano

Conheça o milagre econômico italiano
Foto: Divulgação

Friday, 05 April 2024

Após anos de crescimento negativo, Itália tem recentemente se revelado um motor econômico da Europa.

Há 25 anos, junto com o irmão e o pai, Mario Congedo descobre e reforma pequenos tesouros arquitetônicos no Salento, uma península na região da Apúlia, no extremo sudoeste da Itália, o "salto da bota". "Está indo bem, novamente", comenta o arquiteto de 50 anos ao telefone.

Enquanto nos anos pré-pandemia os governos nacionais primavam por apresentar prognósticos de crescimento negativos e encabeçar os rankings de endividamento, agora a Itália é um dos motores econômicos da Europa. No primeiro trimestre de 2024, ela apresentou crescimento de 0,6% – enquanto a economia da Alemanha encolhia 0,3%.

No prazo mais longo, a terceira maior economia europeia também faz bela figura: o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, observa que desde 2019 o crescimento italiano foi de 3,8%, "o dobro da economia francesa e cinco vezes mais do que a alemã".

A bolsa de valores se beneficia igualmente do clima de euforia: em 2023, o índice FTSE MIN, que reúne as 40 maiores empresas nacionais, teve um acréscimo de cerca de 28%, mais do que todos os índices europeus.

Política fiscal frouxa e Superbonus 110

No entanto, quando a ultradireitista Giorgia Meloni assumiu o governo, em 2022, os economistas inicialmente reagiram com cautela. Em sua campanha eleitoral, o partido Irmãos da Itália (FdI) anunciara um curso nacionalista ao estilo "made in Italy", agitando contra os migrantes e sem se distanciar claramente da Rússia. Na época, a revista alemã Stern definiu Meloni como "a mulher mais perigosa da Europa".

Na política econômica, contudo, a primeira-ministra manteve basicamente o curso de seu antecessor Mario Draghi. Para o mercado de títulos de dívida, isso certamente foi positivo, pois os juros que a Itália paga para tomar dinheiro emprestado se mantêm estáveis desde então.

Numa coletiva de imprensa no início de 2024, a populista de direita tentou capitalizar para si esse boom, atribuindo o freio da economia à falta de estabilidade política passada. Contudo, Krämer rebate a tese de Meloni: "o forte crescimento econômico é facilmente explicável pela política fiscal frouxa da Itália".

Ou seja, a causa principal da bonança seriam novos empréstimos: se antes da pandemia o endividamento nacional consistia em 1,5% do produto interno bruto (PIB), nos últimos anos ele vem se multiplicando, alcançando 8,3% já no primeiro semestre de 2023.

A montanha de dívidas italiana também se eleva: em janeiro, a Comissão Europeia calculava que ela chegará a 140% do PIB até o fim de 2024, e continuará crescendo no ano seguinte. Em comparação, a quota de endividamento da França é de pouco menos de 100%, e da Alemanha, de 66% do PIB.

Por outro lado, desde o fim de 2020 Roma tem subvencionado diversas medidas de saneamento, algumas em 50%, outras mais. Porém, a favorita é o Superbonus 110, para saneamento energético, introduzido pelo Movimento Cinco Estrelas (M5S): quem reforma seu imóvel para uma maior eficiência energética, recebe de volta todos os gastos mais 10%, na forma de uma redução da carga tributária parcelável por vários anos.

Fim do milagre econômico italiano se aproxima?

Mauro Congedo não está muito entusiasmado com o Superbonus: além da inflação, que aqueceu os preços, a medida estatal teria também impulsionado muito os custos de material e mão de obra. Afinal, "se o Estado paga tudo, o povo não se importa com o tamanho da conta".

Além disso, não há quem controle os preços: diversas firmas de Nápoles, Bari ou Lecce lhe ofereceram "maquiar" os custos para cima. "Elas queriam que eu fizesse um orçamento duas vezes acima do real. Eu me recusei. É como estar roubando", critica o arquiteto.

Em geral, ele é a favor de um bônus para a modernização energética das construções, mas os proprietários deveriam arcar com parte dos custos, em vez de receber tudo do Estado. Assim, apesar de não ser muito favorável à chefe de governo, Congedo considera um mérito ela ter dado fim ao Superbonus 110. Em 2023, de fato, Meloni reduziu a 70% o incentivo para saneamento energético, e em 2024, para 65%.

No entanto, os cortes tributários do programa original reduzirão consideravelmente as arrecadações italianas nos próximos anos. Por isso, são muito bem-vindas as verbas bilionárias que estão fluindo de Bruxelas. A Itália é o país europeu que mais receberá verbas do fundo da União Europeia para reconstrução pós-pandemia: quase 200 bilhões de euros até 2026, na forma de subsídios e empréstimos.

Congedo também se preocupa que o Superbonus ainda vá persegui-lo por muito tempo, já que "os preços estão muito altos, e fizemos muitas dívidas". Mas tão cedo não lhe faltarão contratos: no momento, o arquiteto está trabalhando em oito projetos simultaneamente.


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Redação

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