Incerteza com recuperação da economia global derruba Bolsas
Foto: ReproduçãoThursday, 19 August 2021
Perspectiva de redução dos estímulos nos Estados Unidos, após ata do Fed, e preocupação com cortes na produção de aço na China também mexem com a cotação do minério de ferro e do petróleo
Bolsas de Valores em todo o mundo têm queda nesta quinta-feira, 19, após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sugerir que poderá começar a reduzir suas compras de ativos antes do fim do ano e em meio a preocupações com os efeitos do avanço da variante Delta do coronavírus na economia global.
Na quarta-feira, 18, o Fed revelou em ata de política monetária que discutiu em julho a possibilidade de iniciar o chamado "tapering" - como é conhecido o processo de gradual diminuição de compras de ativos - ainda em 2021.
O apetite por risco também é prejudicado pela rápida disseminação da Delta e de outras variantes do coronavírus pelo mundo. Na ata, o Fed ressaltou que esse fator reforça as incertezas sobre o cenário econômico global. Nesse contexto, os preços do petróleo e do minério de ferro vêm acumulando fortes perdas, derrubando as ações de grandes petrolíferas e mineradoras.
Na Europa, às 10h10 (de Brasília), o índice pan-europeu Stoxx 600 tinha queda de 2,10%. A Bolsa de Londres caía 1,78%, a de Paris recuava 2,51% e a de Frankfurt se desvalorizava 1,87%. No câmbio, o euro se enfraquecia a US$ 1,1685, de US$ 1,1713 no fim da tarde de quarta-feira, enquanto a libra cedia a US$ 1,3676, de US$ 1,3755 na quarta.
Na Ásia, as Bolsas fecharam em baixa. O índice acionário japonês Nikkei caiu 1,10%, enquanto o chinês Xangai Composto recuou 0,57%. O Hang Seng teve queda de 2,13% em Hong Kong, o sul-coreano Kospi se desvalorizou 1,93% em Seul, chegando ao menor nível em quatro meses, e o Taiex registrou expressiva perda de 2,68% em Taiwan.
Temores de que o governo chinês torne ainda mais severa a regulação contra empresas de tecnologia derrubaram hoje as ações de gigantes do setor. Em Hong Kong, o papel do Alibaba despencou 5,54% e o da Tencent sofreu tombo de 3,44%. Exceção nesta quinta, o índice chinês de menor abrangência Shenzhen Composto teve alta de 0,20%, a 2.417,23 pontos.
Na Oceania, a Bolsa australiana seguiu o tom majoritariamente negativo da Ásia, pressionado por mineradoras e petrolíferas. O S&P/ASX 200 caiu 0,50% em Sydney, a 7.464,60 pontos.
Em Nova York, as Bolsas começaram o dia em queda. Às 10h41, o Dow Jones caía 0,46%, o S&P500 recuava 0,49% e o Nasdaq tinha queda de 0,65%. As ações da Amazon iam na contramão do tom geral e subia 0,20% depois de a companhia anunciar que planeja abrir lojas físicas de varejo.
Minério e petróleo em baixa
Após atingir o pico em julho, o minério de ferro iniciou sua trajetória de queda que culminou na maior perda diária nesta quinta-feira, após desabar mais de 13%, a US$ 132,66, menor nível desde 30 de novembro de 2020. Em um mês, a desvalorização acumulada é de 40%, enquanto em todo o ano de 2021, a retração é de 17%.
As perdas acontecem diante da junção das crescentes preocupações sobre cortes mais expressivos na produção de aço na China este ano com a perspectiva de redução do estímulo nos Estados Unido. Essa perspectiva levou os investidores a ajustarem suas posições em relação à demanda, derrubando os preços do minério de ferro, ressalta um analista.
Não só o minério de ferro, mas todas as commodities estão pressionadas pela expectativa de que o "Fed possa em breve começar a reduzir o enorme estímulo que ajudou a elevar os preços no último ano", aponta um gestor, ao mesmo tempo que dados mais fracos nos EUA e na China reforçam a percepção de que a recuperação econômica global está perdendo força.
No entanto, o forte abalo no preço já vem desde quarta-feira, depois que a mineradora BHP alertou para a "probabilidade crescente de cortes severos" na produção de aço da China este ano em meio à tentativa do país de tentar reequilibrar sua produção com campanhas de redução de emissões de carbono, prejudicando a demanda pela matéria-prima usada para produzi-lo. O pessimismo no mercado é liderado pela China, já que o país é o maior produtor de produtos siderúrgicos e consumidor de minério de ferro.
A World Steel Association estima que a produção de aço da China em junho foi de 93,9 toneladas métricas, queda de 5,6% em relação a maio. Em meio a isso, o JPMorgan avalia que as preocupações com a desaceleração da economia chinesa e os cortes na produção de aço geraram uma mudança no sentimento e que os preços da commodity devem se firmar em torno dos níveis atuais a partir do que sempre foram preços insustentáveis acima de US$ 200 a tonelada, atingindo US$ 222 em julho.
A propagação da variante Delta do coronavírus também pesa sobre as perspectivas. "A possibilidade de bloqueios representam ameaças significativas à atividade industrial. A disseminação da variante na América Latina pode prejudicar a produção nas minas, enquanto os bloqueios na China podem desacelerar a produção de aço e pressionar os preços do minério de ferro", disse Sanjeeban Sarkar, especialista em commodities na The Economist Intelligence Unit (EIU).
Os contratos futuros do petróleo atingiram os menores níveis desde maio nesta quinta-feira, com quedas de mais de 3%, à medida que o dólar se fortalece em meio a preocupações de que a recuperação da economia global desacelere. Às 10h20 (de Brasília), o barril do petróleo WTI para outubro caía 2,65% na Nymex, a US$ 63,48. Mais cedo, o barril do tipo Brent para o mesmo mês recuava 3,31% na ICE, a US$ 65,97. No mesmo horário, o índice DXY do dólar - que mede as variações da moeda americana frente a outras seis divisas relevantes - subia 0,23%.