Agricultura e renda atenuam efeito de juros altos

Monday, 19 May 2025
Safra recorde ajuda a impulsionar o PIB do primeiro trimestre.
A safra recorde de grãos e a renda foram as responsáveis pelo crescimento surpreendente da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano, apesar política monetária contracionista do Banco Central, iniciada em setembro do ano passado, que levou o país a ocupar ultimamente o terceiro lugar entre os juros reais mais alto do mundo. A análise é de Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, que destaca que o número veio bem mais forte do que era esperado pelo mercado.
- E isso mostra que não se trata unicamente do efeito da produção da agropecuária no começo do ano, o que é um efeito sazonal. Estamos tendo safra recorde, é fato, mas o resultado mostra também a força da renda. O Brasil tem desemprego muito baixo, programas sociais bastante elevados e isso tudo está atenuando os impactos da alta de juros sobre o mercado de crédito. Temos uma economia com renda, com setor exportador dinâmico, mostrando uma força muito importante nesse início de ano que acaba contaminando as projeções para o ano - diz Padovani.
Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado nesta segunda-feira, considerado a prévia do PIB, a alta em março foi de 0,8%, enquanto o mercado projetava 0,5%. O resultado levou a economia a avançar 1,3% em relação ao trimestre anterior e 3,49%, ao ser comparada ao mesmo período do ano passado. Sem minimizar o efeito da safra recorde, que fez o PIB da Agropecuária crescer 1% em relação ao trimestre anterior e 6,1% ante o primeiro trimestre do ano passado.
Nas últimas semanas, muitos bancos e consultorias elevaram suas projeções que estavam em torno de 2% para um pouco acima desse patamar. Apesar dos sinais de resiliência da economia, Rafael Perez, economista da Suno Reserach, pondera que isso não muda a perspectiva de desaceleração ao longo do ano.
Perez chama atenção para o fato que a alta de 2,1% do IBC-Br Indústria está relacionada à antecipação das empresas para garantir estoques diante da expectativa de aumento nas tarifas de importação dos Estados Unidos a partir de abril, o que gerou uma demanda sazonal atípica por insumos e produtos industriais, que tende a se normalizar. Na avaliação de Perez, com o provável esgotamento do impulso do agro nos próximos trimestres, "os efeitos da política monetária restritiva devem se tornar mais visíveis sobre os demais setores, tornando a desaceleração econômica mais clara ao longo do ano".
Rodolfo Margato, Economista da XP, que projeta um crescimento de 2,3% do PIB para este ano, também prevê que "a atividade doméstica deve desacelerar gradualmente ao longo do ano".
Essa avaliação dos economistas explica o fato de o Boletim Focus ter registrado a quinta queda consecutiva da estimativa para a inflação deste ano. Apesar da redução ser marginal, de 5,51% para 5,50%, o movimento consistente de baixa é visto como uma boa sinalização.