Alta do dólar não inibe gastos no exterior
Foto: ReproduçãoFriday, 25 May 2018
Mesmo com a moeda americana mais cara, despesa de brasileiros lá fora somou US$ 1,04 bilhão em abril, maior volume para o mês desde 2015.
Nem mesmo a disparada do dólar em abril desanimou o turista brasileiro. Dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira mostram que os gastos com viagens ao exterior somaram US$ 1,04 bilhão em abril, já descontadas as despesas de estrangeiros em viagem ao Brasil. O valor é o maior para meses de abril desde 2015, quando o montante chegou a US$ 1,20 bilhão.
No mês passado, o dólar turismo subiu 6%, de R$ 3,44 para R$ 3,65. Na prática, as viagens ao exterior tornaram-se mais caras para os brasileiros. Ainda assim, em valores brutos, eles deixaram US$ 1,54 bilhão em outros países em abril, enquanto os estrangeiros gastaram US$ 498,8 milhões por aqui.
Os gastos continuaram, em partes, porque o efeito total de mudanças cambiais não costuma ser imediato. Famílias não cancelam viagens já marcadas porque o dólar subiu. Boa parte do efeito costuma ocorrer no planejamento posterior.
Com a economia brasileira e o emprego em recuperação, os gastos dos turistas vêm aumentado desde o início do ano passado. Os dados indicam que, apesar de o dólar turismo estar mais alto, “as despesas com viagens permanecem crescendo em maio”, pontuou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Até a última terça-feira, o déficit na conta de viagens no mês estava em US$ 867 milhões, sendo que as despesas dos brasileiros em outros países somavam US$ 1,17 bilhão e as de estrangeiros no Brasil, US$ 303 milhões. Em maio de 2017, considerando todo o mês, os gastos líquidos foram de US$ 1,08 bilhão.
De acordo com Rocha, como os gastos com moeda estrangeira estão mais caros agora, o ritmo de crescimento dessas despesas deve cair nos próximos meses. Em maio de 2017, o câmbio turismo médio foi de R$ 3,3525. Este mês, até o dia 22, o dólar turismo médio foi de R$ 3,7607, ou 12,18% mais elevado.
Investimentos
Os dados do BC mostraram ainda que o Investimento Direto no País (IDP), que reúne os aportes no setor produtivo, caíram 60% em abril, ante março, totalizando US$ 2,62 bilhões. Em abril do ano passado, a cifra havia sido de US$ 5,57 bilhões.
“Os estrangeiros permanecem investindo no Brasil, aumentando sua capacidade produtiva, mas operações de maior vulto não vieram”, pontuou Rocha, ao avaliar os dados do IDP em 2018. De janeiro a abril, conforme os números do BC, não houve nenhuma operação de volume superior a R$ 1 bilhão. Nos quatro primeiros meses do ano passado, essas operações somavam cerca de US$ 8 bilhões.
Para o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, a deterioração das condições internacionais tem afetado mais rápido que o esperado os investimentos no Brasil. “Na conta capital, houve queda brusca do IDP. Veio um número bem fraco e os dados do ano já vinham abaixo dos de 2017”, afirmou.
Além do fator externo, o economista diz que a incerteza eleitoral tem inibido o investidor. Nesse ambiente, a retomada da economia brasileira, que já está lenta, pode ficar ainda mais frágil. A projeção da 4E é de alta de apenas 1,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2018.