C&A estuda vender operação no Brasil

C&A estuda vender operação no Brasil
Foto: Divulgação

Tuesday, 20 October 2020

Após sair de México e China, controlador está aberto a ouvir proposta para Brasil.

A família Brenninkmeijer controladora da varejista de moda C&A, sediada na Holanda, considera vender sua posição na operação brasileira, como parte de um plano de concentrar os negócios na Europa, segundo apuração.

Depois de ter se desfeito neste ano das operações na China e no México, os Brenninkmeijer, com 65% da varejista de moda no país, relataram a fundos estrangeiros de private equity que estariam abertos a analisar uma proposta pelo ativo no Brasil, listado em bolsa desde o fim de 2019.

No mercado financeiro, a venda das operações da C&A no Brasil não seria uma surpresa. Embora até o começo de outubro deste ano não existisse um mandato formal para a venda, a empresa tem prospectado o mercado por meio de contatos feitos pela matriz, testando interesse de fundos e grupos estratégicos, afirma fonte de um banco de investimento.

Uma segunda fonte diz que a perda de valor da empresa em bolsa, após a pandemia da covid-19, acabou desestimulando uma venda parcial em blocos de ações na bolsa ou a venda do controle neste ano. Mas já há uma recuperação no valor de mercado, e o interesse de negociar com fundos permanece.

“Em 2019, antes do IPO [oferta pública inicial de ações] já havia um interesse numa negociação de venda direta a algum investidor estrangeiro, mas isso não avançou na época por causa de preço e optaram pela oferta pública. Mas eles têm deixado claro a disposição em ouvir eventuais propostas. A intenção deles é ficar na Europa e concentrar investimentos em alguns países europeus mais rentáveis, como a Alemanha”, disse a fonte.

A empresa vem tentando buscar soluções para o negócio no país desde 2014, quando passou a considerar a ideia de se desfazer do braço local, foi apurado. Fundos de private equity e companhias concorrentes chegaram a analisar o ativo nos últimos anos, de acordo com pessoas a par do assunto. “O negócio ficou pequeno depois do IPO”, observa uma outra fonte. A C&A é a quarta maior varejista de moda do país, em número de lojas, e a terceira em receita, segundo relatório da Nord Research.

Em fevereiro deste ano a companhia vendeu a operação no México para a rede local de moda Axo. Poucos meses depois, em agosto, também se desfez dos negócios na China, para o fundo Beijing Zhongke Tongrong. Quando anunciou esta operação, Allan Leighton, chairman da C&A AG, ocupando a mais alta posição na rede, mencionou a operação brasileira em comunicado. “Como a C&A no Brasil e no México, sempre vimos a China como um mercado de crescimento chave para a C&A. Mas entendemos que a experiência local com uma rede forte era fundamental para liberar todo o potencial da C&A [na China]”.

A C&A opera em 18 países, a maioria na Europa. Nos mercados emergentes, controlava 100% das unidades no México e na China e, agora, sobrou apenas a participação majoritária no Brasil.

Com o IPO no país, as empresas da família (Cofra Investments e Incas S.A.) reduziram a posição de 100% na varejista para 65% e embolsaram quase R$ 814 milhões por meio da oferta de ações secundária (para o bolso dos sócios). A operação saiu no piso da faixa indicativa de preço da ação (R$ 16,50) e acabou sendo destaque, em parte, por causa da destinação dos recursos. Noventa por cento da oferta primária (recursos para o caixa da empresa) foi para pagar empréstimos de empresas do grupo da C&A e só 10% (cerca de R$ 80 milhões) para o plano de expansão, o que acabou gerando questionamentos de gestores e investidores sobre o real interesse dos atuais controladores em crescer no mercado brasileiro.

A varejista tem 288 lojas no país, com 550 mil metros quadrados de área de vendas e receita líquida neste ano, até junho, de R$ 1,2 bilhão. A líder do mercado, a Renner, tem 60% mais vendas (R$ 1,9 bilhão, excluindo as outras marcas do grupo), com um terço a mais de lojas (387) e quase 700 mil metros quadrados de área.

Desde agosto, o preço da ação na B3 vem mostrando recuperação. E uma valorização, com pagamento de prêmio sobre o preço, abriria terreno para a empresa avançar no plano de saída do país, apesar do cenário de incertezas para o varejo em 2021. O papel chegou a pouco mais de R$ 5 em março, no início da pandemia, e na sexta-feira fechou em R$ 12,80. Uma fonte observou que eventuais novos donos da varejista no país estariam sujeitos ao contrato de licenciamento da marca. E teriam que pagar royalties à matriz (em caso de dar lucro) - despesa que outras redes locais não têm.

A mudança de estratégia nos mercados emergentes acontece às vésperas da chegada de um novo comando global na C&A. Edward Brenninkmeijer, membro da família dos fundadores, deixará o cargo de CEO no final deste ano, informou a rede em agosto. Será sucedido em janeiro pela executiva Giny Boer (ex-Ikea). Segundo o “Financial Times”, Boer terá apoio para tocar um plano de fechamento de lojas deficitárias, focar no on-line e tentar uma virada nos resultados após a pandemia. Assim como outras redes de moda, a C&A foi afetada pela crise, e decidiu cortar custos para reduzir perdas.

Procurada, a C&A diz que, “ não comenta rumores ou especulações de mercado”.


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Redação

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