Fim da jornada 6X1 resultará na troca de pessoas por máquinas

Fim da jornada 6X1 resultará na troca de pessoas por máquinas
Foto: Divulgação

Wednesday, 13 November 2024

O mercado sempre se adequa a qualquer situação que a política imponha.

O fim da jornada de trabalho na escala 6x1 pode resultar na substituição de pessoas por máquinas, afirmou o economista e deputado estadual Leonardo Siqueira (Novo-SP) ao UOL News desta terça-feira (12).

Uma Proposta de Emenda à Constituição apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) busca extinguir a jornada 6x1 e tem levantado debates pelo país. Siqueira avalia que a intenção da redução da jornada de trabalho é boa, mas gera o aumento do custo de produção.

"[Como deputado e economista,] eu avalio políticas públicas, quais são os impactos delas, além das boas intenções. E a verdade é a seguinte: ninguém quer que as pessoas trabalhem muito. Ninguém quer que as pessoas trabalhem até morrer. Ninguém quer que as pessoas trabalhem a vida inteira. A questão é que fazer medidas para reduzir a jornada de trabalho através da caneta, de forma artificial, tem defeitos. Isso quem diz não sou eu, são as pesquisas que mostram o que aconteceu".

"Se você está reduzindo a jornada de trabalho de 6x1 para 4x3, significa que você está reduzindo em 33% sua força de trabalho. Ora, se você reduz sua força de trabalho sem reduzir o salário proporcionalmente, significa que você está aumentando o custo do trabalho".

Segundo o economista, o empresário teria três soluções para compensar o aumento do custo:

"A primeira solução é passar esse custo [para o consumidor] através do aumento de preços, então vai gerar inflação, e todo mundo pagaria a conta. A segunda opção é reduzir os custos de outra forma e contratar trabalhadores informais — o que é péssimo, porque aí o trabalhador não tem direito nenhum. A terceira é substituir gente por máquinas, por exemplo, ou contratar menos".

"Basta ver o que aconteceu ao redor do mundo. As pessoas dizem "ah, mas a Europa tem [o sistema 4x3]", sim, mas não deu certo, prejudicou a economia onde foi implementado.Tem uma tese de um aluno de doutorado que olha a reforma feita em Portugal em 1996, e eles veem a mesma coisa. Lá a jornada foi reduzida de 44 horas para um pouco menos de 40 horas, e as empresas venderam menos, contrataram menos. A cada um ponto da redução da jornada de trabalho, teve um aumento de um ponto percentual na automação, ou seja, os empresários trocaram pessoas por máquinas para evitar esses custos. Então é isso que vai acontecer".

- Leonardo Siqueira, economista, professor e deputado estadual em SP pelo Novo

Brasil está entre os países com jornada mais excessiva, destaca advogada

O Brasil tem uma herança de exploração no trabalho e uma jornada de trabalho que está entre as maiores do mundo, com total de 44 horas semanais, destacou a advogada trabalhista e professora da PUC/RJ, Fernanda Perregil, ao UOL News desta terça (12).

"A gente tem, sim, no Brasil uma herança de um trabalho de exploração, dessa precariedade que a gente vê agora, que é uma coisa terrível. Mas quando a gente compara o Brasil com outros países, em termos de jornada, a gente vê que o Brasil está entre os países com uma jornada mais excessiva. A gente tem 44 horas semanais. A gente pega outros países como a China, que tem um trabalho ainda mais intenso, onde a jornada é de 48 horas. E a gente foge do modelo europeu, que lá a média é de 37 horas".

"A grande verdade é que há uma relação entre poder aquisitivo e jornada de trabalho. Então, os economistas até relacionam que quanto maior o poder aquisitivo da população, há uma sensível diminuição dessa redução da jornada de trabalho. Então, a gente precisa melhorar também a condição de vida pessoal das pessoas trabalhadoras no Brasil".

Fernanda Perregil, advogada trabalhista


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