Dólar cai 14% em 2025 e tendência é de queda maior

Monday, 22 September 2025
Após atingir um pico em 2024, o dólar entrou em trajetória de queda.
O dólar fechou a sexta-feira a R$ 5,32, acumulando queda de 13,91% em 2025. Analistas apontam que ainda há espaço para uma desvalorização maior até o fim do ano. Para quem está com viagem marcada para o exterior, os especialistas recomendam aproveitar o momento para comprar dólares gradualmente.
O que aconteceu
Após encerrar 2024 em patamar recorde de R$ 6,267, o dólar mudou de trajetória em 2025. No segundo semestre do ano passado, a moeda americana superou a marca dos R$ 6 e chegou ao valor recorde de R$ 6,267 em 18 de dezembro. O cenário, no entanto, mudou na virada do ano e a depreciação acumulada do dólar é de quase 14%, com a moeda a R$ 5,32, na cotação de sexta-feira (17).
Avanço do real é atribuído ao diferencial de juros entre Brasil e EUA. Enquanto o Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano, o Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) cortou a taxa americana em 0,25 ponto percentual para a faixa de 4% a 4,25%, levando a diferença de juros entre os dois países a 10,75 pontos, a maior desde 2022.
Aplicações de renda fixa nos EUA ficam menos atrativas e investidores estrangeiros buscam mercados emergentes como o Brasil. Mercado espera outros dois cortes de juros nos EUA, o que deve favorecer a desvalorização do dólar. Como as aplicações de renda fixa no mercado norte-americano ficam menos atraentes com os juros menores, os investidores estrangeiros passam a procurar outras alternativas, aceitando correr mais risco, explica Matheus Nascimento, analista de crédito na Oby Capital. Para comprar ações de empresas brasileiras na B3, por exemplo, esses investidores precisam trocar seus dólares por reais, o que derruba as cotações da moeda por aqui.
Política econômica do presidente Donald Trump também contribui para a desvalorização. A agenda econômica de Donald Trump e os ruídos e incertezas por ela criados, como na questão das tarifas comerciais, enfraquecem o dólar no cenário internacional. O republicano acredita que a culpa do déficit comercial dos EUA é do dólar excessivamente forte.
O dólar caiu diante de quase todas as principais moedas do mundo nos nove primeiros meses do governo Trump. Dados da consultoria Elos Ayta mostram que a moeda norte-americana perdeu força em 24 das 27 grandes economias do mundo, com destaque para o rublo da Rússia: recuo de 33,99%. Na zona do euro a queda também chega a 12,94%, pouco acima da valorização do peso mexicano, de 11,42%.
Vai cair mais?
Analistas projetam que a moeda americana pode cair ainda mais. Relatório do BTG Pactual vê espaço para o dólar chegar à faixa dos R$ 4,60 no médio prazo. Já o boletim Focus do Banco Central estima R$ 5,50 ao final de 2025 e R$ 5,60 em 2026. "É difícil cravar um número, mas a tendência é de queda", avalia Matheus Nascimento, da Oby Capital. Para o economista Bruno Mori, membro da Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), a Selic elevada deve continuar sustentando o real. "A tendência é de estabilidade no curto prazo, mas há espaço para mais valorização do real".
É hora de comprar?
Para quem planeja viajar ao exterior, especialistas recomendam comprar dólares de forma parcelada. "A recomendação mais básica é que se faça compras parciais, porque a qualquer momento essa tendência pode ser revertida. Então, depende do prazo para a viagem, mas o ideal é dividir em três, quatro, cinco compras, a depender do montante também", diz Mori.
Planejamento de viagem não deve depender exclusivamente do dólar. Especialistas não aconselham planejar uma viagem ao exterior apenas porque o dólar está em queda. "O ideal é avaliar se a viagem se encaixa no orçamento familiar sem comprometer outras metas financeiras. Planejar uma viagem apenas porque o câmbio recuou pode ser arriscado, já que o dólar é apenas uma das variáveis dessa equação. O melhor caminho é alinhar desejo, momento financeiro e oportunidade de câmbio", afirma Leal.
O dólar mais barato também deve ajudar no recuo da inflação brasileira. A queda da moeda também deve ajudar a conter a inflação no Brasil, ainda que de forma gradual. No entanto, analistas lembram que a política fiscal e a trajetória da inflação nos EUA podem trazer volatilidade.