Crise traz oportunidades para o circuito da moda

Crise traz oportunidades para o circuito da moda
Foto: Divulgação

Wednesday, 20 June 2018

Prateleiras de metal reciclado são coerentes como conceito sustentável da Augustana, marca da psicóloga Natalia Paes

Atualmente, visitar um shopping surpreende pelo número de portas fechadas, graças à falta de clientes e ao custo dos aluguéis. Ao mesmo tempo, surgem novas vitrines em pontos normalmente considerados caríssimos. São os novos criadores cariocas, corajosos e atentos às oportunidades do momento, já que as pesquisas de campo revelam aluguéis abaixo dos R$ 10 mil e ausência de cobrança de luvas.

Um point do luxo, equivalente à paulistana Oscar Freire ou à parisiense Montaigne, a Garcia d’Ávila perdeu joalherias, lojas de decoração e restaurantes. Mas a dupla Thomaz Azulay e Patrick Doering não tem do que reclamar da boutique The Paradise, inaugurada entre Nascimento Silva e Redentor, depois de seis meses de obras até finalizar o projeto de Ilana Laylac que deu o jeito de warehouse (armazém), de tijolos aparentes contrastando com o lustre e as colunas em relevo em uma das paredes.

“Sempre surfamos contra a maré, abrimos a marca há três anos, no auge da crise. Começamos virtuais, desde as estampas exclusivas até as vendas, entramos no atacado e conseguimos 25 pontos de venda no Brasil. Abrir loja era inevitável, aproveitamos as oportunidades da crise, que acaba com as luvas e os aluguéis absurdos. Além das coleções de peças praticamente exclusivas, de tiragem mínima, temos máscaras do Panamá, móveis, antiguidades, as fragrâncias Sirin e Alkonosta, desenvolvidas por Eloi Nascimento, da Casa Bon Ton, as bijus de madeira da Prisma. Para nós, este espaço de 35m2 é um verdadeiro gabinete de curiosidades”, definem Thomaz e Patrick, em meio aos belos modelos de saias, vestidos e calças desprendidas do marketing comum do varejo e sem restrições de feminino e masculino.

Depois de dez anos no Projac, Rodrigo Capiberibe cedeu à vontade de fazer roupa masculina. Um objetivo difícil, convencer os homens a consumir moda. Há oito anos reunido com amigos no botequim Pavão Azul, em Copacabana, deu a partida no projeto da Capi - pronúncia Capí, como seu sobrenome abreviado. Há cinco anos abriu a loja em Ipanema e há três, no Rio Sul, com direito à mudança recente do quarto para o segundo piso _ mais um case de aproveitar a oportunidade, já que os shoppings estão flexibilizando o acesso aos espaços.

“Do pipoqueiro à Apple, todos sofrem com a crise. Tem que acreditar no trabalho, vencer o desafio de trazer o homem para a loja e apresentar a marca. Uma vez próximo, ele curte o nosso básico moderno. Somos muito exigentes, cuidadosos nos detalhes, definimos o estilo como metrópole, em lugar de balneário. Estamos mais para geométricos do que para estampados nem padrões caretas. E só temos um probleminha: somos pequenos, com demanda de marca grande!

Representante da nova linha sustentável da moda, a psicóloga Natalia Paes não admite sobras de tecidos nas coleções da Augustana. Depois de participar da Feira Hype, do coletivo Carandaí e de dois anos funcionando em uma sala em coworking no Jardim Botânico ela finalmente deu vitrines para a sua grife. Onde? Na Rua Henrique Dumont, antigamente um dos pontos quentes e caros de Ipanema. Continua quente, mas os custos ficaram convidativos até para os novos criadores, que aproveitam os aluguéis abaixo dos R$ 10 mil. Desde novembro Natalia Paes, proprietária e designer da Augustana, conquista a clientela com o conceito da sustentabilidade: sem sobras de tecidos nas roupas, a loja toda trabalhada em materiais reciclados, com um ar fabril dado pelos gradeados e as prateleiras em metais reaproveitados onde ficam os tênis da Vert, calçados franco-brasileiros famosos pelos materiais e produção ecológicos. “As pessoas estão mais conscientes, mais questionadoras. Arrumei a casa de forma a ter uma produção enxuta, gerir bem o estoque, sem desperdício. Não quero formar uma megarrede, tenho um formato mais de ateliê.” Nos cabides, há parkas, malhas, saias de seda, os preços vão de R$ 138, por blusas de malha a R$ 1.198, por um longo de seda. Tudo para facilitar construir o look em camadas, a visão mais sustentável da moda atual, pela versatilidade.

Varanda na Dias Ferreira

A rua que foi o centro do agito chique carioca, com aluguéis beirando os R$ 30 mil e luvas em torno dos R$ 200 mil, quase virou um deserto de comércio. Os prédios comerciais lutam para manter as salas ocupadas. E há quem aproveite a fase e consiga uma bela varanda anexa ao seu showroom, como a Ana Victoria Lemann, psicanalista de formação, dona da Ana Vic., recém-instalada no prédio do Esch Café.

“Minha coleção tem tudo o que gostaria de vestir. É confortável, desestruturada, nada fica apertado. É um feminino com uma pegada japonesa. Estamos aqui em meio a ONGs, depois de oito meses de preparo e produção”, conta Ana Victoria, que classifica seu trabalho como atemporal, com estampas exclusivas baseadas nos desenhos da mãe, Maria Quental. Na varanda, acontecem shows de jazz, exposições de arte e eventos animados. Um clima de casa, em plena Dias Ferreira.

“As coisas não vão melhorar tão rapidamente. Mas não pretendo desertar, gosto do Rio, quero ajudar a cidade. Temos de ir adiante, bola pra frente”, arremata mais uma integrante do grupo de corajosos da moda carioca.


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Redação

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