Quais os grandes perdedores dessa eleição?

Quais os grandes perdedores dessa eleição?
Foto:

Friday, 07 October 2022

Conheça alguns nomes de quem mais perdeu no domingo.

No domingo passado terminou o primeiro turno das Eleições 2022. Blumenau mandou Ivan Naatz (PL) , Napoleão Bernardes (PSD), Egídio Ferrari (PTB) e Marcos da Rosa (União) para Florianópolis. Para Brasília, mandamos Ana Paula Lima (PT) e Ismael dos Santos (PSD). Isso sem contar, claro, o cariosa Jorge Seif (PL).

Essa semana nós publicamos um artigo mostrando os grandes vencedores do pleito, onde detalhamos melhor as conquistas dos nomes supracitados. Porém, essa semana, a questão é ‘quem são os grandes perdedores’.

Ricardo Alba

Depois de usar os movimentos pelo impeachment da ex-presidente Dilma para se alavancar politicamente, ele disputou para ser vereador de Blumenau pelo PP, onde fez 3.277 votos, ficando em oitavo lugar na escolha popular. Seu mandato teve pontos positivos, mas também foi marcado por um enfrentamento pouco inteligente da opinião divergente. Somando prós e contras, ele foi um vereador razoavelmente bom.

Dois anos depois, nas Eleições 2018, ele abraçou corajosamente a ‘onda Bolsonaro’ e se candidatou a deputado estadual. Pelo PL, fez impressionantes 62.762 votos, se tornando o parlamentar mais bem votado do estado. Simplesmente 1.491 votos a mais do que a segunda colocada. Contudo, sua passagem pela Alesc entregou muito menos do que se esperava. Em parte por conta da delicada situação na qual se encontrava – dividido na cisma entre Moisés e Bolsonaro – ele teve um desempenho bastante abaixo do que poderia ter sido.

Contudo, as eleições de 2020 lhe passaram um recado que ele não quis enxergar. Disputando a prefeitura de Blumenau ainda pelo PL, ele fez 17.487 votos. O quarto lugar. Ultrapassado pelo então candidato à reeleição, um ex-prefeito e um promotor que acabara iniciar sua vida pública, Alba fez 9.128 votos a mais do que a quinta colocada, a petista Ana Paula, numa época tão ruim para o PT que seus militantes disfarçavam a emblemática estrela vermelha.

Já esse ano, Ana Paula se elegeu deputada estadual com 148.781 votos, enquanto Alba fez ‘apenas’ 48.904 votos. Quase 100 mil votos de diferença. Mas apenas 2.920 votos a menos do que o deputado eleito com a menor votação.

A forte impressão que fica quando analisamos esse histórico é de que suas votações expressivas nunca foram dele. Ele surge com a popularização dos movimentos políticos de rua de 2016, cresce com a explosão do então candidato a presidente Jair Bolsonaro e começa a decair com o declínio do bolsonarismo em 2020. Entretanto, ao não a agarrar nesta segunda onda bolsonarista, ele simplesmente tomou o pior tombo eleitoral de toda a sua vida.

Possivelmente Alba se candidatará em 2024. Vereador ou prefeito? Ninguém sabe. Mas é quase certo que seja por Blumenau. Agora sem a máquina na mão e não podendo contar com a população engajada nas ruas, ele terá que se reinventar para garantir a sobrevivência de sua vida pública.

Raimundo Colombo

Colombo começou sua jornada política mais conhecida nos anos 80, quando foi deputado estadual. Deixou a Alesc para se tornar prefeito de Lages de 1989 a 1992 e depois de 2001 a 2006. Troca a prefeitura de Lages por uma vaga do Senado nas Eleições 2006 e permanece como senador até 2010.

Sua trajetória – sem a menor sombra de dúvidas – é de muito sucesso. Mas erra quem pensa que esse sucesso foi crescente. Abaixo, alguns números para elucidar pontos desse raciocínio.

