Lula é o novo presidente do Brasil
Foto: DivulgaçãoMonday, 31 October 2022
Pela primeira um candidato à reeleição não consegue êxito, caso de Bolsonaro.
Neste domingo (30/10) ocorreram as eleições do segundo turno da disputa presidencial do Brasil. E Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva (PT) venceu em disputa extremamente apertada.
O momento foi duplamente histórico porque coroou a primeira vez na qual um homem conquista o terceiro mandato presidencial (no caso de Lula), mas também marca o caso inédito de presidente que não conseguiu se reeleger (no caso de Bolsonaro).
A bolsa brasileira não reagiu muito bem, caindo 4% na segunda-feira. A Petrobras, que afundou 8%, idem. Lula ainda não esboçou nenhuma apresentação de colegiado e Bolsonaro, por sua vez, ainda não reconheceu a derrota. Esse fato, isoladamente, levanta certa preocupação.
Há episódios isolados de baderna causada por lulistas em grandes cidades e centenas de caminhoneiros bolsonaristas fecharam estradas em protesto ao resultado das eleições. Ainda dentro das primeiras 24 horas. O clima nas redes sociais se tornou um pouco mais hostil. A todos.
Os números
Lula entra com baixíssima popularidade em seu terceiro mandato.
Em 2002 – exatos 20 anos atrás, quando disputou contra o tucano José Serra e conquistou a presidência pela primeira vez – ele conquistou 61% dos votos... 52,7 milhões de pessoas.
Em 2006 – sua reeleição – ele voltou a vencer, obtendo 60,8% dos votos válidos contra Geraldo Alckmin (PSDB). Um total de 58,2 milhões de votos. Lembrando, claro, que o número de eleitores cresce exponencialmente e ano em ano, devendo-se focar apenas nos percentuais.
Já agora, em 2022, Lula obteve sua terceira vitória com 60,3 milhões de votos. Foram ‘apenas’ 50,9%. Menos de 2% de diferença de Jair Bolsonaro (PL).
Em uma primeira análise essas cifras podem parecer dizer pouco, mas basta lembrar que a última vitória de Dilma Rousseff (PT) – com 51,6% contra 48,3% de Aécio Neves (PSDB), numa margem de distância de apenas 3% - culminou nos maiores protestos políticos da história do país, bem como na ruptura ideológica institucional gradativa. E agora a diferença é ainda menor.
Lula entra como um presidente impopular, mas Bolsonaro sai como um mau perdedor... algo que depõe contra o carisma que a imagem de um líder de oposição exigiria.
Verdades incômodas
Lula foi preso. Ponto final. Não existe revisionismo histórico canalha algum que mude o fato. Pode-se esconder, mas jamais alterar. E ele jamais foi absolvido. Cometeu crimes que nunca assumiu e pelos quais nunca se desculpou. Doendo ou não, a verdade é apenas essa.
Bolsonaro desonrou a maioria de suas promessas de campanha. Em 2018, disse que o PT só voltaria se ele errasse. Essa, ironicamente, pode ser considerada um de seus únicos compromissos de campanha cumpridos. Assim como, dois anos atrás, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o dólar apenas chegaria a R$ 5 se ele fizesse ‘muita besteira’. Hoje o dólar fechou em R$ 5,21.
Daqui para frente
Em um primeiro momento, muito pouco parece mudar. As maiores alterações, certamente, serão nos campos mais ideológicos. E isso merece muita atenção, pois é o berçário dos conflitos.
Desde 2014 as chamas de movimentos separatistas voltaram a arte. No sul e também no norte. O que tem ficado visivelmente flagrante é que as diferenças culturais e regionais em nossa nação continental são praticamente inconciliáveis. Fica a cada dia menos improvável que surja alguém capaz de representar pessoas com demandas diametralmente tão antagônicas.
E, por favor, não há certo ou errado nessa história, apenas divergências naturais que não podem mais ser ignoradas. A Constituição demoniza até que se debata a separação, mas a pergunta que cada vez mais pessoas têm feito é: por que não pode? A quem interessa proibir?
Por outro lado, uma vitória petista em 2022 naufraga toda a tese liberal que nasceu em 2014 na política tupiniquim. Ora, se o impeachment não foi golpe e o PT – partido da presidente deposta – era um câncer na vida pública, por que retornou triunfante em 2022 na imagem de seu líder supremo? Se realmente foi tão ruim, por que – tal qual uma Fênix – renasceu?
Essas não são perguntas fáceis – e nem mesmo agradáveis – mas precisam ser respondidas. Pelo bem do país.
Nossa posição
Desde o começo do ano – e indo na contramão das pesquisas – achávamos que Bolsonaro viraria e venceria. Não víamos isso com satisfação e nem com tristeza... apenas víamos. Até que, no sábado (29/10) a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL) fez a coisa mais imbecil que poderia ter feito: apontou uma arma de fogo para um lulista em local público, vestindo uma camiseta política e na véspera da votação. Ali publicamos: “Zambelli derrotou seu próprio mito”. No dia seguinte, por baixíssima diferença, provou-se o que de fato ocorreu.
Votação por estado