Psicodália completa 20 anos com estrutura grandiosa e overdose de cultura
Foto: DivulgaçãoSaturday, 04 March 2017
Edição comemorativa revelou o paradeiro de Wagner e apostou sutilmente na renovação de público, que esgotou os ingressos bem antes do início da festa.
Fazenda Evaristo, Rio Negrinho (SC). Destino certo neste período do ano para quem procura fugir do tradicional samba-enredo do Carnaval brasileiro em um evento alternativo multicultural que a cada ano cresce mais e em 2017 contabilizou quase 7 mil pessoas convivendo em paz e harmonia em um universo paralelo por seis dias ininterruptos.
O festival que se iniciou na Lapa (PR), passou por Antonina (PR), São Martinho (SC) e que desde 2010 se instalou onde atualmente acontece começou na sexta-feira (24/02) da semana passada. Muita gente conseguiu sair mais cedo do trabalho para não perder nem um minuto dos shows, que começaram às 20h com os gaúchos da Dingo Bells.
Muitos ainda chegavam quando Sá & Guarabyra se apresentavam no Palco Lunar e outros ainda se instalavam nos acampamentos quando o Casa das Máquinas subiu ao palco e colocou todo mundo pra cima com clássicos antigos e até uma música inédita. A noite continuou no Palco dos Guerreiros com Cabruêra, Black Papa e finalizou com Pompeu e os Magnatas.
No sábado (25/02), uma das atrações que marcou a festa sequer estava anunciada na programação oficial do evento. Carlos Silva e Bruna Lourenço uniram alianças e se casaram no espaço onde fica o lago. Com música ao vivo, padrinhos, madrinhas, amigos e dezenas de testemunhas, a cerimônia foi linda e faz parte da galeria de fotos que você verá mais abaixo.
Os shows se ampliaran também para o Palco de Dentro, situado na Praça de Alimentação. Foi lá que tocou a Música Orgânica, única banda catarinense escalada para este ano.
Na área principal, destaque para a união de Di Melo com a Trombone de Frutas. A nova geração foi representada por Liniker e depois teve Metá Metá, uma das figurinhas carimbadas do festival. O Palco do Sol, que no fim da tarde teve Cátia de França e de madrugada se transforma no Palco dos Guerreiros, finalizou a noite com Orquestra Friorenta, Charlie & Os Marretas e Vulcanióticos.
Houve relatos de quem há vários anos comparece na festa e esperava mais da escalação geral de bandas, que costumava ter pelo menos um headliner de peso por dia. Neste ano, o sábado deixou a desejar e o festival apostou em algumas atrações de sucesso comercial recente, que não agradou tanto aos mais conservadores.
Porém, domingo (26/02) foi dia de quebrar marcas.
Em 2017 a organização do festival estreou um telão digital fantástico no fundo do Palco Lunar e personalizou cada apresentação de acordo com a performance do artista. Neste dia, o local foi exclusivo para a produção de Ney Matogrosso e o cantor surpreendeu a todos ao passar o som de cara limpa, na frente do público, com as cortinas baixas, durante a tarde. De noite, a Fazenda Evaristo registrou um número recorde de pessoas por metro quadrado, com todos os espaços preenchidos em qualquer canto que fosse próximo do show. As laterais, que até em atrações internacionais costumava ter espaço para a circulação de público, estava completamente tomada. E lá em cima, o ex-integrante dos Secos & Molhados realizou o que dele se esperava e deixou todo mundo perplexo até minutos depois do término da última música.
Na segunda-feira (27/02), atenção quase semelhante para o Tremendão Erasmo Carlos, que não esteve presente na passagem de som, mas deu um show de simpatia e rock ‘n roll com canções novas e outras que marcaram gerações. E que continuam marcando. Depois foi a vez do som pirata da Confraria da Costa e a noite seguiu no palco secundário com Relespública, Centro da Terra e a já tradicional bandinha alemã que faz qualquer blumenauense se sentirem no meio da Oktoberfest em pleno Psicodália.
