Tudo no UFC 249 foi bem escutado

Tudo no UFC 249 foi bem escutado
Foto: Divulgação

Monday, 11 May 2020

Sejam bem-vindos à nova realidade dos esportes.

Foi a luta do UFC mais ouvida da história. Justin Gaethje conectou 136 socos e chutes. Desses 136, aparentemente todos foram bombas.

Justin Gaethje quebrou um homem inquebrável no UFC 249. Tony Ferguson levou cerca de 20 golpes dignos de knock down e não caiu - nem quando o árbitro Herb Dean interveio aos 3:39 do quinto round depois que Ferguson cambaleou.

O fato de tudo isso ter acontecido na VyStar Veterans Memorial vazia em Jacksonville, Flórida, de alguma forma não prejudicou o momento. Ouvimos todos os golpes sendo conectados. Ouvimos as instruções dos treinadores. Ouvimos os comentaristas de televisão reagindo como fãs, substituindo a análise técnica, porque era tudo que precisava ser dito.

E então Gaethje disse o que tinha a dizer. Depois de ter a sua mão levantada e receber um cinturão interino dos leves do UFC, ele se livrou do cinturão e, quando questionado por Joe Rogan o por que daquela atitude, Gaethje respondeu: "Vou esperar pelo verdadeiro".

Justin Gaethje x Khabib Nurmagomedov pelo "cinturão verdadeiro" será interessante de ver e, potencialmente, ouvir.

O que ouvimos no sábado à noite foi talvez o maior benefício não-intencional das circunstâncias únicas em torno do retorno do UFC.

O UFC 249 foi montado para ser um grande sucesso. Um evento principal com dois assassinos que não andam para trás. Um evento co-principal que marcou o retorno de um dos melhores lutadores de todos os tempos. Um duelo de nocauteadores natos nos pesados. E, claro, um Cowboy.

Mas Dana White e companhia levaram o espetáculo para uma missão ainda mais essencial: voltar ao normal. Afinal, sábado à noite é noite de luta - mesmo que isso não tenha acontecido nos últimos sete sábados, graças à pandemia de coronavírus.

Foi o retorno de algo maior que o UFC. Nos últimos dois meses, os principais esportes nos Estados Unidos foram cancelados. Dana White insistiu o tempo todo que o UFC voltaria antes de mais todos, e cumpriu sua palavra. Mas não foi fácil. O UFC 249 aconteceria originalmente no dia 18 de abril em Nova York, depois teve que ser transferido uma terra de nativos americanos na Califórnia. Depois que isso também não aconteceu, o evento encontrou um lugar em Jacksonville três semanas depois. O UFC teve que desenvolver um protocolo de segurança, incluindo não permitir entrada de fãs, limitar as pessoas envolvidas no evento e testar todos para a Covid-19. Não foi nada fácil, ainda mais com o anúncio do resultado positivo do brasileiro Ronaldo Jacaré na sexta-feira antes do evento.

Quase nada parecia normal. Narrador e comentaristas não estavam em sua mesa de sempre, montada na armação do octógono. Em vez disso, Joe Rogan, Daniel Cormier e Jon Anik estavam sentados separados, embora você não pudesse perceber ouvindo a transmissão. Os lutadores não usavam máscaras, mas os membros do seu corner usavam. A mesma regra se aplicou para os oficiais da comissão atlética e funcionários do UFC, embora os árbitros dentro do octógono não usassem. Fora do octógono, alguns juízes usaram, outros não. Bruce Buffer usou máscara, mas entrou no octógono para anunciar os lutadores sem máscara.

Ainda assim, a presença de Buffer e Rogan dentro do octógono - e da octagon girl Brittney Palmer - deram alguma familiaridade ao evento, mesmo que os 15 mil lugares vazios deixassem o ambiente como o de uma biblioteca.

Nós ouvimos tudo.

Talvez o som mais inesperado da noite tenha acontecido antes do evento principal. O campeão da categoria peso mosca e galo, Henry Cejudo, acabara de nocautear uma lenda, o ex-campeão dos galos, Dominick Cruz. E quando ele ficou ao lado de Rogan para sua entrevista pós-luta, Cejudo tinha um anúncio a fazer.

"Joe, estou feliz com minha carreira", disse o campeão. "Já fiz o suficiente no esporte. Quero ir embora. Quero me divertir. Tenho 33 anos. Desde os 11 anos, sacrifiquei minha vida inteira para chegar onde estou hoje. Não vou deixar ninguém tirar isso de mim. Então, vou me aposentar hoje, Joe. "

Não havia multidão para aplaudir Cejudo quando ele saiu do octógono. Ele nem sempre foi o cara mais celebrado por fãs do UFC, mas depois de se tornar o primeiro homem na história a nocautear Cruz, ele merecia um pouco de barulho, sim. Durante toda a noite, os sons do evento produziram revelações divertidas. Você sabia que um soco no rosto e um soco no corpo têm sons bem diferentes? Você pode fechar os olhos por alguns segundos, ouvir os golpes e imaginar onde eles estão sendo conectados.

Se você fechou os olhos no início da luta entre os pesados ​​Francis Ngannou e Jairzinho Rozenstruik, o que você ouviu foi o som mais assustador de todo o MMA. O nocaute em 20 segundos de Ngannou também foi um espetáculo.

Ouvimos lutadores respirando, às vezes nem com tanta força. Ouvimos treinadores dando instruções e, ocasionalmente, seus lutadores respondendo com um: "Sim, senhor".

Até ouvimos os comentaristas se aventurando como técnicos, embora essa não fosse a intenção deles. Alguns lutadores confessaram que conseguiram ouvir comentários que se mostraram úteis em suas lutas. Entre eles estava Greg Hardy, que em uma entrevista pós-luta atribuiu um ajuste no meio do combate – defender chutes na parte interna da perna – ao que ouviu de uma análise de Cormier.

"Graças a Deus não tinha torcida", disse Hardy, que venceu Yorgan De Castro por decisão unânime. "Um abraço para o DC. Eu o ouvi dizer que eu precisava conseguir defender os chutes, então comecei a tentar fazer isso. Mudança de jogo".

O UFC levará os comentaristas nos eventos de quarta-feira e sábado?

Existem ajustes a serem feitos. E antes que essa série de eventos possa ser considerada um sucesso total, todos os lutadores, membros do corner, árbitros e funcionários do UFC devem voltar para casa seguros e saudáveis, sem espalhar o vírus. Mas o UFC está de volta. Os esportes estão de volta.


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Redação

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