Lutadora transexual causa polêmica
Foto: DivulgaçãoFriday, 12 January 2018
Alguns acham que não deveria lutar contra mulheres, outros acham que não há mais diferenças biológicas relevantes: mas o cerne da questão nem sempre recebe atenção.
O MMA é um dos esportes que mais tem crescido no mundo. Hoje seus eventos – como o Ultimate Fight Championchip (UFC) – trazem tanto lucro e ibope quanto o Boxe na sua Era de Ouro. Portanto, obviamente, seus praticantes são elevados ao nível de grandes astros.
Porém, recentemente uma polêmica surgiu (nessa época onde tudo vira polêmica e todos esperam só pela ‘controvérsia da semana’). Uma lutadora chamada Fallon Fox.
Fox – natural do estado de Ohio, ostenta 65 quilos distribuídos por 1,70 cm aos 42 anos e conta com um admirável cartel de cinco vitórias (sendo duas por nocaute técnico, duas por submissão e uma por nocaute) e apenas uma derrota (por nocaute técnico) nas seis lutas que tem disputados desde que começou sua carreira nos ringues em 2012.
Ela seria apenas um exemplo de força se não fosse um porém: Fallon Fox é transexual.
Nascida Boyd Burton em 29 de setembro de 1975 na cidade de Toledo, ela teve um casamento heterossexual e posteriormente uma filhinha. Serviu a Marinha onde teve treinamento militar e depois trabalhou como caminhoneiro em Chicago: ambos trabalhos que exigem força física. Até que em 2006 pôde ir à Bangcoc fazer a cirurgia que a transformaria em uma mulher.
Logo no começo de sua carreira começou a polêmica sobre se alguém que nasceu um homem – e assim viveu até os 31 anos – deveria lutar com profissionais que biologicamente são mulheres. Muito além de qualquer questão como a identidade de gênero, a constituição física (como densidade óssea e tônus muscular) são diferentes entre ambos os sexos. Principalmente se o tratamento de troca de gênero começou de forma tão tardia (como explicado em artigos como ‘Gynaecological aspects of the treatment and follow-up of transsexual men and women’ e ‘Low bone mass is prevalent in male-to-female transsexual persons before the start of cross-sex hormonal therapy and gonadectomy’).
Personalidades como Joe Rogan foram severas ao dizer que a federação jamais poderia ter emitido licença para que uma transexual pós-operada pudesse lutar com outras mulheres. Outros tentaram citar possíveis problemas com tratamento de hormônios no antidoping, mas qualquer um que lembre a confusão que isso gerou com Vitor Belfort em 2014 vai entender que esse está longe de ser um problema.
A lutadora se defende afirmando que está dentro de todas as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI) para atletas transgênero. E de fato está.
Um assunto que já era espinhoso ganhou proporções enormes quando Fox derrotou a lutadora Tamikka Brents deixando a oponente com uma fratura orbital, uma concussão e sete pontos na cabeça. Em entrevista Brents disse que Fox era mais forte que qualquer mulher que tenha conhecido e isso reacendeu toda a discussão sobre se ela poderia ou não lutar contra mulheres.
A ex-campeão mundial Ronda Rousey, Miesha Tate e o presidente do UFC Dana White foram os primeiros críticos ferrenhos da lutadora. A brasileira Bethe Correia a desafiou via Twitter dizendo: “Desculpa, Fallon Fox, um corpo de uma transexual nunca responderá 100% igual ao de uma mulher! Realidade!” (sic). Paulo Borrachinha, ex-campeão do Jungle Fight e lutador invicto, também a desafiou. Por outro lado, Eric Vilain, diretor do Institute For Society And Genetics da Universidade da Califórnia e um dos responsáveis pelas análises técnicas da Comissão das Associações de Boxe disse que Fox segue todas as regras e pode lutar normalmente.
Enquanto isso, Fox teceu críticas à lutadora brasileira Cris Cyborg dizendo que, ao contrário dela, não usa esteróides, e isso apenas aumentou a animosidade contra a atleta trans.
Infelizmente as discussões que se tem visto pela internet – tanto de seus defensores quanto detratores – têm mantido um nível muito baixo de embasamento. Se por um lado movimentos geralmente ligados à esquerda e a feministas estão fingindo não ver enquanto mulheres são surradas num octógono, por outro, os comentários repreendendo Fox quase sempre tem a ver com a sua intimidade ao invés de abordar a única coisa que importa: o profissionalismo.
O fato é que Fallon Fox é uma mulher. Hoje. Mas cresceu como um homem. Foi um soldado treinado da Marinha e depois caminhoneiro. Isso antes de se tornar mulher. Então a questão está mais para ‘um ex-marinheiro pode lutar contra uma mulher’ do que ‘uma transexual tem direito de lutar na categoria feminina’. E não... NÃO... não tem absolutamente nada a ver com o fato de ela ter sido um homem, mas sim com todo o treinamento recebido enquanto homem e em quanto isso influiu no seu condicionamento. Se Fox é realmente uma lutadora tão hábil (cinco vitórias em seis lutas são um grande exemplo) por que não aceitar derrotar um lutador (homem)?
Na Tailândia há uma transexual chamada Parinya Charoenphol que virou uma lenda do Muay Thai. Ela enfrentou e venceu todos os HOMENS contra os quais lutou. Não quis lutar contra mulheres. E ser derrotado por ela não era encarado como humilhação por nenhum lutador.
Então por que Fox não faz, pelo menos uma vez, a mesma coisa e prova que tem valor inquestionável como lutadora? Ou então por que o comitê não cria uma categoria específica para transgêneros? Nesse admirável mundo novo seria mais honesto. Mas será que as pessoas realmente querem honestidade? Ao que parece não.
Recentemente uma ‘web influencer’ de nome Thiessa, alegadamente transgênero (e realço o ‘alegadamente’ porque há uma corrente enorme de pessoas que afirmam que ela não é) divulgou que fez uma aposta com um amigo na qual beijaria um homem transfóbico sem que ele soubesse sobre ela e depois contaria para ver a reação dele. Ela diz que filmou enquanto ele chorava numa balada depois do ocorrido. Sabe qual é o nome disso? Creio que toda feminista saiba. É estupro. Nos moldes do próprio Feminismo. Afinal, a jovem induziu uma pessoa ao erro para forçá-la a um contato íntimo que, se não estivesse sendo lograda, não iria querer. Isso, inclusive, é crime. E não porque ela é trans, ou homo, ou hétero, ou sis. Mas porque incorre em induzir uma pessoa ao erro para obter vantagem lícita ou não.
As pessoas, obviamente, que lerem esse texto e quiserem xingar vão apenas mostrar que são como o Pabllo Vittar (e, sim, é ‘O’ porque ele não é transexual, apenas homossexual): alguém que espera ser respeitado enquanto não respeita ninguém (vide o comentário pejorativo feito pelo cantor em questão contra a cantora Alcione).
Enquanto isso – senhoras, senhores e senhorxs – peguem suas pipocas e chamem a Sra. Maria da Penha, porque aparentemente ainda vai ter muita mulher apanhando num octógono enquanto idealistas que nunca deram ou tomaram um único soco na vida afirmam que é parte do esporte.