Fresno toca em Blumenau e leva público à loucura
Foto: Luís Carlos KriewallSaturday, 16 June 2018
Finalmente podendo ser a banda que sempre quis ser, Fresno deixou a roupagem comercial de lado e se assumiu como uma das maiores esperanças de que o Rock Nacional ainda está vivo e tem futuro.
Na noite desta sexta (15/06) a banda Fresno fez um show no convés do Ahoy. Agora com uma sede temática e uma vizinhança muito melhor, a casa lotou para receber à banda.
Desde o ‘Quarto dos Livros’ (2003) até ‘A Sinfonia de Tudo que Há’ (2016) a banda demonstrou uma evolução gigantesca em sua qualidade sonora e representatividade social. Eles, grosso modo, começaram como uma banda de Emocore promissora e se tornaram uma das maiores bandas de Rock Progressivo do país, mostrando que não é só de pancadão e baixaria que vivem nossos músicos.
Lucas Silveira – o vocalista – de seu começo tímido de ‘1 eu sem 1 você’ em 2003 até ‘Diga, parte 2’, gravada em parceria com o Studio62, demonstrou uma evolução extraordinária em sua técnica vocal, ficando certamente entre os 10 mais afinados interpretes do Rock mainstream.
Já a banda – que teve várias alterações em bateria, baixo, teclado e apoio – também demonstrou um amadurecimento enorme, tendo hoje muito mais sinergia do que se imaginava que teria na primeira década do milênio e chegando, até mesmo a revelar um novo talento para a música nacional, o ex-baixista Rodrigo Tavares, que iniciou seu projeto solo Esteban em 2010.
E do ponto de vista audiovisual a evolução foi ainda mais significativa: o clipe, por exemplo, de ‘Quebre as Correntes’ seguia os mesmos moldes dos clipes da época, mas o lançamento de ‘Maior que as Muralhas’, de 2013, mostra paratletas vencendo os desafios e superando suas muralhas pessoas, tornando-se mais do que um clipe: um incentivo àqueles que se sentem impotentes.
As letras das músicas da banda sempre se mantiveram concisas, mas só a partir de ‘Eu Sou a Maré Viva’ que a banda se assumiu enquanto herdeira de uma grandeza que o Rock Nacional não via desde os anos 80, podendo dividir tranquilamente espaço com Charlie Brown Jr e O Rappa.
Quando a banda surgiu, em 1999 no Rio Grande do Sul, a proposta era uma pegada voltada ao Punk sob o nome Democratas, porém influências como as do produtor Rick Bonadio impediram a banda de ser o que ela realmente era e a afastaram de sua pegada densa e intensa com a pretensão comercial de vender tudo que fosse possível com a imagem dos músicos que, naquela época, estavam se vendo conduzidos a focar nas canções românticas.
Ao se livrar de Bonadio o Fresno ‘quebrou as correntes’ no EP oportunamente chamado ‘Infinito’, da época em que deixaram a Universal. E foi daí para frente que o público pôde realmente conhecer o que é a banda Fresno. Sem as capas de revista e os filtros empresariais.
Uma banda com instrumental afiado e letras impactantes – como tão nítido fica na canção ‘Manifesto’ com Lenine e Emicida – fez a tripulação do Ahoy sair do chão e ir à loucura. Um vocalista carismático com um discurso extremamente universal e que sabe qual o momento de falar sério, brincar, fazer música para trazer lágrimas e quase começar uma roda punk.
Não. Hoje Fresno é muito mais do que uma banda, uma cidade, um rio ou uma árvore. É uma esperança de que novas bandas tenham as influências certas e que o Rock Nacional – que entrou em coma com a morte de Cássia Eller, Renato Russo e Cazuza – possa parar de respirar por aparelhos e voltar com nomes tão antigos quanto Frejat, Humberto Gessinger, Herbert Vianna e Nando Reis e tão novos quanto Scalene, Pitty, Acústicos e Valvulados e Far From Alaska.
Esperamos, apenas, que Lucas siga o exemplo da lenda Rita Lee e cuide para que sua saúde seja longeva, porque a música de qualidade nacional já perdeu muito com a partida do Chorão.
E se você ainda não se aventurou pelos mares do Ahoy, está esperando o que? É a melhor embarcação possível.