Fome Cresce no Brasil e atinge 10,3 milhões
Foto: DivulgaçãoFriday, 18 September 2020
A fome voltou a crescer e atingiu 5% da população brasileira de 2017 a meados de 2018.
A crise econômica enfrentada pelo Brasil nos últimos anos prejudicou ainda mais as famílias mais pobres. Depois de mais de uma década em declínio, a fome voltou a crescer e atingiu 10,284 milhões de pessoas de meados de 2017 a meados de 2018 — o correspondente a 5% da população brasileira.
Divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) mostra que a insegurança alimentar grave havia recuado de 8,2% da população em 2004 e para 5,8% em 2009. Em 2013, a proporção havia cedido para 3,6%.
A melhora registrada ao longo de uma década tirou o Brasil do Mapa Mundial da Fome em 2014, segundo relatório global divulgado à época pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O Brasil foi um dos destaques do relatório daquele ano. O indicador da fome volta agora a mostrar piora no país.
Para identificar o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, caracterizada pelo consumo insuficiente de alimentos, inclusive entre as crianças, o IBGE consultou 57.920 domicílios entre junho de 2017 e julho de 2018, período abrangido pelo governo Michel Temer.
O IBGE fez 14 perguntas para as famílias, entre elas se alguém do domicílio “comeu menos do que devia por falta de dinheiro” e “sentiu fome, mas não comeu por falta de dinheiro” nos 90 dias anteriores. As respostas geraram pontuações que determinaram a classificação das famílias na pesquisa.
Os resultados mostram que 36,7% das famílias brasileiras vivam com algum nível de insegurança alimentar, o correspondente a 25,3 milhões de domicílios. Essa insegurança é dividida conforme a severidade: leve (24% do total das famílias), moderada (8,1%) e grave (4,6%).
André Martins, gerente da POF, explica que a insegurança leve inclui famílias que abriram mão de qualidade de alimentos para não comprometer a quantidade consumida, preocupadas com o futuro. Esse grupo passou a representar 24% dos domicílios do país 2017/2018, de 14,8% em 2013.
Outro grau de severidade, a insegurança alimentar moderada inclui famílias que sofrem com a falta de alimentos, mas não passam fome. Segundo o IBGE, 8,1% das famílias estavam nessa situação no período de 2017/2018, frente a 4,6% em 2013.
Já a proporção de famílias em situação de insegurança alimentar grave subiu de 3,2% em 2013 para 4,6% em 2017/2018, atingindo 3,1 milhões de domicílios. Nesses lares faltou alimentos, inclusive entre as crianças, com a fome sendo “uma experiência vivida”, segundo a pesquisa.
O período da pesquisa foi marcado pelo lento processo de recuperação da economia após a recessão de 2014 a 2016, oriunda de equívocos da gestão macroeconômica de anos anteriores. Foram anos de desemprego elevado, perda da renda, aumento de miseráveis no país.
A situação mostrou-se mais grave nas regiões Norte e Nordeste, um padrão que se repete em outros indicadores sociais. Na região Norte, 10,2% dos domicílios pelo menos um morador tinha fome, seguido pelo Nordeste (7,1%). O percentual era menor no Sul (2,2%) e Sudeste (2,9%).
Também era mais grave nas áreas rurais, outro padrão conhecido da fome. Dados da pesquisa mostram que 7,1% dos domicílios tinham situação grave de insegurança alimentar, acima do registrado nas áreas urbanas (4,1%). Regiões rurais costumam ter menores rendimentos.
Há pouco mais de um ano, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a fome no Brasil seria uma “grande mentira”. “Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, afirmou o presidente na ocasião.