Brasil busca novos campeões de MMA
Foto: ReproduçãoTuesday, 29 August 2023
Graças ao UFC e outros campeonatos, o MMA se tornou uma opção de sustento para muitos lutadores brasileiros.
Caio Borralho, que se orgulha de ser um "nerd', abandonou os estudos em Química industrial para lutar pelo cinturão de campeão de artes marciais mistas (MMA), esporte com vários nomes brasileiros consagrados.
Borralho, de 30 anos, faz parte da nova geração de lutadores que busca manter o prestígio brasileiro no MMA, após as aposentadorias dos lendários Anderson Silva (2020) e Amanda Nunes (junho).
O Brasil, vital no desenvolvimento do MMA, especialmente na criação de sua principal competição, o Ultimate Fighting Championship (UFC), sentiu a despedida dos ex-campeões, considerados por muitos como os melhores da história.
Os lutadores brasileiros possuem dez recordes e representam 20% dos atletas que estão nos rankings das 13 categorias do UFC. Mas o país tem atualmente apenas um cinturão, o de Alexandre Pantoja, no peso-mosca.
"Está nesse período de renovação. Agora a gente só tem um campeão, isso se deve ao fato de não ter muitos investimentos na base do esporte", explica Borralho em entrevista à AFP.
"Nos outros países eles têm mais apoios desde o início e isso acaba fazendo com que lá na frente isso faça a diferença. O segredo agora é a gente focar na base e daqui a pouco a gente está dominando de novo", acrescenta o lutador.
Nativos do MMA
Junto com outros lutadores, Borralho treina em um ginásio em São Paulo para cumprir uma promessa que tornou pública: conquistar o título do peso médio (84 kg) do UFC.
Embora tenha vencido as quatro lutas que disputou desde que estreou na competição, em abril de 2022, outros brasileiros parecem estar mais próximos de ganhar protagonismo, como os ex-campeões Charles "Do Bronx" Oliveira e Alex Pereira.
"O que falta para virar um grande campeão são horas de voo mesmo, continuar lutando, ficando cada vez mais experiente na luta... Ainda nem cheguei aonde quero chegar", conta Borralho, que nasceu em São Luís do Maranhão.
Depois de começar ainda garoto no judô, aos 19 anos foi para o MMA, esporte que teve um crescimento mundial vertiginoso e que encontrou solo fértil no Brasil, aproveitando a tradição do país nas artes marciais.
O popular jiu-jitsu, surgido há um século no Rio de Janeiro, e o "Vale Tudo", uma violenta luta sem regras, serviram de inspiração para a criação do UFC há três décadas.
"O UFC está no DNA do brasileiro, na nossa história no esporte de combate. Hoje é diferente, antes era um atleta de jiu-jitsu que passava para as artes mistas, agora não. Agora esse pessoal já é nativo do MMA", explica à AFP Eduardo Galetti, vice-presidente do UFC no Brasil.
O Brasil é o segundo país com mais atletas (cerca de 100 entre mais de 600) e o segundo mercado do UFC, atrás dos Estados Unidos, afirma Galetti.
Inspirar sonhos
Graças ao UFC e outros campeonatos, o MMA se tornou uma opção de sustento para muitos lutadores brasileiros, alguns dos quais acabam também se transformando em estrelas.
"Eu quero não ser apenas uma campeã, eu quero ser uma campeã que a minha história impacte a vida de outras pessoas. Eu quero inspirar sonhos", explica a lutadora Natália Silva, de 26 anos, que começou no taekwondo e foi parar no MMA quase por acaso.
Desde sua estreia no octógono, em junho de 2022, Natália venceu as quatro lutas que disputou e já é a 13ª no ranking do peso-mosca do UFC.
"Se Deus quiser, logo, logo o cinturão será nosso", afirma a mineira de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.
As mulheres tiveram um crescimento exponencial na categoria, com Amanda Nunes - sete defesas dos títulos dos pesos galo e pena - como maior referência.
Embora as lutas femininas do UFC tenham sido criadas em 2013, 20 anos depois do início das competições no masculino, elas atualmente estão melhor posicionadas, ao aparecerem em 23 dos 42 postos ocupados por brasileiros nos rankings.
"O brasileiro já nasce com uma vontade muito grande de conquistar, de vencer. As coisas no Brasil não são fáceis para a maioria das pessoas. Então acho que essa dificuldade torna os brasileiros mais raçudos, com mais vontade, com mais garra. E quando isso se junta à técnica, não tem como, eles deslancham mesmo", diz o treinador Carlos Júnior Lopes.