O tempo mudou, as incertezas cresceram, e a economia murchou
Foto: ReproduçãoThursday, 12 July 2018
O movimento da moeda norte-americana mundo afora atingiu fortemente o real, cuja desvalorização só não foi maior em razão das intervenções agressivas do Banco Central.
A economia brasileira, no primeiro trimestre, estava tomada pelo otimismo da superação da recessão e pela euforia do mundo que caminhava para um novo ciclo de expansão generalizada em todas as regiões do planeta, cuja taxa anual de crescimento mundial era estimada em torno de 4%, a maior em uma década. Esperava-se para o Brasil bom tempo e crescimento entre 3% e 3,5%. Acreditava-se que a economia não estava sendo contaminada pela crise política que assola o país.
No segundo trimestre, o vento mudou. Aqui, neste espaço, em 25.4, comentei que na reunião de primavera do FMI, em Washington, nos Estados Unidos, especialistas alertavam para um forte ajuste das economias industrializadas, desacelerando a expansão até então prevista. Dos legados deixados após a crise de 2008-2009, as políticas monetárias expansionistas nos EUA e na zona do euro haviam chegado ao fim. Os países industrializados retomavam políticas monetárias mais restritivas, elevando as taxas de juros, contendo o crédito, causando oscilações e maior estresse nos mercados de ativos e, em consequência, desestimulando os investimentos.
Em junho, em resposta à política fiscal expansionista nos EUA, já com taxas baixas de desemprego e economia crescendo, o Fed, o Banco Central daquele país, elevou pela segunda vez neste ano a taxa básica de juros. Ademais, sinalizou com a possibilidade de mais quatro aumentos no futuro próximo, para manter a estabilidade da economia, contendo a inflação, que atinge 2% ao ano. Esse movimento do Fed tornou mais atrativos os títulos do governo norte-americano, provocando maior valorização do dólar.
O movimento da moeda norte-americana mundo afora atingiu fortemente o real, cuja desvalorização só não foi maior em razão das intervenções agressivas do Banco Central vendendo dólares com contratos de swap visando a reduzir a volatilidade na taxa de câmbio.
Esse vento externo carregado de nuvens negras encontrou a economia brasileira em lento crescimento e altamente vulnerável à greve dos caminhoneiros que, em maio, paralisou todo o país, interrompeu os fluxos de insumos e mercadorias e aumentou a inflação. A economia não estava independente das incertezas políticas.
A produção industrial em maio, refletindo a paralisação do país, retraiu 10,9%, queda sem precedentes nos últimos 12 meses. De fato, a média mensal de variação da produção industrial, de maio de 2017 a abril de 2018, foi de 0,40%, compatível com uma economia que vinha crescendo lentamente (1% em 2017). Foi a maior queda da produção industrial desde dezembro de 2008 (-11,2%) e maior do que as quedas mensais durante os 33 meses de recessão (2014 a 2017), interrompendo a expansão deste ano até abril. Enfim, o tempo mudou.
A greve de maio e o aumento dos preços de energia impactaram a inflação. O IPCA de junho chegou a 1,26%, o maior para este mês desde 1995 (2,26%), elevando para 4,39% a inflação acumulada em 12 meses, que em maio foi de apenas 2,86%.
As consequências virão nos próximos meses, com redução do consumo e maior dependência da economia para com a política. O mercado já está revendo suas estimativas de crescimento para este ano, que ficam, agora, entre 1% e 1,5%, metade do que se projetava no primeiro trimestre. A economia continua vulnerável às incertezas e imprevisibilidades da política. Com a proximidade das eleições, pode-se esperar, também, maior volatilidade nos mercados de ativos.
O tempo mudou. A desconfiança aumentou. O crescimento murchou.