Novembro teve a maior inflação desde 2002

Novembro teve a maior inflação desde 2002
Foto: Imagem meramente ilustrativa

Friday, 26 November 2021

IPCA-15 ficou em 1,17% neste mês, acima da estimativa de analistas. Preço da gasolina puxa alta e inflação beira 11% em um ano.

Puxado pela alta dos combustíveis, a prévia da inflação oficial veio ligeiramente acima do esperado pelos analistas e subiu 1,17% no mês de novembro. É a maior alta para o mês desde 2002.

Com o resultado, o indicador tem alta acumulada de 9,57% no ano e de 10,73% nos últimos 12 meses. É o maior acumulado em 12 meses desde o governo Dilma, quando em fevereiro de 2016 chegou a 10,84%.

Os dados são do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira.

Analistas ouvidos pela Reuters esperavam alta de 1,10% no mês. Em outubro, o IPCA-15 registrou avanço de 1,20%, a maior taxa para aquele mês desde 1995.

Para analistas, o cenário de inflação disseminada e persistente enseja que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aprofunde o ritmo de elevação da taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião, que acontece entre os dias 7 e 8 de dezembro.

A avaliação é de que o Copom deve elevar os juros para conter as expectativas de inflação para perto do teto da meta de 2022, ano eleitoral. Nas últimas semanas, o mercado tem revisado suas projeções para o IPCA neste e no próximo ano.

Para o economista Alberto Ramos, diretor de macroeconomia do Goldman Sachs para a América Latina, o resultado do IPCA-15 divulgado nesta quinta-feira reforça a expectativa de que o Copom eleve a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, chegando a 9,25%.

"Em um cenário de intensas pressões inflacionárias e piora do equilíbrio de riscos, a probabilidade de o Banco Central conseguir levar a inflação para a meta de 3,50% em 2022 está nesta fase muito baixa", destacou Ramos, em relatório.

Essa também é a avaliação de Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais, que espera que o Copom eleve a Selic em 1,5 ponto percentual na próxima reunião.

"A dinâmica dos bens industriais preocupa, tendo em vista as incertezas ligadas ao funcionamento das cadeias globais de produção", escreveu Sichel, em comentário.

Já Andrea Damico, economista-chefe da gestora Armor Capital, avalia que o Banco Central deve elevar a Selic em 2 pontos percentuais em dezembro e também em fevereiro, chegando a 11,75% em fevereiro.

Isso porque o comportamento dos núcleos de inflação, que exclui preços mais voláteis, está próximo dos 10% nos últimos três meses, segundo Damico. Além disso, o IPA industrial, indicador que mensura os preços dos produtos industriais no atacado, voltou a subir, o que deve configurar novas pressões para os próximos meses:

— É um patamar preocupante de inflação. O BC deveria acelerar o ritmo na nossa visão, talvez não para entregar a meta de 2022 porque seria, não impossível, mas difícil. Mas pelo menos brigar pelo teto da meta, que também está em risco — diz Andrea, que prevê o IPCA em 5,6% em 2022.

Gasolina acumula alta de 48% em 12 meses

Todos os nove grupos pesquisados apresentaram alta na passagem de outubro para novembro. O maior impacto veio do grupo Transportes, que subiu 2,89% e obteve impacto de 0,61 ponto percentual na variação mensal entre os grupos analisados.

O resultado foi influenciado pela alta da gasolina, que subiu 6,62% em novembro e teve o maior impacto individual no índice, com alta de 0,40 ponto percentual.

Outro destaque nos transportes foi o item transporte por aplicativo, que subiu 16,23% em novembro, após alta de 11,60% em outubro. Por outro lado, houve redução nos preços das passagens aéreas com queda de 6,34%, após duas altas seguidas em setembro e outubro, de 28,76% e 34,35%, respectivamente.

Gás de botijão sobe pelo 18º mês seguido

O elevado preço do petróleo e o dólar alto têm feito a Petrobras a reajustar os combustíveis, incluindo o gás de botijão. Este subiu 4,34% em novembro, 18º mês seguido de alta. Nesse período, o preço aumentou 51,05% e já é vendido acima de R$ 100, considerando o botijão de 13kg.

A energia elétrica também subiu, embora em ritmo menor (+0,93% em novembro). Está em vigor desde setembro a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos, o que pressiona as tarifas, mesmo com as chuvas recentes. Houve reajustes nas tarifas de energia em Goiânia, Brasília e São Paulo.

Preço da carne cai de novo

Da mesma forma que a energia, o grupo Alimentação e bebidas desacelerou em novembro, com aumento de 0,40% neste mês ante 1,38% em outubro. O recuo se deve às altas menos intensas nos preços do tomate (14,02%), do frango em pedaços (3,07%) e do queijo (2,88%).

O preço das carnes, que ainda acumulam alta de 15,02% de 12 meses, vem caindo. O item registrou queda de 1,15% na passagem de outubro para novembro, seguido do leite longa vida (-3,97%) e das frutas (-1,92%).

A alimentação fora do domicílio subiu 0,15%, com destaque para a aceleração do preço da refeição (de 0,52% em outubro para 0,88% em novembro) e recuo nos preços do lanche, com queda de 1,08%.

O grupo Vestuário subiu 1,59% em novembro, com altas em todos os itens pesquisados. Roupas femininas subiram 2,05%, seguido das masculinas (1,88%), e infantis (1,30%), além dos calçados e acessórios (1,28%). Os demais grupos do IPCA-15 ficaram entre o 0,01% de Educação e o 1,53% de Artigos de residência.

Inflação de dois dígitos em 2021

Com as pressões altistas persistentes impactando o índice de inflação, economistas projetam que o indicador encerre o ano de 2021 em dois dígitos - algo que não ocorre desde 2015, quando chegou a 10,71%.

Se confirmado, o resultado tende a ficar perto do dobro do teto da meta de inflação estipulada para este ano pelo Banco Central. O Banco Central tem como meta 3,75% em 2021, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p) para cima ou para baixo, ou seja de 2,25% a 5,25%.

Na avaliação de Vitor Martello, economista-chefe da Parcita Investimentos, o momento da inflação segue ruim e "prescreve uma resposta à altura do Banco Central".

— Se vai ser suficiente subir 1,5 ou 2 pontos percentuais de alta de Selic só vamos descobrir ou não depois. O momento prescreve altas agressivas, 1,5 ponto percentual já é agressivo. [Porém], não parece que a alta de Selic pode fazer frente aos riscos fiscais e políticos que contaminam as expectativas.


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Redação

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