A 40ª edição da Feirinha da Servidão e os caminhos da humanidade

A 40ª edição da Feirinha da Servidão e os caminhos da humanidade
Foto: Rick Latorre

Monday, 09 April 2018

Toda grande jornada começa com o primeiro passo e todo espaço tão plural é, mesmo que muito sutilmente, a linha de partida para um futuro muito melhor.

Igualdade. As pessoas usam essa palavra a exaustão e, raras vezes, dá-se a devida atenção a ela. Somos todos iguais? Perante a Lei deveríamos ser (mesmo que isso esteja longe de ser uma verdade absoluta). Igualdade de Direitos Práticos? Isso praticamente invalidaria os méritos. Igualdade de oportunidades? Daí, sim. Todos deveriam ter as mesmas chances.

Mas o fato (que pode parecer incômodo, mas não é) é que nenhum de nós é igual. E não é uma questão de etnia, orientação sexual, filosofia de vida ou credo. É tudo. O ácido desoxirribonucléico (DNA) é um composto molecular orgânico que serve como prova cabal de que TODOS somos diferentes. E, ainda assim, irmãos (por vivermos no mesmo mundo).

São quatro raças subdivididas em quase 30 subgrupos só na espécie humana que, por sua vez, desencadeia milhares (talvez milhões) de grupos étnicos. Quando damos um passo para trás e olhamos toda a população da Terra (ao invés de apenas os humanos, autoproclamados ‘senhores das outras’ espécies) são bilhões de formas de vida. Animais e vegetais. Sencientes ou não. Isso se chama diversidade. Pluralidade.

Em um passado não tão distante, as pessoas tentavam ser iguais umas às outras e aceitavam viver rótulos irreais. Hoje elas começam a aceitar suas próprias peculiaridades. Abraçam suas individualidades. E ao invés de viver um padrão eugênico doente, apresentam suas próprias formas alternativas de ser.

E quanto mais as pessoas identificam e respeitam o diferente, mais se engrandecem. Mais aprendem. Mais têm para admirar e acrescentar a si mesmas. Esse acréscimo traz um crescimento interno que, não tarda, externaliza. Então um sem fim de pessoas genética e culturalmente diferentes passam a coexistir em harmonia. Porque primeiro elas tiveram que conhecer a si, depois aos seus similares e só então aceitar um mundo de diferenças abissais.

É nesse momento – nessa transição – que muito do que antes parecia certo, começa a ser colocado em xeque: Será certo se alimentar da morte de outro ser vivo (mesmo não sendo humano)? Não soa errado julgar outros que são simplesmente diferentes de nós? Faz sentido tentarmos impor nossas opiniões quando sabemos que cada um tem sua própria verdade?

É tão difícil assim se colocar no lugar do outro e pensar: “e se fosse comigo”?

Em ocasiões como essa 40ª Feirinha da Servidão nós podemos respirar um pouco mais aliviados. Porque são pessoas de todos os tipos conversando, sorrindo, se conhecendo e aprendendo umas com as outras. Porque é o diferente sendo o novo. E o novo, mesmo quando parece assustador, é a mais importante porta que pode expandir nossas mentes.

Pessoas com iPads (dispositivos altamente industrializados) comprando artesanato, crianças ouvindo  as histórias de idosos, vegetarianos conversando com pessoas cujo trabalho é vender carnes, rodas de capoeira a poucos metros e pistas de dança e músicas de todos os gêneros.

Isso é o futuro. Ou, pelo menos, é o que deveria ser. Um lugar onde as pessoas simplesmente vivem e são elas mesmas sem medo de ser julgadas e inspirando seu próximo com suas próprias essências.

Enquanto isso, o comércio local é apoiado. Não é porque você gostou de experimentar o refresco da Laís que a Coca Cola vai falir. Não é porque seus amigos resolveram comer um X-Tudo na Lanchonete do Mickey que o McDonalds vai fechar suas portas. Não é porque você achou lindas as pantufas da Carla que o Alexandre Grendene Bartelle vai desistir da Netshoes.

Quando você dá uma chance para o comércio local, você está fazendo exatamente aquilo que fez quando assumiu suas próprias particularidades: dando espaço ao alternativo. As pessoas reclamam muito sobre a falta de opções, mas elas mesmas se acostumaram sempre às mesmas coisas. Então, quando alguém tem vontade de comer falafel às 3h da manhã, não vai encontrar. Por que talvez um dia tenha havido a oferta, mas não a demanda.

Cresça o ser humano que existe em você e também permita que a comunidade na qual você está inserido cresça. O tempo das megacorporações já foi. Antes da internet. Antes da globalização da informação. Antes do trabalho colaborativo. Robôs podem trabalhar com precisão, mas artesãos trabalham com amor. E isso faz muita diferença.

Sempre que houver uma Feirinha da Servidão vamos estar lá. Sempre que um artesão quiser mostrar o seu trabalho, vamos querer lhe ceder a divulgação. Porque começa com uma pessoa. Depois um grupo. E, quando você menos perceber, talvez o mundo todo esteja mais colorido.

“Quando a gente muda, o mundo muda com a gente... a gente muda o mundo na mudança da mente e quando a mente muda a gente anda pra frente” já dizia Gabriel, o Pensador, que concluía com: “Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura: na mudança de postura a gente fica mais seguro e na mudança do presente a gente molda o futuro”.

Abaixo, algumas fotos do evento. As veja. Fique à vontade para usá-las (sem nem mesmo ter que pedir) e não esqueça de um famoso grafite que pede: mais amor, por favor (com fotos de Ricardo Latorre e Jaqueline Kröplin).


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Ricardo Latorre

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