Setor automotivo já mandou 370 mil para casa
Foto: DivulgaçãoMonday, 20 April 2020
Previsão é de R$ 42 bi em perdas com paralisações que atingem quase todas as 65 fábricas do país, com expectativa de retorno para junho.
As paradas de produção geradas pela pandemia do novo coronavírus deixam cerca de 370 mil funcionários de linhas de produção em casa. São trabalhadores de montadoras e das fornecedoras de autopeças, empresas que estão paradas desde a última semana de março.
De acordo com a Bright Consulting, consultoria focada no setor automotivo, o prejuízo gerado na indústria automotiva brasileira pela crise causada pela pandemia do novo coronavírus deve chegar a R$ 42 bilhões em 2020.
As previsões de retorno à produção têm sido revistas. A Toyota anunciou nesta segunda (13) que as quatro fábricas localizadas no estado de São Paulo só devem retomar as atividades fabris no fim de junho, entre os dias 22 e 24. Funcionários de áreas administrativas seguem trabalhando em home office.
Por meio de comunicado, a montadora de origem japonesa diz que, para preservar os empregos, negociou mudanças temporárias em contratos de trabalho, com pequenas reduções de salários em alguns casos. A estratégia é semelhante à adotada pela General Motors, que também se vale de banco de horas, férias coletivas e planos de redução de custos para contornar a crise.
Todas as fábricas da GM no Brasil estão com produção paralisada e devem permanecer assim pelos próximos dois meses, a depender da evolução da pandemia no país. O programa de layoff (suspensão temporária e parcial do contrato de trabalho) da montadora prevê reduções salariais de 5% a 25%, a depender do cargo e da renda do trabalhador.
A Renault, que emprega 7.500 funcionários no complexo de São José dos Pinhais (PR), prorrogou o período de paralisação para 3 de maio. Na unidade da Ford em Camaçari, a volta está prevista para 30 de abril. Todas as datas estão sujeitas a alterações.
O volume de trabalhadores em casa impressiona. Em agosto de 2016, ano em que a produção de veículos caiu 11,2% em relação a 2015, fábricas localizadas em São Paulo e em Minas Gerais deram férias coletivas ou licença remunerada para 22 mil funcionários ao mesmo tempo, o que então era considerado um assombro. O país se aproximava dos 12 milhões de desempregados naquela época.
Em 1979, no auge dos períodos de greve de metalúrgicos registrados entre 1978 e 1980, cerca de 180 mil trabalhadores ficaram parados por duas semanas na região do ABC (Grande São Paulo).
Hoje, as empresas evitam falar em demissões. A Caoa Chery, que havia previsto o corte de 50 funcionários em Jacareí (interior de São Paulo), voltou atrás e, após negociar com o sindicato de sua região, optou pelo layoff.
As empresas correm atrás de liquidez para manter a saúde financeira. “Acho que essa não é a pior crise só da indústria, é uma das piores crises do mundo”, diz Pablo Di Si, presidente da Volkswagen na América do Sul.
Segundo o executivo, o cenário é de sobrevivência e não permite fazer projeções para o segundo semestre. Ele calcula que o prejuízo causado pela pandemia do novo coronavírus no Brasil deverá equivaler ao valor empregado em três anos de investimento.
O ciclo atual de aportes da montadora, que começou em 2016 e deveria terminar neste ano, prevê R$ 7 bilhões para o Brasil.
“Precisamos olhar o curtíssimo prazo, o problema da liquidez do sistema. Os bancos vão precisar emprestar dinheiro”, diz o presidente da Volks.
Pablo afirma que há bom diálogo com o governo, em reuniões frequentes mediadas pela Anfavea. “Fico mais tranquilo ao ver que existe um claro entendimento de como a indústria funciona”, diz o presidente da Volkswagen.
Mesmo que as montadoras retomem a produção ainda no primeiro semestre, o ritmo levará algum tempo para ser retomado.
“A venda não ocorre de forma imediata no mercado e, neste contexto, os altos estoques impactarão na retomada da produção”, diz Milad Kalume, gerente de desenvolvimento da consultoria Jato. “O desemprego e confiança do consumidor impactarão diretamente a retomada das vendas, o cenário não é dos melhores”.
Milad lembra também que a produção brasileira destinada à exportação depende de mercados sulamericanos, que estão sendo igualmente impactos pela crise.