A inflação está de volta

A inflação está de volta
Foto: Imagem meramente ilustrativa

Tuesday, 13 May 2025

A síndrome de Galípolo: a inflação voltou com tudo, ajudou a derrubar um presidente e ameaça mais um.

“Eu não tenho paciência. É uma questão de sanidade mental. Como que eu converso com um sujeito que diz que vai ter inflação num cenário de derrocada da economia como esse? Como você conversa como esse sujeito? É camisa de força, é camisa de força.”

Estávamos no meio de 2020 quando o atual presidente do Banco Central fez esta análise para a inflação. Logo em seguida, a inflação explodiu. No acumulado de 12 meses, passou de 2% no momento da fala para 12% em meados de 2022.

É claro que não foi a contundente fala de Galípolo que fez a inflação disparar, o que alguém poderia pensar porque ela coincide com o vale da trajetória da inflação nos últimos anos. Nem se pode dizer que houve um erro de previsão, afinal, apesar das restrições de oferta nas cadeias de produção com lockdowns, não estava claro ainda como governos no mundo todo iam derramar dinheiro nas famílias.

Naquele momento, de inflação baixinha por um bom tempo, fazia algum sentido que estivéssemos acostumados com aquele novo normal e menosprezássemos o risco de um fantasma que parecia vencido, do passado. Mas a inflação voltou com tudo, ajudou a derrubar um presidente e ameaça mais um.

Essa é uma ideia que me assusta. Não a inflação em si. Mas a noção de que, à minha espreita, está um perigo que julguei ter derrotado, um inimigo que subestimo – com tanta confiança que até debocho. Fico me imaginando sendo atacado e sofrendo em dobro, por ter ignorado o mal que vem me atormentar, e ele era óbvio esse tempo todo.

Quer outro exemplo? Barack Obama. Ele também sofreu a síndrome de Galípolo. Em 2012, enfrentou Mitt Romney nas eleições presidenciais, e este considerava a Rússia a maior ameaça potencial aos EUA. Foi ridicularizado, tido como um tiozão preso na era da Guerra Fria, incapaz de ver que o mundo mudou. A China tinha despontado, o terrorismo não dava trégua, o Estado Islâmico barbarizava.

Obama nem terminou o segundo mandato quando a Rússia ocupou a Crimeia. Dez anos depois das eleições, a Rússia invadiu o resto da Ucrânia, e a Europa desde então vive seu momento mais tenso após a 2ª Guerra. Hoje, parece uma obviedade, mas, nos debates presidenciais, Obama zombava: “Os anos 80 estão ligando pedindo sua política externa”.

Já estive mais preocupado em sofrer da síndrome de Galípolo em algum domínio da minha vida, mas hoje vejo que é possível desafiá-la. Na semana passada, para combater a inflação, no comando do Banco Central, Gabriel Galípolo elevou a taxa de juros ao maior patamar em 20 anos.


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Redação

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