Criação de empregos informais impede alta do desemprego em maio
Foto: DivulgaçãoMonday, 09 July 2018
Taxa, de 12,7%, ficou estável em relação ao trimestre anterior e recuou frente a maio de 2017.
Graças a um aumento do trabalho informal e de vagas na administração pública, a taxa de desemprego não cresceu no trimestre encerrado em maio. Ficou em 12,7%, atingindo 13,2 milhões de pessoas. Estatisticamente igual à registrada em fevereiro (12,6%), período que serve como base de comparação direta, e menor do que a do mesmo período de 2017, quando estava em 13,3% e o número de desocupados chegava a 13,7 milhões. As condições ainda difíceis do mercado de trabalho têm contribuído para a piora nas previsões para o crescimento da economia brasileira. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) do IBGE, divulgados nesta sexta-feira.
- O desemprego está caindo de forma consistente, se considerarmos que o ápice ocorreu em março do ano passado (13,7%). Mas a desaceleração se dá de forma lenta e nossas expectativas eram de maior formalização. No entanto, a desaceleração da economia minou essas esperanças. Se tivermos uma eleição (presidencial) complicada, o cenário pode piorar mais. Mas, se continuarmos nesse ritmo, a taxa vai desacelerar, ainda que as projeções apontem que vá continuar em dois dígitos, na casa dos 12% - analisa Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista do IBRE/FGV.
A redução do desemprego ocorreu em razão do aumento das vagas sem carteira e do trabalho por conta própria. Em relação a maio de 2017, o número total de ocupados aumentou em 1,2 milhão. As vagas sem carteira aumentaram em quase 600 mil e o número de trabalhadores por conta própria subiu quase 600 mil também.
- Ter uma aumento da criação de vagas é positivo, mas é praticamente tudo no mercado informal. Enquanto a economia não imprimir um ritmo mais forte de crescimento, a tendência é que as vagas sem carteira sigam fazendo com que o mercado de trabalho se recupere, de forma lenta e gradual. No entanto, ao fim do ano, já poderemos notar um aumento de vagas formais, pela PNAD, e também teremos saldo positivo no Caged (cadastro do Ministério do Trabalho que registra demissões e admissões formais) - avalia Barbosa Filho.
Segundo Thiago Xavier, economista especialista em mercado de trabalho da Tendências Consultoria Integrada, pouco mais de 40% dos ocupados são informais, o que coloca o atual nível de informalidade próximo ao pico histórico.
Por outro lado, o total de vagas com carteira no setor privado encolheu em quase 500 mil em maio. Na administração pública, porém, houve aumento de contratação: mais 319 mil vagas entre maio de 2017 e maio deste ano.
- A queda no trabalho com carteira assinada está espalhada pelo comércio, comunicação e toda a parte de bancos e sistema financeiro. E percebemos aumento do grupo de administração pública, que é sazonal. Entre o fim do primeiro trimestre e início do segundo, isso ocorre por conta da contratação de professores e trabalhadores da área médica - explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimentos do IBGE.
Xavier também destacou que a desistência de procura por vaga ajudou a taxa a ficar estável. A análise foi feita com base no aumento de pessoas que saíram da força de trabalho: ou seja, não estavam procurando emprego nem trabalhando, mas na inatividade. Em relação a maio do ano passado, 1 milhão de pessoas passaram a esta condição.
- As pessoas respondem aos sinais da economia. O mercado está com dificuldades de absorver trabalhadores e quem se emprega é na informalidade. Isso desestimula a procura por vaga - analisa o economista da Tendências.
Rendimento estagnado
O rendimento médio habitual mensal, estimado em R$ 2.187, ficou estável nas duas comparações (frente a maio de 2017 e frente ao último trimestre, encerrado em fevereiro), assim como a massa de rendimentos, que representa a soma dos ganhos de todos os trabalhadores, e que foi estimada em R$ 193,9 bilhões em maio.
- A renda estagnada faz parte do pacote. Na atual conjuntura, você querer do seu empregador mais do que ter um emprego é demais. As pessoas não estão podendo se preocupar em ter aumento de salário, mas em se manter empregado. O mercado não está para o trabalhador, mas para o empregador. Enquanto o desemprego continuar alto, as tendência é que negociações salariais continuem difíceis para os trabalhadores - avaliou o economista da FGV.
Os salários congelados explicam, em parte, a queda registrada no grupo de trabalhadores domésticos. Foram menos 155 mil pessoas nessa atividade, uma redução de 2,5% em relação a fevereiro. Ao todo, o Brasil tem 6,13 milhões de trabalhadores domésticos.
- As famílias estão com o orçamento apertado e cortando custos, como esse serviço - afirma Azeredo.
Ele disse ainda que não foi identificado na pesquisa nenhum efeito da greve dos caminhoneiros, que começou em 25 de maio e durou cerca de dez dias, sobre o mercado de trabalho.
Número de desempregados dobra em 4 anos
Apesar da taxa de desemprego ter recuado frente ao ano passado, em quatro anos, o número de desempregados no Brasil dobrou, passando de 6,88 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio de 2014 para 13,23 milhões no mesmo período de 2018. Isso quer dizer que, em quatro anos, mais 6,35 milhões de pessoas ficaram sem emprego no Brasil.
Nesse mesmo período, foram perdidos praticamente 4 milhões de empregos com carteira, passando de 36,7 milhões de trabalhadores protegidos pelas leis trabalhistas em maio de 2014 para 32,7 milhões em maio de 2018.