Terça-feira (28/02) foi o último dia com shows nos palcos grandes e quem não conhecia se surpreendeu com a progressiva e instrumental Recordando O Vale Das Maçãs. A cantora Céu lotou de meninas e de jovens o Palco Lunar na sequencia e depois deu lugar à parceria entre Central Sistema de Som e o ‘James Brown brasileiro’ Gerson King Combo. O Palco dos Guerreiros se encerrou com Muntchako, Kingargoolas e a circense animação da também já tradicional Bandinha Di Dá Dó.
Nesta hora, quem trabalhava no dia seguinte já estava em casa e os campings foram se esvaziando até o amanhecer da quarta-feira (01/03) de cinzas. Ainda havia agendada a apresentação de Plá para o Palco de Dentro às 14h, mas quem conhece o festival sabe que, infelizmente, a data é sempre marcada pela dolorosa despedida.
Ainda em tempo, foi sentida a falta da Ninguém Sabe no acampamento Mutantes. A banda de Itajaí que sonorizava a área das barracas há seis anos consecutivos não esteve presente no evento desta vez. E o lugar deles deveria ser inclusive em cima dos palcos, já que estão com um belo disco lançado há dois anos no mercado. A música improvisada desta vez ficou por conta de integrantes de Scarlett e Casa de Orates, duas bandas que também já se apresentaram na festa.
Muita gente que sempre marca presença no Psicodália nos revelou que não conseguiu comprar ingresso neste ano. Quando conseguiram juntar o dinheiro, eles já estavam esgotados. Lá dentro, escutamos inúmeras conversas paralelas onde o assunto era justamente a primeira vez dos envolvidos no festival. E não haveria problema nenhum nisso se não fossem observados diversos fatos que não combinam com o que a própria festa prega. Houve confusão de valentões no meio de alguns shows, faltou consciência ecológica na hora de jogar o lixo no lixo, por mais que houvessem inúmeras opções por perto. E pela primeira vez, dentre as 20 edições que já aconteceram até agora, conseguiram levar politicagem para o meio do evento com gritos de “Fora Temer” e até de “Volta Dilma”. Chegamos até a escutar vizinhos de barraca comentando que nunca tinham ouvido falar de Casa das Máquinas logo depois do terceiro show deles na história do evento.
No fim das contas, até o clássico grito de “Wagner” perdeu o sentido, já que a Rádio Kombi encontrou a personalidade mais famosa do encontro e o levou para um de seus programas para contar a real história por trás do sumiço do rapaz. Na verdade, o nome do sujeito é Fagner Wagner Fagundes e ele contou que o clamor por seu nome começou em 2010, quando ele se machucou ao pular de cima do palco e ‘desapareceu’ quando foi logo em seguida para a sua barraca. Hoje ele inclusive trabalha com o Biodália, setor do festival responsável por dar um fim consciente para todos os resíduos gerados durante o evento.
Em teoria, não precisamos mais chamar por ele.
Na próxima edição ele estará lá, trabalhando. E possivelmente haverá ainda mais gritos de rasa politicagem com essa natural renovação de público, que parece ser inevitável. Veículos ‘grandes’, que chegam por lá para tomar espaço da imprensa independente só na hora dos shows maiores, passaram a cobrir com exaustão o Psicodália nos últimos três anos. O BLUMENEWS já cobre há cinco e presenciou muitas mudanças neste período, desde a parte estrutural, que hoje beira o impecável, até a escalação dos shows, que pode ajudar a definir seu público para os próximos anos.
Pode se optar pela nova geração de renomados artistas sem tempero, por bandas consideradas parceiras que tocam em quase todos os anos, em grupos autorais de qualidade aqui de Santa Catarina mesmo e, claro, em nomes consagrados que reunem multidões e garantam as manchetes antes, durante e também depois do evento.
No fim das contas, haverá uma mistura de todos esses rótulos e o festival continuará fazendo história no calendário do país com sua maneira única de envolver as pessoas.
Como imprensa ou como público, estaremos lá em 2018.
Acompanhe abaixo um pequeno resumo de alguns shows em vídeo, ainda com qualidade baixa de áudio, e depois confira as fotos registradas por este que vos escreve com a colaboração de Eliza Doré, Roberta Motta, Camila França e Renata Costa no casamento entre Carlos e Bruna.