Fundação Tênis faz ponte entre esporte e mercado de trabalho
Foto: DivulgaçãoSunday, 14 January 2018
As atividades são pensadas em um ciclo que envolve inclusão, profissionalização e acesso a oportunidades
Raquel Lima tinha pouco mais de oito anos quando começou a participar das atividades da Fundação Tênis. Conheceu a modalidade e os benefícios da atividade física. Não demorou para que o esporte se tornasse inspiração na sua vida, com a tenista norte-americana Serena Williams se tornando a sua referência. A infância entre brincadeira, jogadas e ensinamentos no projeto educacional foi levada em consideração ao escolher a profissão. Hoje, ela cursa educação física e faz estágio como monitora no projeto que um dia lhe abriu as portas para um mundo novo.
A história de Raquel Lima é uma entre muitas que mostra como o trabalho da Fundação Tênis vem possibilitando mais do que a inclusão, mas a ascensão social de jovens, que ganharam perspectiva de vida e profissional a partir das aulas de tênis, tanto no Rio Grande do Sul quanto em São Paulo.
Além de inspirar jovens a trabalhar com o esporte, a Fundação Tênis desenvolve ações que garantem suporte ao mercado profissional. O esporte é usado como ferramenta para a transformação social na vida das crianças. As atividades são pensadas em um ciclo sustentável que envolve inclusão por meio do esporte, profissionalização e acesso ao mercado de trabalho. “A entidade começa a direcionar os alunos para cursos de capacitação profissional quando eles completam 16 anos”, conta Luis Carlos Enck, coordenador da Fundação em Porto Alegre.
Foi com essa proposta que em dezembro de 2005 foi criado o Programa Pós-Tênis, que encaminha os alunos para cursos profissionalizantes a partir de parcerias com instituições educacionais. Do lado de fora das quadras, a rede de colaboradores, voluntários, parceiros e mantenedores trabalha para que os jovens não deixem de sonhar e sejam capazes de enfrentar diferentes desafios.
“A gente tenta pegar a criança com oito anos e trabalhar com ela o máximo de tempo, pois quando chega aos 16 tentamos incluir ela em um curso profissionalizante. O tênis é só uma ferramenta para isso ser desenvolvido por meio da educação olímpica, com excelência, respeito e amizade. A aula é toda baseada nesses três pilares”, explicou Rafael Homens, professor que coordena dois núcleos em Porto Alegre.
Transformando vidas
Criada em 2001, a Fundação Tênis atende atualmente cerca de 900 alunos em nove núcleos: cinco em Porto Alegre, um em Sapiranga (RS), um em Igrejinha (RS) e dois em São Paulo. Sete deles funcionam com recursos captados por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, do governo federal.
“As crianças chegam sem saber o que é tênis. Não tem problema, porque o foco é o desenvolvimento social, com o foco na educação. Trabalhamos a cooperação entre as crianças, o relacionamento interpessoal e outras atividades por meio de raquete e bola de tênis. Nesses 16 anos, muitos alunos viraram professores de educação física, pois o esporte ficou marcado na vida deles”, completou Luis Carlos, coordenador do projeto.
Metodologia única
Em um ginásio coberto, com duas quadras poliesportivas, cerca de 25 crianças brincam entre raquetes, bolas de tênis e petecas, no núcleo que funciona dentro das instalações centenárias do Instituto Pão dos Pobres, em Porto Alegre, mesmo em período de férias escolares.
Cada aula é pensada e bem elaborada. As atividades são oferecidas duas vezes por semana, com duração de 50 minutos, no turno inverso ao da escola. Cada turma tem até 25 alunos. O programa pedagógico é baseado na educação olímpica e na promoção do desenvolvimento social.
Rafael Homens trabalha há mais de oito anos na fundação. Atualmente, coordena dois núcleos: Fundação Tênis dos Pão dos Pobres e Marinha do Brasil, em Porto Alegre, e adota como pilares a amizade, o respeito e a excelência.
“São ensinamentos que as crianças levam para casa, para a escola e para o futuro trabalho. Exemplo: temos a aula de organização e cooperação, com exercícios que estimulam ações cooperativas entre os colegas. Assim, os alunos maiores criam vínculo com os professores. São parceiros para o futuro, ajudando as crianças menores e sendo exemplos para outros”, revelou.
As atividades são desenvolvidas em quadras poliesportivas divididas em quatro quadras de tênis, com mini redes. Assim, o projeto atende mais crianças do que nas quadras convencionais. No local, as crianças têm acesso às técnicas básicas da modalidade e começam a desenvolver habilidades motoras.
Luciana Andreatta chegou à Fundação Tênis como voluntária, quando estava em contagem regressiva para concluir o curso de educação física na PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Logo que se formou, em dezembro de 2010, aceitou o convite para ser monitora nas unidades no Pão dos Pobres e na PUC-RS. Hoje, é professora na entidade.
“Entrei no projeto sem saber nada de tênis, só com a experiência de trabalhar com crianças carentes. Tudo o que sou como profissional aprendi aqui, porque a fundação não se preocupa só com os alunos, mas com a formação dos professores. Por meio de seminários e formações pude aprender bastante sobre a educação olímpica e desenvolver com as crianças. Fico muito satisfeita em ver que o trabalho tem um impacto grande na vida das crianças”, disse Luciana.
Todos os professores recebem capacitação, por meio de três seminários durante o ano. No período de dedicação ao projeto, Luciana acompanhou a evolução de muitas crianças que chegaram sem expectativa de futuro. “Nesses sete anos de trabalho vejo alunos que começaram com oito anos e estão com 15 anos hoje. É gratificante ver o crescimento deles, pois muitos consideram o projeto como uma segunda casa. Alguns mais jovens chegam a me chamar de mãe. É um vínculo que não sei mensurar. Procuro ser um exemplo na medida do possível”, revelou a professora.
História
A Fundação Tênis foi fundada em 2001 como um projeto nas quadras públicas do Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre, a fim de levar a prática do tênis a jovens carentes e que se transformou em um programa sócioassistencial.
“A fundação foi criada por um grupo de pessoas apaixonadas pelo tênis e que queriam dar oportunidades a crianças em vulnerabilidade social. Crianças que nunca imaginaram jogar tênis. É uma coisa totalmente fora do contexto de vida delas e que possibilita vislumbrar uma vida diferente no futuro. Gostamos de fazer o link nas atividades mostrando que se a criança nunca se imaginou jogando tênis, agora que joga, ela tem condição de sonhar e mudar de vida, abrindo horizontes que nunca passaram na cabeça delas”, finalizou Luis Carlos.