Nas eleições de 2011, onde disputou para o Governo do Estado, venceu com impressionantes 1.815.304 votos. Uma marca excepcional. Quatro anos depois, na corrida para a reeleição, vence com 1.763.735 votos. Foram 51 mil votos a menos. Mas, tudo bem até que em 2018 surge o primeiro sinal de alerta: ele perde a eleição para o Senado para Jorginho Mello e Espiridião Amin, ficando sem mandato. Esse alerta já dava a dimensão do que poderia acontecer.

A carreira de Colombo não está sepultada. Nem perto disso. Ao contrário de muitos políticos atuais, ele não precisa se escorar em uma figura populista e carismática para sobreviver. Mas que sua força (politicamente falando) está muito abaixo do que era a força do finado senador Luiz Henrique da Silveira... bem... disso não há a menor sombra de dúvidas.

 Carlos Moisés

Moisés surgiu de lugar algum e foi para ninguém-sabe-onde. Sua trajetória política é basicamente ser ‘um cara muito boa gente que era motorista  de um candidato’. Ninguém o conhecia em 2017, mas ele foi fantasticamente eleito porque seu número era 17.

A verdade é que ninguém esperava que ele fosse realmente ganhar. Nem ele esperava que fosse realmente ganhar. E ganhou. Sua primeira coletiva de impressa foi marcada pelo mais profundo semblante de um homem totalmente perdido. Tal qual um meme, onde ele pensaria: “o que estou realmente fazendo aqui, meu Deus do Céu?”.

Mas veio a pandemia e ele teve boas decisões. Possivelmente a política sanitária mais bem acertada do país. Se não fosse a situação com os respiradores, sua gestão teria sido impecável.

Contudo, a verdade é que foi uma passagem esquecível. Como aquele monte de gente que os livros de História te contam que presidiram o Brasil e você nem tinha ouvido falar, Moisés será um governador que passou por Santa Catarina sem deixar qualquer marca indelével que fosse.

Seu futuro político é uma incógnita. Possivelmente até para ele.

Ciro Gomes

O eterno presidenciável, Ciro Gomes surgiu falando grosso. Agressivo e reacionário, ia pra cima de desafetos, jornalistas e militantes. Certamente o maior exemplo de um ‘coronel’ nordestino no Século XXI, muitas pessoas foram atraídas por seu jeito autoritário e impositivo.

Sua família – os Ferreira Gomes – tem em Domingos Ferreira Gomes Bernardino Ferreira Gomes alguns de seus fundadores. Surgiram em Leiria (Portugal) e foram (literalmente) os fundadores do Ceará. Em 1890 Vicente Cesar Ferreira Gomes se torna o primeiro prefeito de Sobral. É assim que a família de Ciro se torna praticamente dona do feudo cearense.

 Entendendo que o mundo atual não vê suas bravatas com bons olhos, Ciro tentou se travestir de pessoa moderada, mas ainda sem saber lidar com uma internet capaz de desmentir todas as suas incoerências, foi perdendo tração gradativamente. Também não parece disposto a entender que a época na qual vivemos já não é tão simpática ao discurso getulista que tanto beneficiou a sua família no século passado. Ciro é produto de outro tempo que resiste à mudança.

Nessa eleição viu-se sendo covardemente atacado por Lula, que tentava roubar descaradamente os seus eleitores. Reagiu, mas nunca pareceu confortável para reagir, de fato. Como se sentisse medo. Um misto de medo, respeito e mágoa. E a mágoa dá para entender.

Nos anos 90 houve um projeto suprapartidário de poder que realmente envolveu lideranças de Esquerda (e Centro-Esquerda) no Brasil. Financiados por Cuba e União Soviética, essas lideranças se encontraram para debater os próximos passos que possibilitassem o sucesso de seus planos. Lula e até Fernando Henrique Cardoso estavam lá. Dizem que, naquela época, Lula fez uma promessa a Ciro: “quando eu chegar à Presidência, fico quatro anos e apoio você”. Mas, da mesma forma com a qual FHC traiu a confiança de Lula, o mesmo Lula o fez com Ciro, indicando Dilma. E de lá para cá a mágoa só cresceu.

Nesse pleito, os eleitores mais moderado de Ciro foram para Simone e os mais radicais obedeceram a Lula. Isso deu o maior desgaste que a carreira do cearense já viu. E na vida pessoal, Ciro rompeu com irmãos, envenenados por Lula. Talvez seja a pior fase do pedetista.

