Política monetária é separada da política cambial, reforça Ilan

Política monetária é separada da política cambial, reforça Ilan
Foto: Divulgação

Saturday, 09 June 2018

Segundo o presidente do Banco Central, a condução firme da política monetária, aliada à mudança na direção da política econômica de forma geral, foi decisiva para reduzir as expectativas de inflação em trajetória de queda.

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, voltou a ressaltar que a política monetária é separada da política cambial e que não há relação mecânica entre as duas. Segundo ele, a política monetária olha para projeções e expectativas de inflação e seu balanço de riscos e não será usada para controlar a taxa de câmbio. "Reitero que as decisões do Copom são sempre tomadas a cada reunião, o que ocorre a cada 45 dias", conforme discurso preparado para eventos organizados pelo Bradesco e pelo Ibef-SP nesta sexta-feira.

Segundo Ilan, a condução firme da política monetária, aliada à mudança na direção da política econômica de forma geral, foi decisiva para reduzir as expectativas de inflação em trajetória de queda. Como resultado desse trabalho, desde o ano passado o Brasil tem vivido a conjunção de três fenômenos: redução da inflação; menores taxas de juros; e recuperação gradual da economia.

Ele ressaltou que a inflação acumulada em 12 meses foi reduzida de quase 11% em 2015 para 2,8% em abril deste ano e que as expectativas de inflação para 2018 apuradas pela pesquisa Focus se encontram em torno de 3,7% e as previsões para 2019 e 2020 se situam em torno de 4,0%.

"A redução da inflação, a ancoragem das expectativas, a queda nas taxas de juros e a melhoria das condições no mercado de crédito têm propiciado a recuperação da economia", afirmou. Ele lembrou que, em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50%, avaliando também como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente, caso as condições se mantivessem. "Na próxima reunião, o comitê analisará essas condições com foco, como sempre, nas projeções e expectativas de de inflação e o seu balanço de riscos."

O dirigente do BC explicou que essa análise levará em consideração que o impacto de choques recentes sobre a política monetária ocorre por meio dos seus efeitos secundários sobre a inflação (ou seja, pela propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque). E que esses efeitos tendem a ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas e projeções de inflação ancoradas nas metas.

Ilan repetiu que o cenário básico do Copom para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse risco se intensifica no caso de continuidade da reversão do cenário externo para economias emergentes, o que de fato ocorreu desde a última reunião do colegiado.

O presidente da autoridade monetária ressaltou que a favor da decisão de manter a Selic em 6,50% pesou a mudança no balanço de riscos para a inflação em função do choque externo, que reduziu as chances de a inflação permanecer abaixo da meta no horizonte relevante por meio de possíveis impactos secundários na inflação. "Isso tornou desnecessária a mitigação de risco de convergência demasiadamente lenta da inflação às metas".

Ainda assim, ele disse que o Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural. "De fato, o presente processo de flexibilização monetária tem levado à queda das taxas de juros reais (juros nominais menos inflação) e tende a estimular a economia". Segundo ele, essas taxas, estimadas usando várias medidas, se encontram ao redor de 2,5% ao ano.

No discurso preparado, Ilan reiterou ainda que o Brasil tem amortecedores robustos, fundamentos sólidos e encontra-se mais preparado para lidar com choques externos.

Segundo a autoridade monetária, o balanço de pagamentos está numa situação confortável e o saldo comercial está superavitário - até abril acumulava superávit de US$ 18,5 bilhões. Além disso, o déficit em transações correntes, nos 12 meses encerrados em abril, foi de 0,4% do PIB e o saldo de investimentos diretos alcançou 3% do PIB no mesmo período.

Para ele, as reservas internacionais (quase de US$ 380 bilhões, ou cerca de 20% do PIB), que foram acumuladas em um período externamente favorável, funcionam como um seguro e têm possibilitado passar por choques de diversas naturezas ao longo destes últimos anos sem que os fluxos internacionais de comércio e de capitais fossem fortemente abalados.

O atual estoque de swaps cambiais também é um fator importante para garantir a habilidade para enfrentar choques e volatilidades e existe um ambiente com inflação corrente baixa e expectativas ancoradas, de acordo com o discurso.

Ilan afirma que o cenário externo se tornou mais desafiador e apresenta volatilidade. Segundo ele, a evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais e houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes.

Com isso, o mercado apresenta um comportamento volátil, com uma piora na percepção dos agentes internacionais em relação ao cenário global. Esta percepção, de acordo com o presidente da autoridade monetária, tem provocado pressões sobre várias economias emergentes.

"O esforço para a promoção das reformas e de ajustes na economia brasileira é fundamental para a sustentabilidade de um ambiente econômico estável. As reformas, notadamente as de natureza fiscal, precisam continuar", diz no discurso.



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Redação

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