Crescimento de 2011 a 2020 será o mais baixo da história

Crescimento de 2011 a 2020 será o mais baixo da história
Foto: Reprodução

Wednesday, 13 May 2020

Estagnação da economia mantém a renda atual do brasileiro em patamar inferior ao de 2014, período anterior ao da pior recessão da história do país. De acordo com estudo da FGV, crescimento médio anual do Brasil será de 0,9% entre 2011 e 2020.

A recuperação da atividade econômica foi interrompida. Em comunicado público, após a última decisão de manter a taxa Selic no mesmo patamar, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central admitiu que a economia está estagnada. O primeiro semestre do ano é dado como perdido, porque falta confiança para investimento e consumo, de acordo com analistas. De acordo com estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), de 2011 a 2020, o crescimento médio do Brasil será de apenas 0,9%. Se isso se confirmar — e as chances são grandes — será a pior década em 120 anos.

Ao logo desses 10 anos, o país sofreu a maior recessão da história, com o Produto Interno Bruto (PIB) caindo 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. O desemprego disparou, o endividamento das famílias cresceu e o investimento na economia se retraiu. Analistas acreditavam que, após a crise, a retomada começaria a partir de 2017 e ganharia força nos anos seguintes. Mas a previsão não se cumpriu.

O Brasil nunca demorou tanto, como agora, para sair de uma recessão, dizem especialistas. O país cresceu 1,1% em 2017 e em 2018, mas o ritmo caiu neste ano, mesmo com a expectativa positiva do setor produtivo em relação ao governo de Jair Bolsonaro, que sinalizou uma guinada para políticas liberais, de desburocratização e reformas estruturais. A economia deve avançar 0,9% de acordo com previsão dos analistas do mercado financeiro, divulgada no Boletim Focus, do Banco Central (BC).
 
O principal problema econômico do país hoje são as contas públicas, que estão no vermelho desde 2014. “A aprovação da reforma da Previdência é essencial para sinalizar em direção à solução da crise fiscal do país — que suporta uma dívida pública de quase 80% do PIB. Esse ponto é tão importante, porque um ambiente macroeconômico estável e capaz de incentivar os investimentos e a produção só é possível com o equilíbrio das contas públicas”, ressalta o presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Junior.
 
Rombo
 
Todo ano, o governo gasta mais do que arrecada, aumentando a dívida pública. Estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, aponta que o deficit fiscal só deverá ser eliminado em 2023. Ou seja, se a previsão se confirmar, o país terá nove anos de rombo nas contas do governo. De acordo com analistas, a explicação está na expansão dos gastos com aposentadorias e pensões.

Enquanto as despesas do governo federal cresceram quase 30% de 2014 para 2018, passando de R$ 1,05 trilhão para R$ 1,351 trilhão, o custo com o pagamento de benefícios previdenciários avançou 49%. Esses gastos têm consumido a maior parte do orçamento federal, o que, na prática, reduz o espaço para aplicação de recursos em diversas outras áreas, como educação e infraestrutura. Como consequência, há cada vez menos dinheiro para investimentos públicos, o que também contribui para o desaquecimento da economia.

O economista e professor Mauro Rochlin, da FGV, explica que a estagnação recente do PIB está relacionada com a falta de confiança de consumidores e empresários. Para o especialista, até o momento, o governo não conseguiu construir um ambiente de estabilidade fiscal, o que tende a ocorrer caso o Congresso Nacional aprove uma “boa” reforma da Previdência, com impacto significativo na contabilidade pública. “Se a reforma da Previdência for aprovada, o risco de o governo emitir moeda ou dar calote fica afastado. Isso é uma estaca importante”, diz. Ele ressalta, porém, que ainda há um débito do Palácio do Planalto em se empenhar em medidas de maior liberalização do ambiente de negócios.

Economistas afirmam que a reforma da Previdência é fundamental, mas não garante grande taxas de crescimento. O país sofre também com profundos problemas de produtividade, além de ter uma complexa carga tributária e encargos que atrapalham os negócios. Para atrair investimentos, será preciso uma ampla agenda de medidas para simplificar a vida de empresários do setor produtivo.

Rochlin explica que é difícil dizer quanto o país cresceria após a concretização da reforma da Previdência, mas ressaltou que tudo dependerá da força política do governo em implementar as mudanças necessárias. “Aprovada, haverá a possibilidade de que o Banco Central atue com taxas de juros bem menores, obrigando agentes privados a bancar investimentos no setor produtivo em busca de maior rentabilidade”, diz. “É preciso avançar para que as decisões de investimentos voltem a acontecer”, acrescenta.

Pellizzaro Junior afirma que há uma grande capacidade ociosa na economia, com empresários pouco propensos a investir e consumidores segurando os gastos. “Nesse caso, uma situação alimenta a outra. Se o empresário não investe, não há empregos, a renda das famílias fica comprometida e, portanto, o consumidor não compra. Diante desse cenário, a confiança dos agentes permanece baixa e as vendas do varejo mostram resultados bastante inferiores aos patamares registrados em 2014”, compara.

É possível observar a fraqueza da economia nos índices setoriais divulgados pelo IBGE, que ficaram muito aquém do esperado neste ano. A indústria tombou 2,7% de janeiro a abril, em comparação com o mesmo período do ano passado. Na mesma base de comparação, o setor de serviços avançou apenas 0,6%, assim como o comércio. Os dados também contribuíram para diminuir o otimismo em relação à economia. 
 
Mais pobre
 
Tanto é que os analistas do mercado financeiro reduzem as projeções para o crescimento do PIB deste ano há 16 semanas. Neste período, as perspectivas de expansão de 2019 recuaram de 2,48% para 0,93%. Pellizzaro Junior observa que o PIB per capita, que é a divisão de tudo o que é produzido no país pelo total de habitantes, está em nível bastante inferior a 2014, período anterior à recessão, o que mostra que a população está mais pobre.
 
Um estudo da FGV calculou que a “nota média” de felicidade do brasileiro nunca foi tão baixa como atualmente. O índice tem como base dados de renda e bem-estar trabalhista. “A renda real do brasileiro vem se recuperando de forma bastante lenta. Apenas no final de 2017, ela voltou aos patamares anteriores à recessão de 2014. O desemprego, por sua vez, atinge mais de 13 milhões de brasileiros e a ocupação formal vem mostrando resultados modestos, enquanto o número de subutilizados (a parcela da população que trabalha menos do que poderia) tem batido recordes. Ao lado disso, o consumidor vem enfrentando dificuldade para pagar suas contas, e o país soma hoje mais de 60 milhões de inadimplentes”, diz o estudo.

Com tanto enfraquecimento da economia, economistas passaram a prever a queda nos juros para estimular a atividade. No comunicado desta semana, o Banco Central preparou o terreno para criar um ambiente de redução da taxa Selic, atualmente em 6,5% ao ano. A autoridade monetária prevê uma inflação muito abaixo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,25% para este ano e de 4% para 2020. As projeções do BC para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são de 3,9%. Segundo o Copom, o cenário supõe uma trajetória de juros que encerra 2019 em 5,75% ao ano e se eleva a 6,5% ao ano em 2020.

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Redação

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