Produção industrial brasileira caiu 4,5% em 2020

Produção industrial brasileira caiu 4,5% em 2020
Foto: Reprodução

Wednesday, 10 February 2021

Principal influência negativa partiu da indústria automotiva.

A produção industrial brasileira encerrou 2020 com um tombo de 4,5%, apontam os dados divulgados nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este foi o segundo ano de recuo da indústria nacional - em 2019 ela havia recuado 1,1% - e o pior resultado desde 2016.

A queda acumulada no ano ocorreu apesar de a produção industrial ter registrado, em dezembro, o oitavo mês seguido de alta.

De acordo com o IBGE, o recuo na produção foi disseminado em todo o setor industrial do país. Todas as quatro grandes categorias econômicas da indústria tiveram resultados negativos. Mas, foi a produção automotiva que mais impactou no resultado geral.

O resultado para cada uma das quatro categorias da indústria foi:

  • Bens duráveis: -19,8%
  • Bens de capital: -9,8%
  • Bens de consumo: -8.9%
  • Bens intermediários: -1,1%

A queda de bens duráveis foi puxada, segundo o IBGE, pela fabricação de automóveis, que recuou 34,6% no ano. Considerando o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, a queda foi de 28,1%. O gerente da pesquisa apontou que a categoria de bens de capital também tem influência da produção de veículos.

Macedo destacou que o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias acumulou alta de 1.308,1% na produção nos últimos oito meses, eliminando a perda de 92,3% registrada no período de março e abril de 2020. Ainda assim, não foi suficiente para garantir fechar o ano no campo positivo.

O IBGE destacou, ainda, que resultados negativos foram observados em 20 dos 26 ramos, 53 dos 79 grupos e 60,6% dos 805 produtos pesquisados.

Alta pelo segundo trimestre seguido

Considerando a análise trimestral do setor industrial, a produção teve alta pelo segundo trimestre seguido - nos dois primeiros trimestres do ano o setor havia registrado queda.

De acordo com o gerente da pesquisa, André Macedo, o setor fechou o quatro trimestre com alta de 5,1% em relação ao trimestre. No terceiro, a alta havia sido de 22,3%.

Já no segundo trimestre, a produção havia recuado 17,5%, enquanto no primeiro trimestre a queda havia sido de -2,5% em relação ao quatro trimestre de 2019.

Oito meses seguidos de alta

Na passagem de novembro para dezembro, a produção industrial avançou 0,9%, completando oito meses seguidos de alta. Neste período, o setor acumulou ganhos de 41,8%, eliminando completamente a perda acumulada de 27,1% nos meses de março e abril, auge da crise provocada pela pandemia do coronavírus.

Na comparação com dezembro de 2019, a produção industrial apresentou alta de 8,2%.

Com o resultado de dezembro, o patamar de produção ficou 3,4% acima do registrado em fevereiro, mês em que ainda não havia efeitos da pandemia. Todavia, com o fechamento do ano, o patamar de produção ainda ficou 13,2% abaixo do seu nível recorde, alcançado em maio de 2011.

O gerente da pesquisa, André Macedo, ponderou, no entanto, que o atual patamar de produção é o maior desde dezembro de 2017, "mostrando que há dinamismo no setor". Ele lembrou, ainda, que em abril, o setor atingiu seu ponto mais baixo de toda a série histórica, operando quase 39% abaixo do pico de maio de 2011.

Veículos em alta, alimentos em queda

Para o resultado de dezembro frente novembro, o principal destaque partiu do segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, com ganho de 6,5%, exercendo a principal influência positiva.

Outra influência positiva na passagem de novembro para dezembro partiu da metalurgia, com alta de 19% de alta, sexta taxa consecutiva e acumulado de 58,6% no período julho-dezembro. No acumulado do ano, porém, a metalurgia teve queda de 7,2% na comparação com 2019.

Do lado oposto, foi a produção de alimentos que apresentou a principal influência negativa, com queda de 4,4%. Foi o terceiro mês seguido de recuo na indústria alimentícia - havia recuado 3% em novembro e 4% em outubro.

Macedo destacou que grande parte da produção de alimentos é impactada por produtos como açúcar e derivados de soja, que são insumos para outras atividades industriais. Mas, ele apontou que fatores conjunturais podem estar diretamente relacionados à queda da produção de produtos alimentícios nos últimos três meses.

"Lembramos que esse movimento de queda é oposto ao que observamos nos dois meses de maior impacto das medidas de isolamento social. Esse resultado pode ter relação com o aumento de preços, pode ter influência da redução do auxílio emergencial, além de uma série de outras influências", disse o pesquisador.

Também tiveram quedas importante em dezembro a produção de bebidas (-8,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%).

Entre as grandes categorias econômicas, bens de capital e bens de consumo duráveis cresceram 2,4% cada e responderam pelas maiores taxas de dezembro na comparação com o mês anterior. Foi o oitavo mês seguido de expansão na produção das duas categorias, que acumularam alta, respectivamente, de 134,9% e 565,7%.

Já bens intermediários teve alta de 1,6% e registrou crescimento acima da média da indústria. Com isso, reverteu os resultados negativos assinalados em outubro (-0,1%) e novembro (-0,2%).

O IBGE destacou que a única categoria que apresentou recuo em dezembro foi bens de consumo semi e não duráveis, com queda de 0,5% no mês frente a novembro.

Reação depende de renda

Questionado sobre o que é necessário para a indústria reagir em 2021, o gerente da pesquisa do IBGE foi enfático ao apontar a necessidade de recuperação consistente do mercado de trabalho.

Os dados mais recentes divulgados pelo IBGE mostram que o desemprego teve queda no país por dois meses seguidos, mas ainda atinge mais de 14 milhões de brasileiro.

O pesquisador ponderou, também, que o fim do auxílio emergencial pode trazer impacto negativo para a indústria, dado o elevado número de brasileiros que, sem ocupação no mercado de trabalho, estão sem renda para aquecer o consumo.

"Os programa de transferência de renda, de manutenção de emprego e de acesso a crédito estão por trás dessa recuperação [nos últimos oito meses]. Eles alcançaram um contingente importante da população e ajudaram no movimento [de oito meses consecutivos de crescimento da indústria]", avaliou Macedo.


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Redação

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