Todo mundo conhece o Neumarkt. O empreendimento surgiu nos anos 90 e, por se tratar de um shopping center no centro da cidade – o único, aliás – não é de se espantar sua popularidade. Para os padrões de Blumenau, é um case de sucesso. Contudo, quando comparado a outros estabelecimentos de porte similar em outros lugares, passa longe de ser exemplar.

Sua arquitetura é bonita? Certamente. Mas sua infraestrutura, oferta de serviços e outras relações deixam muito a desejar. Quem nunca viu as goteiras enormes do local quando chove? Os funcionários, muitas vezes, colocam baldes. Baldes. Isso é dantesco. Diametralmente diferente do tipo de local sofisticado que os arquitetos projetaram para parecer.

Isso sem contar, claro, com as lojas fechadas. O maior shopping center da região em pleno centro da cidade ter tantas lojas vagas é um exemplo de que algo não está certo. Procure em São Paulo, por exemplo – em shoppings como Ibirapuera, Iguatemi ou Morumbi – alguma loja fechada. Há listas de espera pelos pontos. Mas isso sempre ocorreu com o Neumarkt.

Não pense, claro, que não gostamos do local. Pelo contrário. É um local ótimo. Mas assim como defendemos o shopping em 2013 – quando uma corrente de informações falsas dizia que as pessoas não eram obrigadas a pagar pelo estacionamento (o que desmentimos, defendendo o direito da empresa) – temos que pontuar também seus erros.

Como tudo que existe, o shopping evolui. Sua administração vai aprendendo e se aprimorando. O Neumarkt de hoje é um lugar muito mais agradável do que o Neumarkt de ontem, assim como amanhã será melhor do que é atualmente. E a prova disso é o investimento de mais de R$ 70 milhões que o grupo Almeida Júnior está fazendo para ampliar o espaço, criando um piso superior e aumentando os 91 mil m² para 105 mil m². Nesse ponto surgiu o problema.

Muitos frequentadores que estão acostumados a outras cidades reclamam que o shopping não tem restaurantes, apenas fast food. Quem já esteve no paulista Shopping Morumbi sabe o tamanho do espaço gastronômico deles, com direito a restaurantes étnicos que funcionam até a alta madrugada. Vendo isso, o grupo Almeida Júnior decidiu criar sua própria via gastronômica onde ficava a praça de alimentação em frente ao cinema.

Da noite para o dia tiraram as mesas e cadeiras, o que prejudicou consideravelmente a última empresa alimentícia que ficava lá: o Pastel Mania. Seu proprietário, Alfredo Guillermo Mestais, gravou um vídeo com um desabafo em suas redes sociais afirmando que estão tentando pressioná-lo a deixar o ponto, sendo que ele ainda tem quatro anos de contrato. De fato, tirar as cadeiras, soa como pressão. O shopping afirma que está realocando os empresários daquele piso.

Um funcionário de uma das lojas, que preferiu não se identificar, afirmou: “Aqui eles sempre fazem isso. Cobram uma fortuna e te tratam como se estivessem fazendo um favor. Essa história de realocar é papo. Olha o que fizeram com o Rei do Mate. Colocaram o cara na frente de um banheiro, coitado. Quem quer comer sentindo cheiro de banheiro?”.

Em nota oficial, a administradora do estabelecimento disse:

“O Neumarkt Shopping, procurando sempre trazer aos clientes novas experiências, inaugurou recentemente a revitalização do complexo de cinemas e irá inaugurar nos próximos meses o NK Gourmet, uma área no pavimento superior com três novos restaurantes. Os lojistas que ocupavam a área foram realocados para a principal praça de alimentação do shopping. O Neumarkt ratifica que sempre respeitou as relações com seus lojistas e parceiros e que propiciou a transferência destes lojistas do pavimento superior para a principal área de alimentação do shopping”.

Mas não foi isso que a juíza Vivian Carla Josefovicz, da 5ª Vara Cível de Blumenau, entendeu. Ela determinou que o shopping recoloque pelo menos 10 mesas por afirmar que sua ausência impede que a pastelaria continue efetuando bons negócios, pois quem busca um shopping para se alimentar busca também conforto, portanto não pode comer no chão.

Depois da viralização do vídeo de Alfredo a cerca de duas semanas, dezenas de pessoas foram até a empresa – que, aliás, tem um ótimo pastel (não é propaganda, é opinião... não nos foi pago um centavo) – e fizeram vídeos comendo sentadas no chão. Isso criou comoção e o Judiciário atendeu à reivindicação da Pastel Mania. A decisão, de primeira instância, foi decretada na segunda e dava 48 horas para a resolução do problema sob pena de multa diária de R$ 1 mil. Ontem à noite o BLUMENEWS esteve na pastelaria e as mesas ainda não haviam sido colocadas. O shopping afirmou ainda não ter sido notificado da decisão.

A expectativa é de que haja logo uma resolução. A criação de um espaço gastronômico no shopping é uma ótima ideia, de fato. Sua ampliação também. E torcemos por isso. Mas também torcemos para que a Pastel Mania não seja prejudicada pelo não-cumprimento de regras contratuais. É uma empresa muito querida pelos blumenauenses. E rentável ao shopping.

Pedimos, claro, para que nenhum de vocês, por favor, hostilize o shopping center. Divergências empresariais acontecem e essa logo deve se resolver. Ao invés de xingar a empresa, que tal escolher uma criança da Árvore dos Sonhos para alegrar o natal desse ano?