A verdade é que Luís Inácio ‘Lula’ da Silva conseguiu destruir totalmente Ciro Gomes. E a prova disso é que, mesmo derrotado e humilhado, Ciro está o apoiando. É realmente triste.

A terceira via

A terceira via ruiu. Era uma aposta forte que não parecia ressoar tão bem com o discurso de Moro. Com o afastamento do deputado Arthur do Val (MamãeFale) da Alesp, o discurso perdeu ainda mais força. Moro rompeu com Álvaro Dias, desonrou o que estava acordado, e prejudicou a si mesmo trocando de cargo eletivo e até de domicílio eleitoral.

A campanha pedindo que as pessoas anulassem fracassou. Bolsonaristas e lulistas serão maioria no Congresso no ano que vem. O país realmente está rachado. O Movimento Brasil Livre (MBL) – que fez uma belíssima campanha para seus membros-candidatos – conseguiu eleger apenas Guto Zacarias e reeleger o deputado estadual Kim Kataguiri.

Sérgio Moro – que pouco tempo atrás fez as mais graves acusações contra o presidente Jair Bolsonaro – agora pede voto a ele, num vergonhoso ato de vassalagem de um homem que já foi um herói.

Enquanto isso, partidos que surgiram como promessas de uma nova Política, se vêem desidratar ou se perder em seus próprios valores. Políticos traem pautas alinhadas à moralidade pública enquanto siglas inteiras definham enquanto, no Titanic, os músicos se negam a olhar para o naufrágio. Esse é o caso, por exemplo, do Partido Novo, que sequer atingiu a cláusula de barreira, ficando limitado em coisas que vão desde o uso do Fundo Eleitoral (que ele rejeita, ato louvável) até diminuição no tempo de TV.

É uma sociedade que era míope, mas está, a passou largos, rumando para a cegueira total.

Pesquisas eleitorais

Certamente o maior derrotado desse ano, as pesquisas fracassaram completamente. Na verdade. Elas fracassam já faz muito tempo. Quem não lembra de 2012, quando dizia-se que Ana Paula Lima se elegeria prefeita de Blumenau no primeiro turno? E ela sequer entrou para o segundo. Em 2017, todas as pesquisas davam derrota certa a Bolsonaro em qualquer cenário. Ainda em 2017, Moisés mal dava traço para o governo que venceu.

As pesquisas são manipuladas? É possível, mas improvável. A verdade é que sua metodologia é arcaica. Usam telefones fixos, tocam campainhas (ignorando o filtro dos porteiros, em prédios) e abordam pessoas nas ruas em um país com uma violência urbana que torna todos desconfiados.

Isso, claro, sem citar as plataformas. O veículo de comunicação pode, ser quiser, dar mais destaque àquela com a qual concorde mais. Ah... a Globo é comunista! Não é. A Globo – como todas as outras – é uma empresa que visa lucro. Uma empresa, não uma pessoa. Uma empresa não tem predileção, sentimentos ou opiniões. Mas quem está por traz dela, tem. Diretores, jornalistas, comunicadores, artistas, publicitários, músicos... pessoas que vivem numa bolha muito específica. Basta olhar as sabatinas do Jornal Nacional. Cotas, Amazônia, Pegada de Carbono, Demarcação de Território Indígena... essas não são as prioridade do cidadão comum que precisa pagar contas, botar o filho na escola, procurar médico público e evitar ser assaltado. Essas são pautas de pessoas que vivem em seus condomínios fechados com seus seguranças e carros blindados. É descolado da realidade. O ‘brasileiro’ não é um bicho no zoológico para o intelectual explicar para os franceses. O brasileiro sou eu. É você.

Essas pessoas forçaram tanto a barra com suas tentativas quase sutis de manipulação e suas pautas identitaristas que conseguiram fazer senadores criarem o projeto para CENSURAR pesquisas e boa parte do público aplaudir. São quem prega a tampa do próprio caixão.

Conclusão

Mesmo que não derrotado, mas o grande prejudicado de toda essa situação: somos nós.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE