Assassino de Amanda e Suelen vira réu

Assassino de Amanda e Suelen vira réu
Foto: Rick Latorre

Thursday, 07 March 2019

Evanio Prestini vai responder por dois homicídios qualificados, três tentativas e infração de trânsito, o que poderá custar ao bêbado assassino quase 50 anos de prisão.

Suelen Hedler da Silveira (21) e Amanda Grabner Zimmermann (18) nos deixaram na manhã de um sábado, dia 23, vitimadas durante um acidente ocasionado por um bêbado chamado Evanio Wylyan Prestini (31) na BR-470. Vítimas de um canalha irresponsável e do descaso da Polícia Rodoviária Federal.

Na semana que se seguiu, o assunto foi a importância de não deixar que o assassino passasse impune. A opinião pública bateu forte e, por conta disso, Evanio chegou a perder um excelente advogado que o atenderia. Mas a luta estava distante de terminar.

Chegou-se a aventar, na esfera pública, uma criação de CPI para averiguar a péssima conduta da Polícia Rodoviária Federal. O vereador Alexandre Matias (PSDB) encaminhou à Mesa Diretora da Câmara de Vereadores um requerimento com a finalidade de saber quantos policiais estavam de serviço no posto de Blumenau no momento do acidente, qual o protocolo padrão de atendimento para denúncias feitas no 191 e o motivo pelo qual os policiais não retornaram a ligação do denunciante no caso de problema na linha de comunicação. Contudo, as duas últimas perguntas do parlamentar são fundamentais:

  1. A justificativa, em nota da PFR, de que o carro poderia ter entrado em Blumenau ao invés de passar diante do posto da PRF não é um desestímulo às denúncias?
  2. A PRF deixa de fiscalizar denúncias quando suspeita de trote? Essa conduta tem o aval da corporação?

Esse é o momento em que todos – absolutamente todos – os envolvidos devem ser punidos. Desde o assassino ébrio até o policial com má vontade de trabalhar.

No sábado (02/03) amigos e familiares das jovens envolvidas no acidente fizeram uma manifestação. Organizada por Gabriela Zwang e contando com presenças de peso com da especialista em trânsito Márcia Pontes, o movimento foi um elegia às meninas, mas também uma forma de pressionar as autoridades a não deixarem que o assassino fique impune.

“Não foi uma fatalidade... a gente tem que parar de chamar de fatalidade... foi assassinato”, disse Márcia Pontes. De fato. Um homem, deliberadamente bebe e assume o risco de matar pessoas para manter seu vício. Banaliza a vida. Não é fatalidade. Não pode ser tratado como.

Numa época em que as pessoas buscam relativizar tudo, a importância e gravidade das coisas passa a ser menor. Na era do politicamente correto – onde você não pode usar uma máscara de Fábio Assunção no carnaval porque ele sofre de uma doença chamada adicção – outro adicto no volante de um Jaguar e mata duas garotas. Fábio é tão doente quanto Evanio, mas teve sorte (uma vez que não apresenta responsabilidade alguma) de não ter sido ele mesmo a provocar um acidente. E quantos outros Evanios a sociedade vai criar só para ‘passar pano’ para pessoas com as quais as fraquezas se identificam?

Ano passado foi Fernanda. Depois, Mateus. Ontem foi Luciana. Hoje foram Suelen e Amanda. E amanhã? Quem será? Enquanto as pessoas continuarem justificando os erros dos outros, muita gente engrossará essa lista. Enquanto as leis foram brandas ou as autoridades não as aplicarem (o que, nitidamente, foi o caso), essa lista nunca vai parar de crescer.

Sábado dezenas de pessoas de várias idades estiveram na escadaria da catedral para bradar pelas jovens que não podem mais fazê-lo. Assim como outras vezes antes e, infelizmente, outras vezes depois. O mundo muda quando analisamos e mudamos a nós mesmos.

Ontem, a juíza Camila Murara Nicoletti, da Vara Criminal da Comarca de Gaspar, aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público e Evanio virou réu. Ele responde por dois homicídios duplamente qualificados (quando foi planejado) e por mais três tentativas de homicídio: uma por cada uma das moças que sobreviveu à sua imprudência.

O Ministério Público considera que Evanio, bêbado, assumiu o risco de cometer o crime e não deu chance de defesa às vítimas.

Cada pena mínima de homicídio é de 12 anos de cadeia, cada tentativa soma mais oito anos de reclusão e mais uma média de seis meses pelo Crime de Trânsito, dando uma média de 48 anos, aproximadamente.

Se a Justiça for aplicada como deve, o criminoso poderá sair da cadeia aos 79 anos, uma vez que tem 31. Lembrando que 31 anos é a idade que Suelen e Amanda jamais terão só porque um irresponsável viciado resolveu que sua curtição era mais importante que a vida dos outros.


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Ricardo Latorre

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