Situação fiscal do governo no curto prazo é melhor que o esperado
Foto: Imagem meramente ilustrativaSunday, 10 June 2018
Para o secretário do Tesouro Nacional, equilíbrio fiscal de médio e longo prazo no Brasil exige a aprovação da reforma da Previdência.
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse nesta sexta-feira (08/06) que a situação fiscal do governo para o curto prazo é muito melhor do que era esperado pelo Tesouro há cinco meses. A afirmação foi feita em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (8/6), em Brasília.
Na ocasião, o subsecretário da Dívida Pública, José Franco Medeiros de Morais, esclareceu a mudança de estratégia anunciada pelo Tesouro Nacional, na semana passada, de reduzir significativamente a oferta de títulos de longo prazo no mercado.
Mansueto afirmou que o governo teve um inicio de ano bastante positivo - tanto no que se refere à arrecadação, que cresceu 7% nos quatro primeiros meses do ano, quanto às despesas. No período o déficit primário chegou R$ 5,4 bilhões.
“O número foi R$ 20 bilhões melhor do que o esperado pelo governo”, afirmou Mansueto. Ele lembrou que o déficit projetado já seria compatível com a meta de déficit primário para o ano de R$ 159 bilhões estabelecida para o Governo Central.
“Se o resultado fiscal de janeiro a abril tivesse sido R$ 20 bilhões pior do que realmente aconteceu, mesmo assim estaríamos dentro da programação financeira para o ano”, destacou.
O secretário avaliou o impacto da greve dos caminhoneiros do ponto de vista fiscal, com o lançamento do Programa de Subvenção do Diesel, que trouxe uma despesa adicional ao governo de R$ 9,5 bilhões. Segundo ele, não houve aumento do risco fiscal e nem de descumprimento da meta do resultado primário.
“O que aconteceu não aumentou o risco fiscal e não aumentou o risco em relação ao cumprimento da meta . Se o ano fiscal terminasse hoje, possivelmente fecharíamos abaixo da meta, mesmo com o subsídio adicional de R$ 9,5 bilhões para o programa de subvenção do diesel. De janeiro e abril, os ministérios gastaram R$ 10 bilhões a menos do que estava programado”, enfatizou.
Ele lembrou que os R$ 9,5 bilhões de subsídio ao diesel serão incluídos via crédito extraordinário no Orçamento da União. Recurso limitado apenas ao ano de 2018, não suscetível ao teto de gastos, e que não compete, portanto, com demais despesas previstas no Orçamento.
Mansueto enfatizou também que o governo possui instrumentos para cumprir a meta e fazer frente a eventuais riscos fiscais, como, por exemplo, o de bloquear despesas. Ele destacou que, em meio a esse processo, o governo conseguiu aprovar a reoneração da folha de pagamentos, o que vai garantir uma receita extra em torno de R$ 9 bilhões em 2019.
Regra de Ouro
O secretário Mansueto Almeida anunciou que até agosto deste ano o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fará o pagamento de R$ 100 bilhões de dívidas que o banco possui com o Tesouro Nacional.
Também destacou que os recursos serão usados para cobrir a margem de risco para o cumprimento da Regra de Ouro - o dispositivo constitucional impede que a realização de operações de crédito do governo excedam o total das despesas de capital - em 2018. “Em agosto, provavelmente, já teremos condições de confirmar o cumprimento. A questão da Regra de Ouro para este ano está praticamente solucionada”, reiterou. Além do pagamento de dívidas do BNDES, o governo vai utilizar recursos da extinção do Fundo Soberano (R$ 27 bilhões).
Reforma da Previdência
Em relação às perspectivas do governo brasileiro para o médio e longo prazo, Mansueto defendeu que o equilíbrio fiscal do governo só será alcançado com a aprovação de uma reforma da Previdência
“Nos últimos dois anos, o governo tem enfatizado a necessidade da reforma. Esse é um tema que voltou ao debate. Hoje a discussão é de qual reforma será aprovada”.
Já em relação à volatilidade do mercado nas últimas semanas, Mansueto defendeu que o Brasil não enfrenta hoje nenhum problema de financiamento da sua dívida e possui uma condição muito melhor do que já enfrentou em momentos anteriores.
“Hoje o Brasil é um pais com déficit em conta corrente caminhando para zero. Não temos nenhuma pressão de balanço de pagamentos, além de sermos credor líquido em dólar. Quanto mais o dólar se valoriza, mais cai a nossa dívida líquida. Hoje temos R$ 575 bilhões de colchão de liquidez da dívida. Estamos com uma inflação muito baixa. Além disso, não temos pressão para realizar leiloes. Hoje é muito mais difícil para um governo fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. O controle do TCU também é muito maior”, defendeu.
Leilões
Na coletiva desta sexta, o subsecretário da Dívida Pública, José Franco Medeiros de Morais, esclareceu a mudança de estratégia anunciada pelo Tesouro Nacional de reduzir significativamente a oferta de títulos de longo prazo no mercado.
O Tesouro tem feito leilões extraordinários desde o dia 28 de maio. No total, foram nove leiloes extraordinários realizados e dois tradicionais cancelados. O programa começou apenas com recompra de NTN-F. Desde ontem, estão sendo realizados leilões simultâneos de compra e venda. No entanto, Franco explicou que são leilões assimétricos. O Tesouro compra mais do que vende. Ao todo, nos nove leilões, foram comprados R$ 4,3 bilhões. Nos dois leilões de venda, foram vendidos R$ 183 milhões.
“O objetivo do programa é retirar o excesso de risco do mercado e prover referências de preços em momentos de elevada volatilidade”, explicou. “Com as taxas atuais praticadas no mercado, o Tesouro não tem interesse em emitir títulos longos, sejam títulos pré-fixados, sejam títulos indexados ao IPCA. É claro que o Tesouro em algum momento vai retomar as ofertas, porém em volumes bem menores do que aqueles realizados até o presente momento”.
Na coletiva, Franco também anunciou continuidade do programa de leiloes extraordinários até o final do mês de junho, além de informar que é possível que o programa se estenda para depois desse prazo.
“A situação do caixa da dívida é bastante confortável, o Tesouro Nacional monitora constantemente as condições do mercado”, afirmou. Além disso, Franco reiterou que o Tesouro Nacional possui as ferramentas necessárias para atuar em períodos de volatilidade, sobretudo em função do colchão da dívida pública, a reserva de liquidez do Tesouro Nacional para a dívida pública, que atualmente está em R$ 575 bilhões.
Além disso, o subsecretário reafirmou que a expectativa do Tesouro ainda é atingir as metas do Plano Anual de Financiamento (PAF) para 2018. No entanto, Franco explicou que, se o governo chegar à conclusão de que será necessário alterar os intervalos do PAF, fará isso nenhum problema. “O PAF deve sempre se adequar às condições do mercado e não o contrário. Se isso ocorrer, isso será comunicado com a maior transparência”, acrescentou.