Dólar opera em baixa com promessa de cumprimento do arcabouço fiscal
Foto: ReproduçãoThursday, 04 July 2024
No dia anterior, a moeda norte-americana recuou 1,71%, cotada em R$ 5,5683. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira encerrou em alta de 0,70%, aos 125.662 pontos.
O dólar opera em forte queda nesta quinta-feira (4), em um dia com pouca influência externa, por conta do feriado de Dia da Independência nos Estados Unidos, mas com alívio nas tensões políticas no cenário doméstico.
Após uma disparada da moeda americana influenciada, sobretudo, por uma série de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central do Brasil (BC) e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, o anúncio de que o governo está comprometido com a meta fiscal acalmou os mercados.
Na noite desta quarta-feira (3), depois de um dia inteiro de reuniões, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um corte de R$ 25 bilhões em despesas e disse que Lula determinou que seja cumprido o arcabouço fiscal.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em alta.
Dólar
Às 12h, o dólar caía 1,32%, cotado a R$ 5,4949. Na mínima do dia, chegou a R$ 4,4663. Veja mais cotações.
No dia anterior, o dólar teve queda de 1,71%, cotado a R$ 5,5683.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 0,36% na semana;
- recuo de 0,36% no mês;
- alta de 14,75% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa subia 038%, aos 126.143 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 0,70%, aos 125.662 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 1,42% na semana;
- ganhos de 1,42% no mês;
- perdas de 6,35% no ano.
O que está mexendo com os mercados?
Nos últimos dias, críticas do presidente Lula reacenderam o temor no mercado de que o governo não estivesse comprometido com a responsabilidade fiscal. O alívio nas tensões políticas em torno do compromisso do governo com o fiscal brasileiro trouxe um tom mais positivo para os mercados, especialmente após as falas de Haddad.
Haddad ainda prometeu anunciou cortes no Orçamento de 2025, com algumas despesas obrigatórias. O ministro explicou que o governo fez um pente-fino para identificar gastos sociais que poderiam ser cortados e que essas medidas podem até ser antecipadas, a depender so relatório de receitas e despesas do governo federal.
Ontem, também, durante o anúncio do Plano Safra voltado para a agricultura familiar, no Palácio do Planalto, Lula afirmou que "responsabilidade fiscal é compromisso" e que o governo "não joga dinheiro fora".
Na terça-feira (2), Lula disse que "não se pode inventar crises" e "jogar a culpa" da disparada do dólar nas últimas semanas nas declarações que ele deu.
Ele voltou a falar, também, sobre o comando do BC, defendendo que a instituição seja autônoma e que Campos Neto tem um viés político.
Na segunda, Lula já havia dito que o próximo presidente do BC deve olhar para o Brasil "do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala".
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", afirmou o presidente nesta segunda-feira, ponderando que a autonomia do BC foi aprovada pelo Congresso e será respeitada.
O mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República — um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República. Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
Lula também disse que preza pela responsabilidade fiscal e que inflação baixa é sua obsessão, usando como exemplo a decisão do governo de manter a meta para a evolução dos preços em 3%. O presidente ainda afirmou, ontem à noite, que não tem que prestar contas "a nenhum ricaço desse país, a nenhum banqueiro".
As falas recentes do presidente se juntam às críticas feitas por ele à instituição desde a semana passada. Lula disse que "a taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%", reiterando que a Selic deve melhorar quando ele indicar o substituto de Campos Neto.
Na terça-feira, presidente do Banco Central deu uma resposta. Afirmou que a interrupção do ciclo de corte de juros pela instituição, em junho deste ano, "tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]".
Ele não detalhou, na declaração, quem criou os ruídos citados. A declaração foi dada durante palestra no Forum on Central Banking, promovido pelo Banco Central Europeu (ECB), em Portugal (Sintra).
"Isso [interrupção dos cortes de juros] tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]. E os ruídos estão relacionados com dois canais: um é a expectativa do caminho da política fiscal [arrecadação e gastos públicos], e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária [decisões sobre a taxa de juros]", disse.
De acordo com ele, há uma "grande desconexão" entre os dados correntes da economia, como as informações sobre as contas públicas, e as informações sobre política monetária (inflação e seu impacto na taxa de juros) e as expectativas dos agentes do mercado financeiro.